Que livro, que viagem, que maravilha!!
Escrever uma biografia tão extensa e detalhada como esta não deve ter sido tarefa fácil. A vida de Pedro, o Grande é-nos apresentada por ordem cronológica o que melhora o fluxo narrativo, e leva-nos para o turbilhão da Rússia dos séculos XVII e XVIII.
Robert K. Massie consegue passar a imensa quantidade de informação histórica de uma forma brilhante, o que torna a leitura leve e agradável. O recurso ao suspense mantém o interesse sempre vivo. Quase todos os aspectos de cada período da vida de Pedro são analisados e discutidos de forma não apenas informativa, mas também esclarecedora do ponto de vista cultural.
Massie tinha uma grande admiração pelo czar Pedro, é algo que se nota ao longo da obra, mas também nos transmite os seus aspectos negativos.
Preferia que Massie tivesse perdido menos tempo com os detalhes das estratégias militares, das batalhas e tivesse dado mais tempo ao primeiro casamento do czar, com Eudóxia, e ao filho Aleixo. Gostava que tivesse aprofundado um pouco mais o relacionamento com Marta Helena Skavronska, a sua segunda mulher, e que lhe sucederia como Catarina I (não é Catarina, A Grande).
Robert K. Massie conduz-nos não só através da vida e personalidade de Pedro, mas também através do mundo em que ele nasceu e viveu.
Pedro nasceu em 1672, e as suas hipóteses de chegar ao trono russo eram poucas. Depois da morte de seu pai, czar Aleixo, a população moscovita escolhe Pedro como seu novo soberano. Isto não agradou nem à primeira esposa de Aleixo (mãe de Ivan), nem ao exército Streltsi, nem à sua meia irmã Sofia. O resultado foi uma sangrenta revolta que instaurou Ivan e Pedro como co-monarcas e como regente Sofia.
A revolta Streltsi marcou-o de forma profunda. Após a dupla coroação deixou Moscovo e foi para o interior, Preobrajenskoye, onde passou grande parte da sua infância e adolescência.
Pedro era um apaixonado pelo estilo de vida europeu, e os seus interesses eram as guerras e posteriormente interessou-se por tudo o que dizia respeito a navegação e barcos.
Em 1689 Pedro toma o poder e prende a meia-irmã no Convento de Novodevichi.
A partir daqui Pedro começa a olhar para o mar e para a necessidade de a Rússia ter um porto de águas salgadas que não estivesse congelado cerca de 6 meses . O mar Báltico estava nas mãos dos Suecos, o poder militar mais dominante da Europa Setentrional, por isso restava o mar Negro. Após várias visitas a Archangelsk planeia invadir o Mar Negro. Constrói navios de guerra, ataca e conquista Azov, uma fortaleza turca.
Pedro queria tornar a Rússia uma potência mundial, que pudesse competir com as grandes nações europeias da altura, no entanto tinha consciência de que para por em prática o seu sonho teria que aprender muito.
Aqui começa a parte mais fascinante e divertida do livro, Pedro inicia uma viagem pela Europa ocidental, incógnito, que ficou conhecida como a Grande Embaixada. Ao acompanharmos o czar ficamos a saber um pouco da história e costumes dos países que visitou. É interessante ver como os países europeus olhavam para a Rússia, e o vice-versa também é surpreendente. Pedro tem fome de conhecimento e aproveita esta digressão observar, questionar e por fim recrutar as grandes cabeças de forma a levar para a Rússia o conhecimento que faltava.
Após o seu regresso Pedro alia-se a Augusto II da Polónia e inicia uma guerra contra Carlos XII da Suécia. A guerra dura vinte anos, e os primeiros embates mostram ao czar como o exército russo está mal treinado. O exército é reestruturado. Em 1703, durante a grande guerra do norte, captura a cidade de Nyenskans das mãos dos suecos. Com o objetivo de fortalecer o controlo de suas novas posses, Pedro manda construir aquela que é conhecida como a primeira edificação de São Petersburgo – Fortaleza de São Pedro e São Paulo
Depois da grande Batalha de Poltava modernizou o exército e criou uma marinha, ambas contribuindo para a ocidentalização do país o que permitiu ao império estender a sua influência e território e tornar-se uma potência mundial. Foi Pedro quem dotou o sistema imperial e a sociedade russa dos padrões institucionais em que a vida administrativa, política e social do império se baseou até ao seu fim, em 1917. Não se trata de um feito insignificante, especialmente quando nos lembramos que Pedro herdou um país e uma política que eram tudo menos "modernos" ou "civilizados" pelos padrões do século XVII, uma vez que se tinham desenvolvido fora da corrente dominante da história europeia desde a Idade Média.
Regressa à Europa (finalmente conhece Paris), faz expedições à Sibéria, e manda edificar Peterhof – a Versalhes Russa.
Pedro morre em 1725, mas ainda hoje o seu nome faz parte do orgulho russo.
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