Translate

Pesquisar neste blogue

[Opinião] O Arquipélago - Volume II - Erico Verissimo

       



       

Título: O Arquipélago

Série: O tempo e o vento #6

Autor: Erico Verissimo

Data de Leitura: 03/09/2020 ⮞ 06/09/2020

Classificação: 


Sinopse

Neste segundo volume de O Arquipélago, os conflitos delineados no primeiro se adensam. A revolução de 23 chega ao fim e ao Rio Grande do Sul é pacificado, mas por pouco tempo. As novas contradições do Brasil chegam à família Terra Cambará: guarnições militares das Missões se rebelam e Toríbio, o irmão mais velho de Rodrigo, une-se a elas na formação de uma coluna revolucionária que tem um "ilustre desconhecido" à frente, um certo capitão Luiz Carlos Prestes. No plano da memória, em 1945, o escritor Floriano Cambará se deixa tomar por sua paixão pela cunhada, desenhando um conflito ameaçador na já precária paz familiar.


Minha review no GoodReads


Penúltimo livro da saga O Tempo e o Vento. O fim aproxima-se.

(...) amadurecer é aceitar sem alarme nem desespero essas contradições, essas... essas condições de discórdia que nascem do mero fato de estarmos vivos. Não escolhemos o corpo que temos (olha só o meu...) nem a hora e o lugar ou a sociedade em que nascemos... nem os nossos pais. Essas coisas todas nos foram impingidas, digamos assim, de maneira irreversível. O homem verdadeiramente maduro procura vê-las com lucidez e aceitar a responsabilidade de sua própria existência dentro dessas condições temporais, espaciais, sociológicas, psicológicas e biológicas. Que tal? Muito confuso?

[Opinião] São Jorge dos Ilhéus - Jorge Amado

       




Título: São Jorge dos Ilhéus

Série: -

Autor: Jorge Amado

Data de Leitura: 07/08/2022 ⮞ 03/09/2022

Classificação: 


Sinopse

Jorge Amado considerava São Jorge dos Ilhéus (publicado em 1944) uma continuação natural de seu romance anterior, Terras do sem-fim (1942). Se este, ambientado no campo, narra a saga dos pioneiros e as guerras sangrentas pela posse da terra, aquele, tendo Ilhéus como cenário principal, fala do momento em que, pacificada, a região colhe os frutos da exportação de cacau e se moderniza. Nesse contexto, em que os confrontos de jagunços foram substituídos pelo jogo na bolsa de valores e pelas intrigas políticas, pululam os personagens mais dí prostitutas, jogadores, exportadores estrangeiros, militantes comunistas, filhos de coronéis transformados em bacharéis ociosos, poetas de fim de semana, artistas de cabaré. Durante uma alta de preços forçada astuciosamente pelos exportadores, com o intuito de ludibriar os velhos coronéis e açambarcar suas terras, a cidade de Ilhéus vive uma breve idade do ouro, com uma vida noturna vibrante, e recebe aventureiros de todos os pontos do país e até do exterior. Jorge Amado entrelaça os destinos de uma dúzia de personagens das mais variadas extrações, narrando de modo envolvente seus dramas e suas comédias, seus sonhos, traições, vinganças. Este e-book não contém as imagens presentes na edição impressa.



Minha review no GoodReads


3º Volume do ciclo do cacau


São Jorge de Ilhéus é a continuação de Terras do sem fim.

Enquanto no primeiro Jorge Amado mostrou-nos uma luta sangrenta pela posse das terras, neste a luta é essencialmente comercial.


Há personagens que regressam - o Capitão João Magalhães, Don'Ana Badaró, Munda e Antônio Vítor - e somos apresentados a novos personagens, os seus descendentes, Dr. Rui Dantas, Silveirinha e Joaquim, entre outros.


Após terminarem os conflitos pela posse das terras de Sequeiro Grande assistimos aos tempos áureos das plantações de cacau, ao aumento dos preços no mercado internacional e à circulação das riquezas pelas terras de Ilhéus, Itabuna etc.


Os coronéis, cheios de dinheiro, endividam-se para sustentar as amantes, o jogo e os vícios e acabam nas mãos das empresas exportadoras que na baixa do preço do cacau lhes ficam com as terras.

As personagens femininas são fortes, marcadas pela resistência e pelo sofrimento.


É um livro que me envolveu devagarinho e que às páginas tantas não o queria por de parte nem acabar de lê-lo.



