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[Opinião] E Choviam Pássaros - Jocelyne Saucier

 


                      

Título: E Choviam Pássaros

Série: -

Autor: Jocelyne Saucier

Data de Leitura: 21/02/2025 ⮞ 23/02/2025

Classificação: 


Sinopse

Habitando nas profundezas de uma floresta canadiana, Tom e Charlie, já bem avançados na idade, estão determinados a viver o resto das suas vidas segundo os seus próprios termos: livres de todos os laços e responsabilidades. Contudo, o tão desejado isolamento é interrompido pela chegada de duas mulheres, uma fotógrafa à procura do último sobrevivente que lhe falta encontrar do Grande Incêndio de Matheson, decorrido há décadas, e uma idosa a quem a vida ofereceu, finalmente, a oportunidade de ser livre. Um romance marcante que mostra de forma maravilhosa que o amor, a esperança, a determinação e o desejo de ser livre se podem manter por muito tempo. A escrita irresistível de um livro várias vezes premiado.


Minha review no GoodReads


E Choviam Pássaros chega-nos do Quebec e tem como cenário o norte do Ontário, uma região de florestas e lagos, outrora percorrida por caçadores de peles.


Ted, Charlie e Tom, três anacoretas, vivem em cabanas, longe de toda a civilização, solitários, excepto pela companhia dos seus cães, mas suficientemente próximos para se visitarem com regularidade.

Escolheram a liberdade – a liberdade de viver à sua maneira e, acima de tudo, de decidir sobre a própria morte. 


A chegada de duas mulheres àquele recanto da floresta vai agitar a vida de Ted e Charlie.


Os incêndios que devastaram o norte do Ontário no início do século XX e a lenda omnipresente de "Boychuck" servem como fio condutor desta história.


Trata-se de um romance muito bem escrito, que reflecte sobre a velhice, a morte – sempre presente no passado e no presente –, a exclusão social, a doença mental e os amores perdidos, apagados ou esquecidos. 

No entanto, está longe de ser um livro triste ou depressivo, a história ergue-se sobre três pilares fundamentais: a escolha, a liberdade e a empatia.

[Opinião] A resistência - Julián Fuks

       



Título: A resistência

Série: -

Autor: Julián Fuks

Data de Leitura: 14/09/2022 ⮞ 21/09/2022

Classificação: 


Sinopse

“Meu irmão é adotado, mas não posso e não quero dizer que meu irmão é adotado.”, escreve, logo na primeira linha, Sebastián, narrador deste romance. Como em diversas obras que tematizam a Guerra Suja — o regime de terror inaugurado em 1976 na Argentina —, A resistência envereda pela memória pessoal e nacional.


Sebastién é o filho mais novo, e seu irmão adotado, o primogênito de um casal de psicanalistas argentinos que logo buscarão exílio no Brasil. Os pais conhecem bem as teorias sobre filhos adotados e biológicos (Winnicott, em especial), mas a vida é diferente da bibliografia especializada. Cabe então ao narrador o exame desse passado violento e a reescritura do enredo familiar. O resultado, uma prosa a um só tempo lírica e ensaística, lembra belos filmes platinos como O segredo dos seus olhos.


Minha review no GoodReads


Um livro muito bem escrito onde a técnica se sobrepõe à emoção. É uma leitura difícil e incómoda, densa, cheia de significado e profunda. É e não é um livro sobre adopção. É e não é um livro sobre relações familiares. É e não é um livro sobre a ditadura. É e não é um livro sobre as Avós da Praça de Maio.


A primeira parte do livro - vá! estou a ser simpática são mais 75% - é lenta e em alguns momentos enfadonha muito por conta do tom confessional, mas depois a narrativa ganha um ritmo que me agradou bastante.


É um livro pequeno mas pareceu um calhamaço.



