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[Opinião] A Silveirinha: Crônica de um Verão - Júlia Lopes de Almeida

         


        

Título: A Silveirinha: Crônica de um Verão

Série: -

Autor: Júlia Lopes de Almeida

Data de Leitura: 09/08/2024 ⮞ 25/08/2024

Classificação: 


Sinopse

Em A Silveirinha somos transportados para o cotidiano de um verão petropolitano no início do século XX e às interações entre diferentes famílias que lá passavam a temporada. Bailes, saraus e jantares tinham uma importância essencial na consolidação de relações de interesse econômico, assim como a valorização dos títulos sociais e dos casamentos arranjados. Laços de amizade e intrigas que se formam no decorrer da narrativa, além da atuação feminina, que ganha destaque em uma sociedade onde o poder político, econômico e social estava, em tese, nas mãos de homens. A autora aproveita ainda a oportunidade para levantar um questionamento intrigante para mulheres de sua época, afinal “... uma mulher casada não deve ter opiniões próprias, não é verdade?” As personagens femininas burguesas, a postura no enfrentamento do moralismo e da hipocrisia, e a importância da participação delas nos jogos de articulação e poder são os principais protagonistas desta obra.

Esta reedição do livro publicado em 1914 por Francisco Alves & Cia e Aillaud, Alves & Cia. teve a ortografia atualizada e conta com notas explicativas, para termos e palavras fora de uso.


Minha review no GoodReads



Júlia Lopes de Almeida nasceu em 1862, no Rio de Janeiro, filha dos emigrantes portugueses Adelina Pereira Lopes, musicista, e Valentim José da Silveira (Visconde de São Valentim), médico. A família pertencia à classe alta, o que proporcionou uma excelente educação à promissora escritora.

O pai de Júlia descobriu a vocação da filha, e incentivou-a a que escrevesse um artigo para a Gazeta de Campinas. E foi assim que tudo teve início. Júlia foi uma escritora com uma vasta produção literária conseguindo, à época, viver dos rendimentos da sua profissão.
Era uma mulher muito à frente do seu tempo, era republicana, defendia a educação feminina, o divórcio e a abolição da escravatura.


... Os povos mais fortes, mais práticos, mais ativos, e mais felizes são aqueles onde a mulher não figura como mero objeto de ornamento; em que são guiadas para as vicissitudes da vida com uma profissão que as ampare num dia de luta, e uma boa dose de noções e conhecimentos sólidos que lhe aperfeiçoem as qualidades morais. Uma mãe instruída, disciplinada, bem conhecedora dos seus deveres, marcará, funda, indestrutivelmente, no espírito do seu filho, o sentimento da ordem, do estudo e do trabalho, de que tanto carecemos.
- Júlia Lopes de Almeida, em A Mensageira

Júlia Lopes de Almeida teve uma vida intelectual bastante activa, fez parte do grupo de intelectuais que criaram a Academia Brasileira de Letras, mas o seu nome não foi incluído. Era mulher - a ABL era um clube do Bolinha – e em vez dela foi considerado o nome do marido, Filinto de Almeida – Cadeira 3, sem produção literária de destaque.
Após a sua morte, em 1934, Júlia Lopes de Almeida foi caindo no esquecimento, mas o seu regresso aos escaparates das livrarias deveu-se à leitura obrigatória para o vestibular da Unicamp.

Aos mais desatentos (onde me incluo) há em Lisboa um busto da escritora, ali no Jardim Gomes de Amorim.


O monumento, obra de Margarida Lopes de Almeida, composto de busto em bronze sobre pedestal de pedra, foi oferecido pelas mulheres brasileiras às mulheres portuguesas. O busto, executado em 1939, só viria a ser inaugurado, no Jardim Gomes de Amorim, localizado na Praceta da Av. António José de Almeida, em 28 de Março de 1953.


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Nesta crónica de verão, JLA leva-nos até à cidade imperial fundada por D. Pedro II — Petrópolis — e narra os encontros e desencontros de um grupo de burguesas abastadas a viver um verão em Petrópolis, distantes dos maridos, que só chegavam à cidade no comboio da noite.

(…) nenhuma cidade do mundo tem durante tantas horas uma sociedade quase exclusivamente feminina como Petrópolis, de dia, no verão. Que reparassem: os homens só chegavam à noite, para partirem de novo na manhã seguinte.

O romance é escrito num tom crítico, não só em relação ao clero e à alta sociedade, mas também às mulheres que se entregam ao ócio e à futilidade. A história centra-se na intenção de Guiomar, apelidada de Silveirinha, recém-casada, em converter o marido ateu ao catolicismo. Mas, como em todos os livros de JLA, a mensagem progressista vai-se revelando nas entrelinhas.