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[Opinião] Porque escolhi viver - Yeonmi Park

                           


Título: Porque Escolhi Viver

Série: -

Autor: Yeonmi Park

Data de Leitura: 02/07/2025 ⮞ 08/07/2025

Classificação: 


Sinopse

A história real de uma norte-coreana que fugiu para conseguir viver. Cresceu a pensar que era normal ver cadáveres na rua a caminho da escola. Que era normal comer plantas selvagens para calar o estômago. Que era normal ver os vizinhos "desaparecer". Aos 13 anos, quando a fome e a prisão do pai tornaram o futuro impossível, Yeonmi e a família tomaram a decisão arriscada de fugir. Arriscaram morrer porque escolheram ser livres. Porque escolheram viver.


Minha review no GoodReads


Um olhar sobre a Coreia do Norte

Depois da rendição do Japão e do fim da II Guerra Mundial, a península da Coreia foi dividida em duas partes no paralelo 38N. Os Estados Unidos da América ocuparam a parte sul e a antiga União Soviética ocupou a parte norte, apoiando a nomeação de Kim Il-sung como primeiro líder do novo Estado comunista.

As tensões entre as duas nações culminaram na Guerra da Coreia (1950–1953), que terminou com um armistício, deixando tecnicamente as duas Coreias em guerra até aos dias de hoje.

Desde 1948 que a Coreia do Norte é governada pela mesma família, num regime de partido único e baseado no culto à personalidade. É considerada um dos regimes mais fechados e repressivos do mundo. O Estado controla todos os aspectos da vida dos cidadãos: educação, trabalho, alimentação, linguagem, acesso à informação. Existe censura total, campos de prisioneiros políticos e ausência de liberdade de expressão, religião ou movimento.

Apesar da pobreza generalizada da população, o regime continua a investir fortemente em armamento, especialmente em armas nucleares, sustentando a sua autoridade através do medo, da propaganda e da repressão brutal. A fuga do país é considerada traição, punida com trabalhos forçados, tortura ou morte — não só para o indivíduo, mas também para toda a sua família. A fome, a propaganda, o medo e a vigilância são os pilares que sustentam este sistema totalitário.


O testemunho de Yeonmi Park


Lembra-te, Yeonmi-ya – dizia-me suavemente –, mesmo quando pensas que estás sozinha, até as aves e os ratos te ouvem sussurrar.


Foi neste cenário que nasceu Yeonmi Park. Aos treze anos, atravessou o rio Yalu com a mãe, em direcção à China, e caiu nas mãos de traficantes de seres humanos. Posteriormente, foi vendida como escrava, separada da família, abusada, silenciada. Anos mais tarde, atravessou o deserto de Gobi na Mongólia, a pé, em pleno Inverno, rumo à Coreia do Sul — e à liberdade. E sobreviveu!

Um testemunho impressionante daquilo que acontece nas margens do mundo dito livre.

Uma leitura necessária pela crueldade que se revela, pela injustiça que grita em cada página, pela consciência de que nada disto é ficção. E também porque nos confronta com o nosso próprio privilégio: o de poder viver, dizer, escolher, mover-nos, protestar e amar — em LIBERDADE.

Yeonmi representa quem viveu na sombra e escolheu contar. A liberdade, o respeito, a igualdade e a dignidade humana não são negociáveis. Leio este livro em nome da memória dos que não conseguiram fugir, e em homenagem aos que continuam a resistir.


Coreia do Norte / 조선민주주의인민공화국


[Opinião] Vertigens - Valentina Silva Ferreira

                


 
          

Título: Vertigens

Série: -

Autor: Valentina Silva Ferreira

Data de Leitura: 26/06/2025 ⮞ 05/07/2025

Classificação: 


Sinopse

Em finais dos anos 70, no Caniço, uma cidade costeira na ilha da Madeira, todos conhecem Ana Clara, a estranha rapariga que não fala e que passa os dias à janela.

Quando Anita Fontoura a vê, também ela presa na sua janela de solidão imposta pelo marido, desenvolve-se entre as duas vizinhas uma amizade inesperada.

