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[Opinião] Atos Humanos - Han Kang

                                     



Título: Atos Humanos

Série: -

Autor: Han Kang

Data de Leitura: 24/10/2025 ⮞ 14/11/2025

Classificação: 


Sinopse

Comovente e traumático, este romance confirma Han Kang como uma enorme escritora.Em 1980, por toda a Coreia do Sul, os estudantes revoltaram-se contra o fecho de universidades e a falta de liberdade de expressão. Porém, na região de Gwangju, a repressão foi tão violenta que a população acabou por se juntar ao protesto, dando origem a um dos piores massacres na história do país. Os mortos e desaparecidos ainda estão, de resto, por contabilizar.Como lidar com a morte de alguém quando o seu corpo não aparece? Esta é a história de Dong-ho, um rapaz que não resistiu a seguir o melhor amigo até à manifestação, mas, quando ouviu os tiros, largou-lhe a mão, procurando-o agora entre os cadáveres de uma morgue improvisada. E é também a história dos que cruzaram o caminho de Dong-ho antes e depois dessa noite infame – os que caíram por terra desarmados e os que foram levados para a prisão e torturados; os que sobreviveram ao terror mas nunca mais conseguiram falar do assunto e os que, tantos anos passados, sabem, tal como Han Kang, que a história pode repetir-se a qualquer momento e que é preciso lembrar os atos brutais de que os humanos são capazes.Este é um romance universal e moderno sobre a batalha que os fracos travam contra os fortes na luta pela justiça.


Minha review no GoodReads




Han Kang – Prémio Nobel da Literatura, 2024

"pela sua intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana"



First things first! Atos Humanos é uma ficção histórica sobre um evento que eu nem sequer conhecia. Lembro-me de tantas notícias sobre acontecimentos ao redor do mundo durante aquele período, mas não tenho qualquer lembrança sobre a Coreia do Sul. 


Tive de pesquisar para compreender o contexto histórico. TL;DR


Em 1980, a Coreia do Sul vivia sob uma sucessão de regimes autoritários. Após o assassínio do ditador Park Chung-hee em 1979, o general Chun Doo-hwan tomou o poder através de um golpe militar. O país estava sob forte repressão política, com direitos civis suspensos, censura rígida e um ambiente de vigilância constante.


A 18 de Maio de 1980, estudantes da Universidade de Chonnam, em Gwangju, organizaram uma manifestação pacífica contra a imposição da lei marcial e pela democratização. A resposta do governo foi violenta e imediata.


A brutalidade da repressão — espancamentos, detenções arbitrárias e uso de munição real — levou os habitantes de Gwangju a juntarem-se aos estudantes. Em poucos dias, a cidade inteira estava mobilizada e, entre 18 e 27 de Maio, ficou praticamente isolada do resto do país.


Na madrugada de 27 de Maio, o exército lançou um ataque massivo para retomar a cidade.

O número exacto de mortos ainda hoje é motivo de debate, mas estima-se que tenham morrido entre 200 e 600 pessoas — algumas fontes falam em mais de mil.


Durante anos, o governo militar encobriu os factos e só na década de 1990, após a democratização do país, o episódio foi oficialmente reconhecido como um movimento popular pela democracia.


A Revolta de Gwangju é vista actualmente como o ponto de viragem que abriu caminho à democracia sul-coreana. Tornou-se um símbolo nacional de resistência e dignidade — e um trauma colectivo profundo.


Atos Humanos é um romance devastador sobre o Massacre de Gwangju. Acompanhamos a morte de um jovem, Dong-ho, e depois os testemunhos de várias pessoas ligadas à revolta: o melhor amigo do rapaz, uma editora censurada e torturada, um prisioneiro brutalizado, uma activista marcada pelos traumas e a mãe que tenta compreender a perda do filho. A autora inclui ainda a sua própria perspectiva de criança que cresceu sob a sombra desses acontecimentos.


Através das suas palavras, Han Kang mostra a crueldade extrema do regime militar e as consequências psicológicas irreparáveis deixadas nos sobreviventes. Revela tanto o contexto político como a dor íntima das vítimas, combinando lirismo com brutalidade.


É um romance que contrapõe vida e morte, inocência e violência, passado e presente. Uma história que dilacera e assombra.