Translate

Pesquisar neste blogue

[Opinião] Água Salgada - Charles Simmons

                               


    

Título: Água Salgada

Série: -

Autor: Charles Simmons

Data de Leitura: 25/09/2025 ⮞ 28/09/2025

Classificação: 


Sinopse

Água Salgada é uma obra de rara inteligência narrativa, guiada por um instinto visceral que escava o coração da história para revelar uma beleza sem igual. Charles Simmons tece uma narrativa sublime sobre a descoberta do primeiro amor e mergulha no âmago da necessidade humana de ser desejado, explorando com sensibilidade os laços entre pai e filho e os desafios da adolescência, descrevendo uma corrente intensa de anseios, descobertas e desilusões.

«No verão de 1963, apaixonei-me e o meu pai afogou-se.» Assim começa este romance inquietante. Numa ilha isolada ao largo da costa atlântica, Michael, de dezasseis anos, passa as férias como sempre, ao lado dos pais na sua magnífica casa de praia em Bone Point.

Mas este não será um verão como os outros. A chegada da enigmática Sra. Mertz — herdeira de uma linhagem russa — e da sua filha Zina, uma jovem de vinte anos vibrante e irresistivelmente sedutora, desencadeia um turbilhão de emoções.

Michael será levado aos limites do desejo, experimentando a doçura e a dor do primeiro amor, os segredos da vida adulta e as consequências irreversíveis das diferentes formas de afeto.

Entre descobertas e desilusões, este é o retrato delicado e devastador de um último verão de inocência, e o que poderia não ter passado de um amor de verão, toma um rumo inesperado.


Minha review no GoodReads


3,5 


Antes de mais, a capa é muito bonita.


Inspirado no clássico Primeiro Amor, de Ivan Turguéniev, Água Salgada, de Charles Simmons, é um romance curto mas intenso sobre o despertar para o amor e para as complexidades da vida adulta, passado num verão de 1963 numa ilha costeira americana. A primeira frase já nos prepara para a tragédia:


NO VERÃO DE 1963, apaixonei-me e o meu pai afogou-se.


Com apenas 184 páginas, Simmons consegue criar uma atmosfera de férias, mar e sal, onde se cruzam paixões, desejos e desilusões. O protagonista, Michael, recorda-se da sua adolescência e da paixão por Zina, uma jovem de vinte anos que se instala na ilha com a mãe. As suas experiências e desilusões refletem o processo de crescimento e a perda da inocência, mas também as contradições das relações familiares — um pai carismático mas falível, uma mãe silenciosa, e o confronto com os segredos dos adultos.

A escrita é elegante e ligeiramente distante, como o vento do mar que rasga a leveza da atmosfera de férias, conferindo ao livro uma certa melancolia e profundidade. O problema surge a meio do livro: Simmons perde um pouco da força da narrativa ao divagar sobre “o que é o amor”. Essas reflexões, embora interessantes, quebram o ritmo da história e tornam a leitura menos envolvente durante algumas páginas.

Ainda assim, o autor mantém um jogo subtil de metáforas e simbolismos — mar/lágrimas, amor/morte, confiança/ciúme — que acrescenta profundidade ao romance e reforça os temas da adolescência, do desejo e da perda de inocência.

 

As lágrimas e a água salgada têm o mesmo sabor.


No final, Água Salgada é uma leitura agradável, mas que poderia ter explorado com mais intensidade a tragédia e o clímax emocional que anuncia desde o início. Uma obra interessante, que evoca o verão, o mar e a adolescência, mas sem se tornar memorável.


Há ainda questões que me incomodam nas traduções, principalmente quando o desconhecimento de certos termos poderia ser facilmente ultrapassado. 

No original lemos:

Some years we dug for piss clams. Small holes showed up here and there in the wet sand at low tide. When you stepped next to one a stream of water shot up your leg and you knew a steamer was underneath. We served piss clams with melted butter and clam broth. They were the best dish.


Na tradução:

Noutros anos, apanhámos clames-de-areia. Pequenos buracos apareciam aqui e ali na areia húmida durante a maré baixa. Ao pisar a areia ao redor do buraco, um esguicho de água atingia as nossas pernas e era assim que sabíamos que estava um clame ali debaixo. Servíamos clames-de-areia com manteiga derretida e caldo de amêijoa. Era o melhor de todos os pratos.


Que eu saiba, e posso estar enganada, não existe em português a palavra clame ou clame-de-areia. Teria sido mais adequado manter o termo original em itálico, acompanhado de uma nota de rodapé a explicar que se trata de um tipo específico de amêijoa do Atlântico norte-americano.