Décadas mais tarde, de regresso à ilha para enterrar Anita, a sua filha Oti reencontra-se com Ana Clara, sua madrinha, para tentar compreender a história da família, das mulheres Fontoura, da fuga das duas para Lisboa e daquela mãe que foi tão difícil amar.

Este é um romance sobre liberdade e coragem, sobre forjarmos nosso próprio caminho, sobre gritos no silêncio. Duas mulheres enclausuradas que o destino uniu e que, juntas, encontraram uma forma de voar.


Minha review no GoodReads


3,5⭐


Ana Clara e Anita Fontoura, uma amizade improvável, feita de gestos, silêncios e uma compreensão profunda que transcende a linguagem. Juntas irão forjar uma aliança que as leva a uma fuga audaciosa para Lisboa, em busca de liberdade e dignidade.

Décadas mais tarde, Oti, filha de Anita e afilhada de Ana Clara, regressa à Madeira para enterrar a mãe e confrontar a madrinha com os fantasmas da sua infância.

A história de uma amizade real, sem ser perfeita e com todos os seus espinhos. 

Apesar de ter acabado por gostar da história, o ponto menos conseguido é a voz narrativa das personagens, por vezes demasiado uniforme, o que acaba por retirar-lhes alguma individualidade e profundidade.


Há várias listas de cores, de que gostei bastante, deixo aqui uma:


Adorava contar os tons de rosa:

lavanda,

amaranto,

cravo,

flor de cerejeira,

cereja do Japão,

borda,

neblina,

calamina,

lago dos cisnes,

pétala intocada,

algodão doce,

senhora,

azálea,

rosa chiffon,

etérea.

Ao fundo: a desolação.


[Opinião] Pés de Barro - Nuno Duarte




Título: Pés de Barro

Série: -

Autor: Nuno Duarte

Data de Leitura: 26/06/2025 ⮞ 06/07/2025

Classificação: 


Sinopse

Estamos em 1962, num país orgulhosamente só, e vem aí a construção da primeira ponte suspensa sobre o Tejo, para a qual vão ser precisos cerca de três mil homens. A obra irá mudar para sempre a paisagem da capital, muito especialmente para quem vive em Alcântara, como é agora o caso de Victor Tirapicos, instalado na casa dos tios depois de ter envergonhado o pai com dois anos de cadeia só por ter roubado pão e batatas para fintar a miséria.

É, de resto, pelos olhos deste serralheiro de vinte e dois anos que veremos a ponte erguer-se um pouco mais todos os dias e, ali mesmo ao lado, partirem os navios cheios de rapazes para a guerra do Ultramar, donde muitos acabarão por voltar estropiados, endoidecidos ou mortos.

Porém, apesar de a modernidade parecer estar a matar a vida e os costumes do pátio operário onde convivem (amigavelmente ou nem tanto) uma série de figuras inesquecíveis - entre elas o mestre sapateiro que faz as chuteiras para o Atlético Clube de Portugal e um velho culto que aprende a desler -, Victor Tirapicos encontra o amor de uma rapariga que é muda mas consegue escutar o planeta, pressentindo a derrocada da estação do Cais do Sodré e outra catástrofe ainda maior, que se calhar tem pés de barro e só acontece neste romance, mas bem podia ter acontecido.


Minha review no GoodReads

Um livro sobre a construção da ponte sobre o Tejo, a que então se chamou Ponte Salazar e que hoje conhecemos como Ponte 25 de Abril. Um símbolo incontornável da cidade de Lisboa, um monumento que alterou de forma definitiva a paisagem urbana. Mas não é apenas sobre a construção da ponte — se fosse, seria um livro aborrecido. É também sobre um Portugal mergulhado na ditadura, marcado por uma miséria que não era apenas social e física, mas também intelectual; sobre uma sociedade apática e obediente; sobre uma guerra colonial que, de tempos a tempos, cuspia caixões e estropiados para os lados do Cais da Rocha Conde de Óbidos.

