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[Opinião] Entre a neve: Literatura - Eça de Queirós

                                 


    

Título: Entre a Neve

Série: -

Autor: Eça de Queirós

Data de Leitura: 26/12/2025 ⮞ 27/12/2025

Classificação: 


Sinopse

"A neve caía". Como um mantra que ecoa ao longo de todo esse extraordinário conto de Eça de Queiroz, a repetição da frase possibilita ao leitor mais sensível solidariza-se com o lenhador que enfrenta sozinho o frio dos montes do norte de Portugal, em busca de lenha para aquecer sua família.


Minha review no GoodReads


Nada como escolher os dias mais frios do ano – 4ºC de temperatura, -1ºC de sensação térmica em Lisboa - para ler Entre a Neve, de Eça de Queirós. Nem mesmo a lareira conseguiu afastar o frio que senti ao longo destas poucas páginas do conto.


(...) o bom Deus lá em cima parece que está tão bem agasalhado ao calor dos seus paraísos e das suas estrelas que não se lembra da pobre gente dos campos e dos montes que se arrepia de frio.


(…) e às vezes um corvo passando silencioso e noturno vinha bater o ar em redor dele com a selvagem palpitação de asas.


E o lenhador, com o peito erguido, os cabelos desmanchados, vermelho, trespassado de chuvas, feroz, com o machado erguido nas mãos, com justos e trágicos encarniçamentos, lutava contra os troncos, contra os ramos, contra a inchação das raízes, contra as duras cortiças e os filamentos tenazes; e enchia o chão de ramagens negras, de braços mortos de árvores, caídos e inertes como armaduras vencidas.


Estava só. Só. Nem pastores, nem vaqueiros, nem caminheiros perdidos. Só. E iam-se os pássaros, iam-se as folhas, ia-se a luz. Ele ficava só.


A neve riscava a noite de branco. Ao longe uivavam os lobos.

E a neve descia. As sombras dos corvos sumiram-se para além das ramas negras. Os cabelos desapareceram. Só ficou a neve!

[Opinião] Os Malaquias - Andréa del Fuego

                                      



Título: Os Malaquias

Série: -

Autor: Andréa del Fuego

Data de Leitura: 16/12/2025 ⮞ 21/12/2025

Classificação: 


Sinopse

"Serra Morena é íngreme, úmida e fértil. Aos pés dela vivem os Malaquias."

Após perderem os pais, os irmãos Nico, Júlia e Antônio veem-se diante de nova realidade. O mais velho, ainda criança, passa a trabalhar na fazenda de um poderoso da região; a menina, por sua beleza, é adotada e levada para outra cidade; o caçula, um garoto que não cresce, é acolhido pelas freiras do orfanato.

Separados ainda na infância, os três vão seguir diferentes caminhos, a um só tempo fantásticos e reais. A escassez de água, de amor e de unidade, que acompanha a família desde o raio que a originou, torna-se abundância à medida que as páginas do livro revelam novas e extraordinárias personagens — freiras francesas, traficantes de bebês, espíritos ancestrais e pessoas que desaparecem no vapor de um bule a ferver —, entremeadas por um vale mágico, despertado pela chegada de uma hidrelétrica à cidade de Serra Morena, onde pouco a pouco os Malaquias tentam se (re)encontrar.

Romance de estreia de Andréa del Fuego, Os Malaquias recebeu em 2011 uma das mais prestigiosas honrarias da literatura, o prêmio José Saramago. Um tributo fascinante à memória, à família, à vida e à humanidade de cada um de nós.


Minha review no GoodReads


A Pediatra, um romance muito apreciado, não me conquistou. Ainda assim, não desisti de Andrea del Fuego e, por isso mesmo, fui atrás do romance que venceu o Prémio Saramago. Talvez desta vez a experiência fosse diferente!


Gostei do início. Uma tragédia marcada por raios.