Vencedor do Prémio Literário José Saramago 2017

Artigo no jornal online Observador


[Opinião] Beka Lamb - Zee Edgell


                       

Título: Beka Lamb

Série: -

Autor: Zee Edgell

Data de Leitura: 03/02/2025 ⮞ 21/03/2025

Classificação: 


Sinopse

Subtle yet rich descriptions of culture, society, and family life in Belize adorn Zee Edgell’s beautifully narrated story of a short time in the life of 14-year-old Beka Lamb. Through flashbacks, points on politics and independence are animated, since the political struggles for independence in Belize reflect Beka’s own developing maturity and need to assert herself. Two main features of this heartwarming story are Beka’s penchant for lying and her relationship with her older friend Troycie, whose troubling choices lead her down a self-destructive path. The pride of winning an essay contest at her convent school releases Beka’s grief over Troycie and empowers her to embrace the next phase of her life.


Minha review no GoodReads


Belize é um país da América Central, banhado pelo do Mar das Caraíbas, entre o México e a Guatemala.



A língua oficial é o inglês, uma herança do seu passado como colónia britânica (antiga Honduras Britânica), mas o crioulo belizenho e o espanhol também são falados.

Durante os anos sessenta do século XX começou a crescer um sentimento nacionalista e o desejo de se tornarem independentes, o que aconteceu em 21 de Setembro de 1981 quando oficialmente obtêm a independência do Reino Unido.


Beka Lamb foi o primeiro livro de um(a) autor(a) belizenho a ser publicado internacionalmente.

A história acompanha uma rapariga de catorze anos que tem de lidar com as expectativas da família e com o seu percurso de crescimento. Gostei muito das comparações que a autora fez entre Beka Lamb e o Belize, como se os seus destinos estivessem ligados e ambos passassem pelas mesmas transformações.


A história é interessante, os capítulos são curtos, o ritmo é bom, mas a linguagem não é fácil, principalmente com a utilização de expressões em crioulo.



Belize

[Opinião] O vício dos livros - Afonso Cruz

       



Título: O vício dos livros

Série: -

Autor: Afonso Cruz

Data de Leitura: 13/09/2022 ⮞ 15/09/2022

Classificação: 


Sinopse

Na biblioteca do faraó Ramsés II estava escrito por cima da porta de entrada: «Casa para terapia da alma». É o mais antigo mote bibliotecário. De facto, os livros completam-nos e oferecem-nos múltiplas vidas. São seres pacientes e generosos. Imóveis nas suas prateleiras, com uma espantosa resignação, podem esperar décadas ou séculos por um leitor.


Somos histórias, e os livros são uma das nossas vozes possíveis (um leitor é, mal abre um livro, um autor: ler é uma maneira de nos escrevermos).


Nesta deliciosa colheita de relatos históricos e curiosidades literárias, de reflexões e memórias pessoais, Afonso Cruz dialoga com várias obras, outros tantos escritores e todos os leitores.


Este é, evidentemente, um livro para quem tem o vício dos livros.



Minha review no GoodReads

 

Gabriela Cabal disse numa conferência que «um leitor tem a vida muito mais longa do que as outras pessoas, porque não morre até acabar o livro que está a ler. O seu próprio pai, explicava Gabriela, tinha demorado imenso a falecer, porque vinha o médico visitá-lo e, abanando tristemente a cabeça, garantia: “Não passa desta noite”; mas o pai respondia: “Não, nem pense, não se preocupe, não posso morrer porque tenho de acabar O Outono do Patriarca .” E, assim que o médico se ia embora, o pai dizia: “Tragam-me um livro mais grosso.”

Enquanto isso, amigos do meu pai, que eram saudáveis, fartavam-se de morrer. Por exemplo, uma pobre senhora que só foi ao médico fazer um check-up já não saiu”, acrescentava Gabriela.»

“É que a morte também é leitora, por isso, aconselho a que andem sempre com um livro na mão, porque, quando a morte chega e vê o livro, espreita para ver o que estamos a ler, tal como eu faço no autocarro, e distrai-se.”»

