Título: Direito Das Mulheres e Injustiça dos Homens
Série: -
Autor: Nísia Floresta
Data de Leitura: 22/10/2024 ⮞ 24/10/2024
Classificação: ⭐⭐⭐⭐
Sinopse
O pensamento de Nísia foi fortemente influenciado pelo filósofo Augusto Comte, pai do positivismo, com quem conviveu durante suas viagens à Europa. O pensamento positivista entendia as mulheres como importantes figuras sociais, dotadas de uma “identidade positiva” fundamental para o crescimento das sociedades.
Minha review no GoodReads
(…) longe de conceberdes qualquer sentimento de vaidade em vossos corações com a leitura deste pequeno livro, procureis ilustrar o vosso espírito com a de outros mais interessantes, unindo sempre a este proveitoso exercício a prática da virtude, a fim de que sobressaindo essas qualidades amáveis e naturais ao nosso sexo, que até o presente têm sido abatidas pela desprezível ignorância em que os homens, parece de propósito, têm nos conservado, eles reconheçam que o Céu nos há destinado para merecer na Sociedade uma mais alta consideração.
Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens foi publicado em 1832, quando Nísia Floresta tinha apenas 22 anos. Apesar de ter tido três edições, este pequeno livro desapareceu, e só em 1989 foi encontrada uma edição de 1833, permitindo-nos ter acesso aos pensamentos de uma mulher que pensava muito à frente do seu tempo.
Obviamente, não podemos ler esta obra com os olhos de 2024, até porque o peso religioso em 1832 era muito maior do que é nos nossos dias. No entanto, isso não invalida as reflexões sobre o status social das mulheres.
Não nos podemos esquecer que Nísia viveu numa sociedade patriarcal, escravocrata e recém-independente, o que evidencia a excepcionalidade desta mulher e a enorme diferença quando a comparamos com as mulheres da sua época. Nísia Floresta, com o seu pensamento progressista, analisa e critica a sociedade da época e propõe uma visão alternativa para o papel da mulher na sociedade, desafiando as normas do seu tempo.
Ao longo dos anos, os desafios das mulheres foram evoluindo, mas as questões que Nísia levantou continuam a ressoar na actualidade. Esta obra de 1832 é um convite à reflexão sobre a luta pela igualdade de género e um lembrete de que o conhecimento e a educação são fundamentais para a emancipação.
Se cada homem, em particular, fosse obrigado a declarar o que sente a respeito de nosso sexo, encontraríamos todos de acordo em dizer que nós nascemos para seu uso, que não somos próprias senão para procriar e nutrir nossos filhos na infância, reger uma casa, servir, obedecer e aprazer aos nossos amos, isto é, a eles homens.
Todos sabem que a diferença dos sexos só é relativa ao corpo e não existe mais que nas partes propagadoras da espécie humana; porém, a alma que não concorre senão por sua união com o corpo, obra em tudo da mesma maneira sem atenção ao sexo. Nenhuma diferença existe entre a alma de um tolo e de um homem de espírito, ou de um ignorante e de um sábio, ou a de um menino de 4 anos e um homem de 40. Ora, como esta diferença não é maior entre as almas dos homens e das mulheres, não se pode dizer que o corpo constitui alguma diferença real nas almas. Toda sua diferença, pois, vem da educação, do exercício e da impressão dos objetos externos que nos cercam nas diversas circunstâncias da vida.
Se em tempos imemoriais os homens tivessem sido menos invejosos e mais interessados em fazer justiça a nossos talentos, deixando-nos o direito de partilhar com eles dos empregos públicos, estariam tão acostumados em ver-nos preenchê-los, quanto estamos em os ver desonrá-los, e uma mulher, ou na roda dos Advogados, ou na Cadeira Magistral, não seria tão admirável como ver um Juiz grave, languidamente rendido ao lado de sua amante, ou um Lorde bordando um vestido para sua mulher.
Nosso sexo parece nascido para ensinar e praticar a medicina, para tornar a saúde aos doentes e a lhes conservar. O asseio, a prontidão e o cuidado fazem a metade de uma cura; e por este motivo os homens nos deviam adorar.
Não há entre as mulheres diferentes graus de força, assim como entre os homens? Não se encontram fortes e fracos em ambos os sexos? Os homens educados na ociosidade e na moleza são mais fracos que as mulheres; estas, endurecidas pela necessidade são freqüentemente mais fortes do que eles.
Acrescentemos agora ao medíocre número dessas escolas a confusão dos métodos, das doutrinas seguidas pelas professoras, quase sempre discordes em seus sistemas e, como já observamos, em grande parte sem as necessárias habilitações, e teremos, reduzido à expressão mais simples, o número da nossa população feminina que participa do ensino público e o grau de instrução que recebe.