Todos se recolheram, a noite ia grossa, o vento afrouxava as janelas. As telhas vibravam, num mínimo gesto a tempestade nasceria dentro da casa. Os pais dormiam num quarto. Nico, Júlia e Antônio noutro, na mesma cama, aninhados em forma de embrião.

Um gato esticou as pernas, as paredes retesaram-se. A pressão do ar achatou os corpos contra o colchão, a casa inteira acendeu-se e apagou-se, uma lâmpada no meio do vale. O trovão soou comprido até alcançar o lado oposto da serra. Debaixo da construção, a terra, de carga negativa, recebeu o raio positivo de uma nuvem vertical. As cargas invisíveis encontraram-se na casa dos Malaquias.

O coração do casal fazia a sístole, momento em que a aorta se fecha. Com a via contraída, a descarga não pôde atravessá-los e descarregar-se. Na passagem do raio, pai e mãe inspiraram; o músculo cardíaco recebeu o abalo sem escoamento. O clarão aqueceu o sangue em níveis solares e pôs-se a queimar toda a árvore circulatória. Um incêndio interno que fez o coração, cavalo que corre por si, terminar a corrida em Donana e Adolfo.

Nas crianças, nos três, o coração fazia a diástole: a via expressa estava aberta. O vaso dilatado não perturbou o curso da electricidade e o raio seguiu pelo funil da aorta. Sem afectar o órgão, os três tiveram queimaduras ínfimas, imperceptíveis.


Lembrei-me de imediato de Eu Canto e a Montanha Dança.


No entanto, a autora começou a perder-me quando o realismo mágico entrou em cena, à boleia de frases como:

— Maria? Vem ver, o Nico caiu no bule.


O realismo mágico é como o sal, uma pitada a mais e arruína o prato. Foi, basicamente, o que aconteceu.

[Opinião] A Livraria dos Finais Felizes - Jenny Colgan

                                      



Título: A Livraria dos Finais Felizes

Série: Kirrinfief #1

Autor: Jenny Colgan

Data de Leitura: 12/12/2025 ⮞ 20/12/2025

Classificação: 


Sinopse

Nina Redmond é literalmente uma casamenteira. Encontrar o livro perfeito para cada leitor é a sua paixão... e também o seu trabalho. Ou pelo menos era, até a biblioteca pública onde trabalhava fechar as

portas.

Determinada a encontrar um novo rumo, Nina muda-se para uma pacata vila na Escócia, onde compra uma carrinha e a transforma numa livraria itinerante, viajando pelas Terras Altas e transformando as vidas daqueles com quem se cruza com o poder da literatura.

É então que descobre um mundo de aventura, magia e romance num lugar que aos poucos se vai tornando no seu lar… um lugar onde ela poderá escrever o seu final feliz para sempre.



Minha review no GoodReads


Valeu por tornar as minhas noites de insónia um pouco mais curtas, mesmo assim, conseguiu que durante grande parte do tempo estivesse a revirar os olhos. No fim, ficam as páginas… e as árvores sacrificadas para nada.

[DNF] Atmosfera: Uma História de Amor - Taylor Jenkins Reid

                                   


  


Título: Atmosfera: Uma História de Amor

Série: -

Autor: Taylor Jenkins Reid

Data de Leitura: 14/12/2025 ⮞ 16/12/2025

Classificação: 


Sinopse

No verão de 1980, Joan Goodwin, professora de Astrofísica, inicia o seu treino de astronauta no Centro Espacial Johnson, em Houston, juntamente com um grupo excecional de outros candidatos: o piloto naval Hank Redmond, os especialistas de missão John Griffin e Lydia Danes, a afável Donna Fitzgerald e a magnética e misteriosa engenheira aeronáutica Vanessa Ford.


À medida que os novos astronautas se preparam para os seus primeiros voos, Joan descobre uma paixão e um amor que nunca imaginara, o que a leva a começar a pôr em causa tudo aquilo em que acredita acerca do seu lugar no Universo.