[DNF] Uma Fazenda em África - João Pedro Marques

       



Título: Uma Fazenda em África

Série: -

Autor: João Pedro Marques

Data de Leitura: 26/08/2022 ⮞ 14/09/2022

Classificação: 


Sinopse

Ao acordar em sobressalto naquela noite de junho de 1848, a jovem Benedita não podia imaginar a transformação radical que a sua vida iria sofrer. Um ano volvido, tendo perdido tudo o que a prendia a Pernambuco, embarcava com escassos haveres e o coração apertado em direção a Moçâmedes. Consigo seguia mais de uma centena de portugueses que, desiludidos com o Brasil, procuravam uma nova oportunidade, fundando uma colónia agrícola do outro lado do Atlântico. Uma Fazenda em África acompanha a vida e as histórias dos primeiros colonos numa terra brutal, trazendo à superfície os sucessos e desaires, os perigos e as surpresas da sua fixação num território inóspito e selvagem.



Minha review no GoodReads

DNF 40%


De João Pedro Marques já tinha lido O Estranho Caso de Sebastião Moncada, e tinha gostado bastante.


Como estava a apetecer-me um romance histórico achei que talvez gostasse deste Uma Fazenda em África. A premissa era interessante: uma história de amor e aventura nos primórdios da colonização de Moçâmedes, o Brasil pós-independência e as atrocidades cometidas sobre aqueles que optaram por continuar a ser portugueses; o tráfico de escravos na costa do atual Daomé; e os primórdios da colonização da costa ocidental africana.


João Pedro Marques escreve bem e não foi esse o motivo que me fez abandonar esta obra.


Achei a história enfadonha, não consegui desenvolver qualquer interesse pelas personagens, que são muitas, e não me apetece ler sobre a violência e as atrocidades cometidas.


[Opinião] O silêncio da chuva - Luiz Alfredo Garcia-Roza

   


   

Título: O silêncio da chuva

Série: Delegado Espinosa #1

Autor: Luiz Alfredo Garcia-Roza

Data de Leitura: 10/09/2022 ⮞ 12/09/2022

Classificação: 


Sinopse

No centro do Rio de Janeiro um executivo é encontrado morto com um tiro, sentado ao volante de seu carro. Além do tiro, único e definitivo, não há outros sinais de violência. É um morto de indiscutível compostura. Mas isso não ajuda: ninguém viu nada, ninguém ouviu nada.O policial encarregado do caso, inspetor Espinosa, costuma refletir sobre a vida (e a morte) olhando o mar sentado em um banco da praça Mauá. No momento tem muito sobre o que refletir. De um lado, um morto surgido num edifício-garagem; de outro, a incessante multiplicação de protagonistas do drama. Tudo se complica quando ocorre outro assassinato e pessoas começam a sumir.



Minha review no GoodReads


2,5 ⭐️


Este é o primeiro romance do carioca Luiz Alfredo Garcia-Roza, e também o primeiro da série cujo protagonista é o Delegado Espinosa.


Normalmente num romance policial passamos boa parte da narrativa à procura de quem cometeu o crime. N’O Silencio da Chuva nós leitores estamos sempre two steps ahead, sabemos toda a verdade desde as páginas iniciais, e o Delegado Espinosa é que anda, a história toda, à procura de desvendar o mistério.


Espinosa não é o típico policial: ele gosta de ler, é assíduo frequentador de alfarrabistas, é bem-educado e por vezes gosta de filosofar. Ambientado na cidade do Rio de Janeiro leva-nos a percorrer as ruas do centro - da Praça Mauá, passando pelo Flamengo, pelo Jardim Botânico e por Copacabana.


Embora bem escrito acho que precisava de um mistério mais elaborado e estimulante. É uma leitura descomprometida mas que não deixa grandes memórias.

