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[Opinião] Memorial de Maria Moura - Rachel de Queiroz


              


Título: Memorial de Maria Moura

Série: -

Autor: Rachel de Queiroz

Data de Leitura: 15/09/2024 ⮞ 06/10/2024

Classificação: 


Sinopse

Memorial de Maria Moura, Prêmio  Jabuti de 1993, foi o último romance da escritora, publicado quando ela tinha 82 anos e considerado sua obra-prima. O livro se tornou sucesso de crítica e de público, principalmente após servir de base para uma minissérie de televisão, protagonizada por Glória Pires. Rachel entrou para a história da literatura brasileira por vários motivos: foi uma das precursoras do romance  regionalista com O Quinze, lançado quando ela tinha 19 anos, a primeira mulher a ingressar na Academia  Brasileira de Letras, em 1977, e uma das melhores cronistas brasileiras do século XX. É no Brasil rural do século XIX que se passa a história de Maria Moura. Ela tinha apenas 17 anos quando encontrou a mãe morta, foi violentada pelo padrasto e viu suas terras serem cobiçadas por primos inescrupulosos. Uma mulher vulgar sucumbiria a tantas adversidades, mas Maria Moura possuía outro temperamento.


Minha review no GoodReads

Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza (CE), a 17 de novembro de 1910, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ) a 4 de novembro de 2003. Foi a primeira mulher a ocupar um assento na Academia Brasileira de Letras — quinta ocupante da Cadeira 5.
Além de romancista, foi também jornalista, tradutora e cronista. Só de crónicas, publicou mais de duas mil.

Após ter lido O Quinze, o primeiro romance de Rachel, resolvi agora ler o último, Memorial de Maria Moura, que ganhou o Prémio Jabuti de Ficção em 1993.

É uma história de sobrevivência, de intrigas familiares, de luta pelo poder, e Maria Moura é uma personagem que foge aos papéis tradicionais das mulheres do século XIX. Ela é forte, independente, determinada, desafiadora das normas sociais e do sistema patriarcal, no fundo uma líder num mundo dominado por homens.

— Aqui não tem mulher nenhuma, tem só o chefe de vocês. Se eu disser que atire, vocês atiram; se eu disser que morra é pra morrer.
(...)
Eu sentia (e sinto ainda) que não nasci pra coisa pequena. Quero ser gente. Quero falar com os grandes de igual para igual. Quero ter riqueza! A minha casa, o meu gado, as minhas terras largas. A minha cabroeira me garantindo. Viver em estrada aberta e não escondida pelos matos em cabana disfarçada como índio ou quilombola. Mas num alto descoberto, deixando ver de longe o casarão lá em cima, telhado vermelho, paredes brancas caiadas. Cavalos de sela comendo milho na estrebaria, bezerro gordo escaramuçado no pátio. Quero que ninguém diga alto o nome da Maria Moura sem me guardar respeito. Que ninguém fale com Maria Moura – seja fazendeiro, doutor ou padre, sem ser de chapéu na mão
(...)
Além do mais, eu tinha horror a casamento. Um homem mandando em mim, imagine; logo eu, acostumada desde anos a mandar em qualquer homem que me chegasse perto. Até com o Liberato, que era quem era — perigoso —, achei jeito de dar-lhe a última palavra.
Um homem me governando, me dizendo — faça isso, faça aquilo, qual! Considerando também dele tudo que era meu, nem em sonho — ou pior, nem em pesadelo. E me usando na cama toda vez que lhe desse na veneta. Ah, isso também não.