Maneca Dantas andava desanimado. Disse:

— A gente passou a vida toda na roça, derrubou mata, brigou, matou gente, derramou sangue de cristão…

Sérgio ouvia interessado. Maneca Dantas fitava as luzes de Ilhéus:

— Plantamos cacau, fizemos roça, a gente nunca se divertiu, a gente fazia tudo era mesmo pros filhos. E veja o senhor, seu Sérgio, os filhos da gente não deram pra nada, a não ser para beber cachaça e andar com rapariga… — Lembrava-se de Rui. — Ou pra coisas piores… Pra isso não valia a pena a gente ter trabalhado tanto…

Calou, o poeta não disse nada. Maneca Dantas voltou a falar:

— E agora ainda tomam as terras da gente, deixam a gente na pobreza… Tou velho, seu Sérgio, de que valeu trabalhar tanto, matar gente, passar cinquenta anos enterrado na mata? Pra ganhar o quê? Pra terminar pobre…

Então o poeta apontou as luzes da cidade lá embaixo:

— Pra fazer isso, coronel! Valeu a pena. Os senhores fizeram tudo que está aí… Pensa que é pouco?

Maneca Dantas concordava, sem entusiasmo nem alegria:

— Só que não é mais da gente…

Quando, na outra noite, Sérgio voltou a visitar Joaquim, contou ao militante a conversa que tivera com Maneca Dantas. Joaquim se levantou da cadeira e disse:

— Companheiro Sérgio, o tempo deles passou… Agora começou o tempo dos exportadores, que é o tempo do imperialismo. Mas também esse tempo vai passar. Primeiro, eles vão brigar entre eles mesmos.

Sérgio noticiou:

— Karbanks e Schwartz já estão em luta. Os integralistas combatendo Carlos Zude…

— Está vendo? De um lado os alemães, do outro os americanos. O tempo deles também vai acabar, vai começar o nosso tempo, companheiro Sérgio…

Saíram, andavam para os lados do cemitério. Lá embaixo eram as luzes da cidade. O poeta Sérgio Moura via o dragão sobre Ilhéus, de garras estendidas, cem bocas famintas. E pensava que, se na véspera havia conversado com o passado, agora estava conversando com o futuro. Joaquim falava com convicção, a voz profunda que parecia chegar do coração pleno de fé:

— Primeiro a terra foi dos fazendeiros que conquistaram ela, depois mudou de dono, caiu na mão dos exportadores que vão explorar ela. Mas um dia, companheiro, a terra não vai ter mais dono…

Sua voz subia para as estrelas, cobria as luzes da cidade:

— …nem mais escravos…

[Opinião] Mal Me Quer - M.J. Arlidge

                


      

Título: Mal Me Quer

Série: Helen Grace #7

Autor: M.J. Arlidge

Data de Leitura: 03/02/2025 ⮞ 16/02/2025

Classificação: 


Sinopse

Para a inspetora Helen Grace, este dia vai tornar-se uma corrida contra o tempo. Quem vive? Quem morre? Quem será o próximo? O relógio não para... MAL ME QUER O corpo sem vida de uma mulher é encontrado no meio da estrada. À primeira vista parece tratar-se de um acidente trágico, mas quando a inspetora Helen Grace chega ao local do crime, torna-se claro para ela que a mulher foi vítima de um assassínio a sangue-frio sem razão aparente. BEM ME QUER Duas horas depois, do outro lado da cidade, um empregado de loja é morto, enquanto os seus clientes escapam ilesos. MAL ME QUER Ao longo do dia, a cidade de Southampton viverá um clima de terror às mãos de dois jovens assassinos, que parecem matar ao calhas. BEM ME QUER Para a inspetora Helen Grace, este dia vai tornar-se uma corrida contra o tempo. Quem vive? Quem morre? Quem será o próximo? O relógio não para… Se Helen não conseguir resolver este quebra-cabeças mortal, mais sangue será derramado. E, se cometer algum erro, poderá muito bem ser o dela…



Minha review no GoodReads

O mais fraco até agora!

[Opinião] No Tempo das Cerejas - Célia Correia Loureiro

                       


Título: No Tempo das Cerejas

Série: -

Autor: Célia Correia Loureiro

Data de Leitura: 08/02/2025 ⮞ 16/02/2025

Classificação: 


Sinopse

Um romance histórico profundo e apaixonante sobre a complexidade das relações humanas, que consolida Célia Correia Loureiro como uma voz surpreendente da nova geração.

Em 1947, Serafim Almeida - repórter em Londres e aspirante a novelista - regressa à Lisboa do pós-guerra e encontra uma metrópole vibrante. É então que recebe um convite inusitado de Irene Silva Vaz, uma cantadeira de fado com uma vida peculiar.