Até que, em dezembro de 1984, durante a missão STS-LR9, tudo muda numa questão de segundos.


Minha review no GoodReads


I love the smell of a DNF in the morning!


O problema não sou eu, és tu Taylor Jenkins Reid.


À terceira é de vez.


A escrita não me prende, as personagens são pãezinhos sem sal, os diálogos quase que beiram a infantilidade, não consigo sentir qualquer emoção, e, finalmente, as histórias não desafiam, não perturbam, não deixam rasto.


O único ponto positivo foi aguçar a minha curiosidade relativamente às constelações e estrelas.

Em Lisboa, não vou andar a olhar para o céu, até porque só consigo ver os faróis dos aviões, mas quem sabe, nas férias no Algarve, consiga pôr alguns conhecimentos entretanto adquiridos em prática.


DNF a 31%, porque uma miúda tem princípios e não desiste a meio de um capítulo — e não volto.

[Opinião] O Navegador - Clive Cussler

                                 


    

Título: O Navegador

Série: NUMA Files #7

Autor: Clive Cussler

Data de Leitura: 30/11/2025 ⮞ 13/12/2025

Classificação: 


Sinopse

A equipa NUMA está de volta com uma aventura surpreendente através do tempo e do espaço que poderá transformar o mundo para sempre.

Há alguns anos, uma antiga estátua fenícia conhecida como O Navegador foi roubada do Museu de Bagdad, e agora há homens dispostos a tudo para lhe deitarem as mãos. A primeira vítima é um negociante de antiguidades, assassinado a sangue-frio. Não fosse a ajuda atempada de Austin e Zavala, e a segunda vítima, um investigador da ONU, estaria num túmulo aquático.

Austin questiona-se o que tem de tão especial aquela estátua. A busca por respostas vai levar a equipa NUMA numa odisseia surpreendente através do tempo e do espaço, que envolve os tesouros perdidos do rei Salomão, um misterioso pacote de documentos codificado pessoalmente por Thomas Jefferson e um projeto científico secreto que poderá transformar o mundo para sempre. E isso antes de as surpresas começarem…


Minha review no GoodReads


007 meets Indiana Jones in Mission Impossible


Exagero delicioso para uns… e irritante para outros. 


Kurt Austin é o James Bond da história, galã, competente em tudo o que faz, invencível mesmo nas situações mais absurdas.


Carina encontrara dezenas de homens memoráveis ao longo das suas viagens pelo mundo. Mas Austin era verdadeiramente único. (…) Os olhos dela vaguearam pelo seu corpo musculoso e bronzeado. Pela aparência das cicatrizes pálidas, que lhe marcavam a pele, essa não fora a primeira vez que ele se colocara em perigo e pagara um preço por isso.


Joe Zavala é o Indy, charmoso q.b., um aventureiro, e o companheirão do Kurt.


(…) Zavala (…) era um piloto qualificado, com centenas de horas de experiência, sobre o mar e em atividades submarinas, e que era um engenheiro brilhante com experiência na conceção e operação de veículos subaquáticos.


Carina Mechadi é a Bond Girl do tempo do Pierce Brosnan, trabalha na UNESCO, é competente, inteligente, com uma beleza exótica e nunca ofusca o herói.


Carina era uma mulher impressionante. Magra e de pernas esguias, tinha uma presença física que atraía muitos olhares, já para não mencionarmos a sua pele cor de canela e os seus brilhantes olhos azuis, sob sobrancelhas perfeitamente arqueadas. Usava o cabelo preto, pela altura dos ombros, preso e afastado do rosto.


A equipa NUMA funciona mais ou menos como uma equipa Mission Impossible, tem recursos ilimitados, resgates que desafiam a física, tecnologia milagrosa e sempre à disposição.


Os vilões são parecidos com todos os vilões de um qualquer blockbuster americano, megalómanos, previsíveis e sempre exagerados.