E até cerca de 95% da leitura, Pés de Barro estava a ser uma experiência bastante agradável. Depois, o autor estragou tudo.


[Opinião] Verão dos infiéis - Dinah Silveira de Queiroz

                    


        

Título: Verão dos infiéis

Série: -

Autor: Dinah Silveira de Queiroz

Data de Leitura: 07/06/2025 ⮞ 01/07/2025

Classificação: 


Sinopse

Em Verão dos infiéis, romance ambientado no Rio de Janeiro no final da década de 1960, Dinah Silveira de Queiroz narra um fim de semana chuvoso na vida de uma família de classe média abalada por questões psicológicas, religiosas e políticas num dos períodos mais turbulentos da história do Brasil.


Minha review no GoodReads


Dinah Silveira de Queiroz (1911–1982) foi uma destacada escritora brasileira — romancista, contista, cronista e pioneira da ficção científica no país. Estreou-se com Floradas na Serra e foi reconhecida com vários prémios literários. Viveu em várias cidades do mundo e foi em Roma que escreveu Verão dos Infiéis, inspirado num discurso do Papa Paulo VI na ONU, em 1965. Em 1980, tornou-se a segunda mulher a integrar a Academia Brasileira de Letras, coroando uma carreira sólida, versátil e profundamente ligada à cultura brasileira.


Verão dos Infiéis estrutura-se entre duas tragédias: logo no início, sabemos do suicídio de um homem

delicado demais... para viver num mundo de grosseria. Era um príncipe de outros tempos escondido, parece, no meio da gente
que deixa para trás a mulher, Valentina, e os três filhos pequenos.

Esta primeira tragédia marca profundamente Valentina, que vive um luto interminável, recorrendo à benzedrina — uma anfetamina usada, na altura, para combater a depressão.

A segunda tragédia encerra o romance: após chuvas intensas, dá-se um desabamento que deixa um cenário de ruínas, morte e lama.

A história decorre ao longo de três dias, em Copacabana, e é nesse curto espaço de tempo que conhecemos a família de Valentina.

Sabemos que o período é o da ditadura, mas Dinah opta por, em vez de nos mostrar directamente a repressão política e a falta de liberdade, evidenciar uma certa alienação e apatia vividas pelas personagens.

Dinah consegue fazer uma verdadeira radiografia social e política da época, mostrando as tensões e desigualdades sociais, o papel da religião, a repressão, os preconceitos e todo o impacto que esses elementos têm na realidade brasileira.

É um livro interessante e bem escrito - a escrita de Dinah é leve, envolvente e cheia de sensibilidade - mas senti que faltou algo às personagens que me permitisse criar uma certa empatia com elas.

[Opinião] A Noite Está a Chegar - Robert Bryndza

                          



Título: A Noite Está a Chegar

Série: Kate Marshall #2

Autor: Robert Bryndza

Data de Leitura: 22/06/2025 ⮞ 26/06/2025

Classificação: 


Sinopse

Quando o corpo de um jovem é encontrado a flutuar no reservatório de Shadow Sands, as autoridades classificam-no como um trágico acidente. Mas os detalhes não batem certo. O que fazia a vítima ali, a meio da noite? Se era um excelente nadador, porque se afogou?

Quando a detetive Kate Marshall começa a seguir as pistas do caso, descobre um trilho sangrento que aponta na direção de um assassino em série ativo, escondido da vista de todos. A vítima é, tão-só, a última de várias mortes misteriosas e desaparecimentos ligados a uma mítica figura da região conhecida por se esconder entre a névoa.

Várias pessoas desapareceram sem deixar rasto durante os últimos anos e, quando mais uma jovem desaparece, Kate entra numa corrida contra o tempo para apanhar o responsável e evitar outra morte.

O problema é que o perturbador assassino que ela procura não é o único a estar um passo à frente da polícia. Existe mais alguém interessado em certificar-se de que os segredos de Shadow Sands se mantêm esquecidos e bem enterrados.