A curiosidade leva-o a percorrer Lisboa na companhia da fadista, enquanto esta procura expiar os seus fantasmas junto do velho repórter, pedindo-lhe que transforme as suas confissões num livro. Ao longo desse verão, Serafim ver-se-á enredado na sua teia intrincada de relatos de infância, de amores e ódios, de segredos familiares e, acima de tudo, da amizade tortuosa que Irene manteve com Helena Sousa - a costureira que parece assombrar todas as histórias da cantadeira.


Minha review no GoodReads


Desde há muito que Célia Correia Loureiro aparece na minha timeline aqui do GoodReads com classificações excelentes e recensões que a colocam como uma das grandes vozes desta nova geração de autoras portuguesas.


Optei por iniciar com este No Tempo das Cerejas – não contabilizo o conto A Lucidez que li em 2022 – por ser o mais recente e se passar nas ruas, vielas e becos de Lisboa, sempre com o fado como banda sonora.


Mas, entre uma Severa e uma Amália, saiu-nos na rifa uma cantadeira: Irene Silva Vaz. É como num cesto de cerejas, há sempre umas com bicho.


Irene decide contar a sua trágica história a um jornalista, Serafim Almeida, para futuramente ser publicada num livro. É assim que conhecemos as origens, as amizades, os amores, as dificuldades e as opções de vida da protagonista.

É durante as entrevistas entre Serafim e Irene que percorremos alguns locais interessantes da cidade de Lisboa como o Luna-Parque, a Estufa Fria ou o restaurante do aeroporto, mas pouco mais. Do fado, do fado vadio, da vida das fadistas, da noite lisboeta pouco nos é apresentado.


A história é lenta, a leitura também e o livro é demasiado grande o que torna tudo um pouco mais chato. Há demasiado Serafim nesta história, e ele nem vale isso tudo.


Embora não tenha nada a apontar à escrita da CCL (talvez a tenha achado aqui e ali um bocado pretensiosa) acho que lhe faltou alma, intensidade e paixão.


No final a autora deixa uma nota onde diz:


Que este livro seja uma ode a Lisboa e à portugalidade.


Lamento, mas não é uma ode a Lisboa nem tão pouco à portugalidade. Captar a essência de uma cidade e de um país exige muito mais do que isto.

[Opinião] Pode um Desejo Imenso - Frederico Lourenço

       



Título: Pode um Desejo Imenso

Série: -

Autor: Frederico Lourenço

Data de Leitura: 07/08/2022 ⮞ 25/08/2022

Classificação: 


Sinopse

Esta nova edição, revista e integral, de Pode um desejo imenso, incorpora O Curso das Estrelas e À Beira do Mundo, títulos que deixarão de ser comercializados individualmente, e apresenta pela primeira vez o romance completo, num só volume, tal como foi idealizado por Frederico Lourenço. Inclui ainda um posfácio do autor sobre a génese e pressupostos teóricos deste texto romanesco.

A versão original de Pode um desejo imenso ganhou o Prémio PEN para a primeira obra (2002) e foi reeditada quatro vezes. Agora, em 2006, o autor recebeu, por unanimidade do júri presidido por Eduardo Lourenço, o Prémio Europa / David Mourão-Ferreira, numa iniciativa conjunta da Universidade de Bari, do Instituto Camões e da Fundação Gulbenkian. Este prémio consiste na tradução para italiano e para outras três línguas europeias da actual edição de Pode um desejo imenso e é comprovativo do reconhecimento internacional que Frederico Lourenço tem vindo a alcançar.



Minha review no GoodReads


Pode um desejo imenso

arder no peito tanto

que à branda e a viva alma o fogo intenso

lhe gaste as nódoas do terreno manto,

e purifique em tanta alteza o espírito

com olhos imortais

que faz que leia mais do que vê escrito.

excerto de "Pode um Desejo Imenso", ode de Luís Vaz de Camões


Uma história de descobertas, de paixões platónicas, de transformações, de encontros e desencontros e de amor, tudo isto salpicado, aqui e ali, com sonetos de Camões.


[Opinião] O regresso do morto - Suleiman Cassamo

       



Título: O regresso do morto

Série: -

Autor: Suleiman Cassamo

Data de Leitura: 29/07/2022 ⮞ 06/08/2022

Classificação: 


Sinopse

Nesses de dez contos, o autor moçambicano apresenta um quadro das contradições sociais e culturais vividas pelos explorados trabalhadores das minas, crianças, idosos e, em especial, as mulheres de Moçambique. São narrativas comoventes sobre os marginalizados sociais.