[Opinião] O Arquipélago - Volume III - Erico Verissimo

   


       

Título: O Arquipélago

Série: O tempo e o vento #7

Autor: Erico Verissimo

Data de Leitura: 06/09/2020 ⮞ 10/09/2020

Classificação: 


Sinopse

A trilogia O tempo e o vento, que inaugura o relançamento da obra completa de Erico Verissimo pela Companhia das Letras, é a saga mais famosa da literatura brasileira. São cento e cinqüenta anos da história do Rio Grande do Sul e do Brasil que o escritor compôs em três partes - O Continente, O Retrato e O arquipélago -, publicadas entre 1949 e 1962. O arquipélago, última parte da trilogia, encerra a história da família Terra Cambará. O Brasil, o Rio Grande do Sul e Santa Fé se modernizam, e não cabem mais nos planos das oligarquias tradicionais. Os Cambarás retiram o apoio ao governo e aderem à revolução libertadora em 1923, ao lado dos arquiinimigos maragatos. No fim do conflito, guarnições militares das Missões se rebelam e Toríbio, o irmão mais velho de Rodrigo, une-se a elas na formação da coluna revolucionária liderada por Luiz Carlos Prestes. Na cidade fictícia de Santa Fé, a família Terra Cambará é abalada por novos Toríbio rompe com o irmão e Sílvia, a amada do escritor Floriano, revela seu mundo num diário surpreendente. Tudo converge para uma encruzilhada de tempos e memó o doutor Rodrigo tem um acerto de contas definitivo com o filho, Floriano, que começa a escrever o grande romance de sua vida. Na galeria de personagens de O tempo e o vento há figuras fascinantes, comparáveis a grandes ícones da literatura nacional como Peri, Capitu e Macunaíma. A forte Ana Terra, o valente capitão Rodrigo Cambará, a sedutora Luzia Silva e o curioso doutor Carl Winter são apenas alguns desses personagens, eternamente vivos na imaginação dos leitores. Desfilam no romance as disputas entre famílias pelo poder local, regional e nacional; as guerras de fronteira e as civis; a bravura dos homens e a tenacidade das mulheres; a pobreza de meios e a violência contra os desassistidos.



Minha review no GoodReads



O Tempo e o Vento de Érico Veríssimo acompanhou-me nos últimos 5 anos.

Acabo hoje uma trilogia que considero épica e que ficará na prateleira dos favoritos. Não deixa de ser com uma certa tristeza que faço as malas e deixo de a cidade de Santa Fé, o Sobrado e o Angico e todas as personagens que me acompanharam, umas mais inesquecíveis que outras.

É impossível não ficar com saudades de:

essa quase lendária Ana Terra (…) que a tradição aponta como um dos fundadores de Santa Fé. (…) essa brava pioneira que “matou um índio com um tiro nos bofes.”

Um certo Capitão Rodrigo, aventureiro, espadachim, mulherengo, homem de coragem extraordinária e apetites insaciáveis, desses que bebem a vida não aos copos, mas aos baldes.>/i>

Bibiana, um dos pilares da família eque sempre dizia que era nas noites de vento que ela mais pensava nos mortos.

Bolivar Cambará, assassinado pelos capangas dos Amarais.

O velho Licurgo, líder político de Santa Fé, republicano e com uma antiga rivalidade com a família Amaral.

Carl Winter, alemão que se radicou em Santa Fé, tornando-se íntimo da família Cambará.

Rodrigo Cambará, bisneto do Capitão e pai de Floriano, que de homem culto, médico formado e de requintados costumes, torna-se o gaúcho machão, com acessos de violência e de um incontido desejo sexual. Cheio de defeitos mas impossível não gostar.

Maria Valéria, a Dinda. Uma personagem secundária mas com um peso enorme.

Tio Bicho, o filósofo existencialista de Santa Fé.

Sílvia, casada com Jango. Os diários de Sílvia cheios de lembranças, rancores, remorsos e paixões não consumadas são maravilhosos.

Floriano, o alter ego de Érico.

Sentou-se à máquina, ficou por alguns segundos a olhar para o papel, como que hipnotizado, e depois escreveu dum jato:
Era uma noite fria de lua cheia. As estrelas cintilavam sobre a cidade de Santa Fé, que de tão quieta e deserta parecia um cemitério abandonado.

O Arquipélago – Volume III – 10/09/2022