Quanto à história:

900 a.C. – os fenícios escondem uma estatueta/estátua numa caverna.

1809 – Thomas Jefferson, terceiro presidente dos EUA, um estudioso e entusiasta da cartografia e do período fenício, cria cifras e mensagens encriptadas relacionadas com o artefacto.

2003 – Durante a invasão do Iraque pelos EUA, o Museu Nacional do Iraque é saqueado, incluindo peças relevantes para a história da estátua.

No presente, Kurt Austin e a NUMA procuram a estátua do Navegador, enquanto o enredo explora delírios históricos americanos típicos, a possibilidade dos fenícios terem chegado à América do Norte, das minas de Salomão estarem naquele território e até da Arca da Aliança ter sido escondida por lá. Demasiados delírios, até para o Canal História!

É um fenómeno curioso, e profundamente americano, esta necessidade de ligar qualquer mistério histórico aos Estados Unidos, mesmo quando a plausibilidade é nula. Há uma tendência para transformar a identidade histórica num épico grandioso, exagerado e quase sempre inverosímil.

Exagerado até à medula, mas arrancou-me gargalhadas em certas passagens que são: priceless.

[Opinião] Tempo de Natal - Hermann Hesse

                                   


Título: Tempo de Natal

Série: 

Autor: Hermann Hesse

Data de Leitura: 07/12/2025 ⮞ 13/12/2025

Classificação: 


Sinopse

Para o poeta Hermann Hesse, o Natal está sobretudo associado às memórias da infância. Mas, à medida que foi envelhecendo, Hesse começou, progressivamente, a distanciar-se do sentimentalismo comercial e pagão que passou a dominar a festa do amor.

As reflexões e os poemas sobre esta celebração reunidos neste pequeno livro, na sua maioria organizados pela ordem cronológica do seu surgimento, traduzem uma dicotomia de reverência e distanciamento trocista sobre esta «festa sempre maravilhosa, apesar de toda a vertigem».


Ilustrado com aguarelas do autor.


Minha review no GoodReads


Hermann Hesse foi deixando de acreditar no espírito e na magia do Natal. Se fosse vivo, dava em maluco com esta época.


«Se se quisesse usar um único exemplo para demonstrar como, na era tecnológica, a nossa vida degenerada também corrompe aquilo que é amável e sagrado e o transforma no seu oposto, bastaria pensar na festa natalícia: a lenda comovente da criança deitada na manjedoura em Belém transformou-se neste negócio louco e extenuante a que hoje chamamos Natal.»

[Opinião] Small Things Like These - Claire Keegan

                                      



Série: -

Autor: Claire Keegan

Data de Leitura: 03/12/2025 ⮞ 08/12/2025

Classificação: 


Sinopse

It is 1985, in an Irish town. During the weeks leading up to Christmas, Bill Furlong, a coal and timber merchant, faces into his busiest season. As he does the rounds, he feels the past rising up to meet him - and encounters the complicit silences of a people controlled by the Church.


Minha review no GoodReads


Em 2022 li A Rapariga da Carta, de Emily Gunnis, que me apresentou às Lavandarias da Madalena, onde as mulheres perdidas (prostitutas, mães solteiras ou raparigas sem família) lavavam os seus pecados. Embora não tenha sido uma leitura memorável, esses asilos ficaram na minha memória, até porque o último deles fechou, pasmem-se, em 1996.

small thing like these is anything but small.

É delicado na escrita, mas poderoso no impacto. Mesmo já conhecendo o tema, Claire Keegan encontra uma abordagem profundamente íntima, que nos desarma. A história é narrada com uma simplicidade que torna ainda mais marcante o gesto de Furlong, de num mundo de silêncios e sombras, não virar a cara.


(...) he found himself asking was there any point in being alive without helping one another? Was it possible to carry on along through all the years, the decades, through an entire life, without once being brave enough to go against what was there and yet call yourself a Christian, and face yourself in the mirror?