Depois do alucinante Mistério em Nine Elms, Robert Bryndza está de regresso com um novo thriller que promete conquistar os leitores de todo o mundo.


Minha review no GoodReads


Robert Bryndza sabe como agarrar-nos desde a primeira página. Constrói histórias envolventes, cheias de ritmo, tensão e suspense, com um estilo marcadamente cinematográfico.

Este segundo volume mantém o estilo dos livros anteriores do autor, um thriller com uma escrita directa, capítulos curtos que incentivam a leitura compulsiva e garantem sempre um tempo bem passado.



[Opinião] A Estação da Sombra - Léonora Miano



Título: A Estação da Sombra

Série: -

Autor: Léonora Miano

Data de Leitura: 04/06/2025 ⮞ 25/06/2025

Classificação: 


Sinopse

No coração de África, nas terras do clã mulongo, um incêndio grassa, e doze homens da tribo desaparecem misteriosamente. Uma mulher, uma das mães banidas da comunidade, empreende então um longo périplo, que a conduzirá à atroz verdade.

A Estação da Sombra é a odisseia dos vencidos, daqueles cuja sociedade é destruída pela aparição de um odioso comércio instaurado pelos europeus, prenunciando tempos negros em que a vileza engendra o cativeiro de todo um continente. Da prosa impregnada de misticismo de Léonora Miano, emanam o canto dos escravos acorrentados e a angústia que invade os seus entes queridos perante o inexplicável, culminando num poderoso exercício de restituição de humanidade e de voz a todos os que delas se viram privados.



Minha review no GoodReads

A tribo dos Mulongo, situada na África subsariana, bem no coração do continente, vive num total desconhecimento do mundo à sua volta, mantendo apenas relações com a tribo vizinha, os Bwele.

Mas há um dia em que uma sombra se abate sobre todo o clã. Após um grande incêndio, desaparecem doze homens. Ninguém sabe o que lhes aconteceu. Os Mulongo não conhecem o oceano — como poderiam sequer imaginar navios ou tráfico negreiro?


Mas há algo que parece certo: se os homens desapareceram, a culpa é das mulheres. Por isso, aquelas cujos filhos não foram encontrados são confinadas num canto da aldeia: <i>assim a sua dor ficará contida num lugar claramente circunscrito e não se espalhará por toda a aldeia.</i>


Contra este obscurantismo erguem-se três figuras da tribo: Mukano, que desafia a autoridade dos mais velhos e parte em busca dos desaparecidos; a carismática Eyabe, que decide também romper com os costumes da tribo, parte sozinha e chega ao oceano, aos navios negreiros — e descobre toda a verdade; e a velha Ebeise, parteira e uma das grandes vozes femininas deste romance.


Num livro onde os sonhos, a feitiçaria e o encantamento estão sempre presentes, mergulhamos num mundo onde a realidade se anuncia, se interpreta, se adivinha — através de sonhos, sinais, vozes ouvidas pelos mais sensíveis entre as personagens.


Com uma escrita fluida, vibrante e viva, este é um romance que nos põe em marcha, que nos faz avançar e sair da opacidade da sombra.


Um romance que ecoa fundo, tanto pela sua beleza como pela brutalidade da memória que convoca.


Camarões



[Lido] A formosa das Violetas - Camilo Castelo Branco

                           




Título: A formosa das Violetas

Série: -

Autor: Camilo Castelo Branco

Data de Leitura: 23/06/2025 ⮞ 23/06/2025

Classificação: 


Sinopse

Com a característica verve de sua escrita romântica, Camilo Castelo Branco narra a história triste de Elisa Loewe Weimars, espelhada na carreira errática do marido português. O texto explora, entre outros, o tema do preconceito de classe vigente no século XIX, bem como a política da época.


Minha review no GoodReads


Disponibilizados no Kobo Plus. Infelizmente o audiobook é em brasileiro por isso optei por ler só o conto em ebook.


A fortuna dava-lhe formosas mulheres para o coração, e desvelados amigos para o espírito e também para a mesa.