Minha review no GoodReads


Suleiman Cassamo, escritor moçambicano, traz nestes 10 contos histórias de Moçambique e de diferentes realidades sociais. Temos histórias de mulheres, de trabalhadores pobres da cidade, dos deslocados dos campos e dos magaíças. A violência marca presença em todos principalmente no que à mulher diz respeito.


A editora – neste caso a Kapulana (brasileira) – optou por manter a grafia portuguesa de Moçambique, o que é muito bom, mas o glossário no fim do livro atrapalha a fluidez da leitura. Talvez tivesse apreciado mais se em vez disso tivessem optado por notas de rodapé.


Contos preferidos:


Nglina, tu vai morrer

Laurinda, tu vai mbunhar

Madalena, xiluva do meu coração

[Opinião] No meu peito não cabem pássaros - Nuno Camarneiro

   




Título: No meu peito não cabem pássaros

Série: -

Autor: Nuno Camarneiro

Data de Leitura: 17/07/2022 ⮞ 30/07/2022

Classificação: 


Sinopse

Que linhas unem um imigrante que lava vidros num dos primeiros arranha- céus de Nova Iorque a um rapaz misantropo que chega a Lisboa num navio e a uma criança que inventa coisas que depois acontecem? Muitas. Entre elas, as linhas que atravessam os livros. Em 1910, a passagem de dois cometas pela Terra semeou uma onda de pânico. Em todo o mundo, pessoas enlouqueceram, suicidaram-se, crucificaram-se, ou simplesmente aguardaram, caladas e vencidas, aquilo que acreditavam ser o fim do mundo. Nos dias em que o céu pegou fogo, estavam vivos os protagonistas deste romance - três homens demasiado sensíveis e inteligentes para poderem viver uma vida normal, com mais dentro de si do que podiam carregar. Apesar de separados por milhares de quilómetros, as suas vidas revelam curiosas afinidades e estão marcadas, de forma decisiva, pelo ambiente em que cresceram e pelos lugares, nem sempre reais, onde se fizeram homens. Mas, enquanto os seus contemporâneos se deixaram atravessar pela visão trágica dos cometas, estes foram tocados pelo génio e condenados, por isso, a transformar o mundo. Cem anos depois, ainda não esquecemos nenhum deles. Escrito numa linguagem bela e poderosa, que é a melhor homenagem que se pode fazer à literatura, No Meu Peito não Cabem Pássaros é um romance de estreia invulgar e fulgurante sobre as circunstâncias, quase sempre dramáticas, que influenciam o nascimento de um autor e a construção das suas personagens.



Minha review no GoodReads


Karl é um imigrante solitário em Nova York.


Há uma dor dentro que pede alimento e é isso que Karl lhe dá. Um mau amor é um fogo grande que só aquece se puder queimar o que toca. Um braço, uma perna, que lindo é o nosso amor, um sonho, um desejo de chamas altas direitas a nada. Os amores assim são acelerados, vão correndo sempre mais depressa em direção ao fim e ao fim de quem os não sabe escusar. Um amor que se sente em dor é uma doença dos sentidos que mata muitas vezes.


Fernando é um jovem que gosta de escrever e vai morar com as tias em Lisboa.


Os homens multiplicam-se a cada cruzamento, os homens são assim. Caminho para aqui, caminho por ali, uma direcção na vida e outra no pensar. Quatro cruzamentos são dezasseis homens, vinte são um milhão, quarenta e oito mil, quinhentos e setenta e seis homens. Gabardine ou sobretudo, café curto ou cheio, a pé ou de eléctrico, almoço no escritório ou no Alves, dezasseis homens. Passou um meio dia e é já difícil encontrar mesa onde sentar tanta gente, acabe o dia, venha outro, uma semana, um mês, um ano, e nem na China cabem os homens que saem de um homem.


Jorge é um rapaz argentino que se entrega quase o tempo todo a jogos da imaginação.


A meio da vida Jorge deixa num caderno uma lista de coisas que ainda hão-de ser escritas: um homem que sabia falar e contar segredos com o corpo; uma sociedade que sobreviveu à ausência de amor; dois irmãos que vão do berço à cova sem que um deles tenha chegado a nascer; a língua perfeita de um só falante; os índios que descobriram a Europa antes do tempo e voltaram calados do futuro; um homem que ama uma mulher sem fazer perguntas; o canto esquecido dos cães; a segunda morte de Cristo; o contrário do tempo; os ventos todos.

Nem mil Jorges poderiam alguma vez preencher o que falta. O mundo é um vazio desmedido que não queremos nem podemos aceitar, os homens também, as cidades, os países, os planetas também. Não há palavras que encham tanto vazio. Os livros que deixamos são obras de filigrana, fios ténues de sentido com que delimitamos o volume do que não entendemos.