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[DNF] Bem-vindos à Livraria Hyunam-dong - Hwang Bo-Reum

                                   



Título: Bem-vindos à Livraria Hyunam-dong

Série: -

Autor: Hwang Bo-Reum

Data de Leitura: 12/10/2025 ⮞ 14/10/2025

Classificação: 


Sinopse

Esta é uma história sobre aceitação e como os livros podem mesmo salvar as nossas vidas. Perfeita para quem procura um romance acolhedor e comovente.

Há muitas livrarias, mas a Hyunam-dong é muito especial. É a «casa» de Yeongju, o sonho da sua vida. Desmotivada, ela sentia que os seus dias eram um autêntico vazio e decidiu largar tudo para concretizar um grande e antigo desejo: abrir uma livraria. Pode não ser fácil, porém… À medida que Yeongju põe tudo de si naquele espaço e na forma como acolhe os clientes, descobre verdadeiramente quem é.

E, conforme as pessoas falam com ela e procuram mais e mais a Livraria Hyunam-dong como um lugar para perceber o que realmente conta na vida, a partilha de sentimentos prova que todos podem, afinal, encontrar o seu lugar.

Romance que nos faz mergulhar numa sensação profunda de reconhecimento e bem-estar, esta é a história que já mostrou a milhões de pessoas em todo o mundo que os livros podem mesmo tirar-nos de sítios escuros, mudar-nos e curar as nossas feridas - na alma e no coração.


Minha review no GoodReads


DNF Pág 28


Comecei Bem-vindos à Livraria de Hyunam-dong cheia de boa vontade — e arrependi-me logo a seguir.

O que encontrei não foi um romance mas a forma sólida de uma potente infusão de valeriana.




A protagonista, Yeongju, larga tudo para abrir uma livraria.

E quando digo tudo, refiro-me também a qualquer resquício de carisma, simpatia, conflito, energia vital, chama interior, ou mesmo aquela centelha de humanidade que distingue uma personagem de uma pedra.

É como se a autora tivesse decidido escrever sobre o tédio — e conseguido com brilhante realismo.

Cada capítulo é um hino à monotonia: preparar café, arrumar livros, olhar para o tempo e pensar coisas "muito profundas" sobre café e o sentido da vida.

Há quem diga que o livro tenta ser uma espécie de healing literature, mas acho que a autora confunde lentidão com profundidade e, no fim, acaba por parecer um manual de mindfulness com pretensões literárias, cheio de frases do género Se conseguir sentir aquela felicidade uma vez mais, talvez possa começar de novo e outras pérolas de sabedoria Pinterest/Instagram.

Todos nós somos como uma ilha: sozinhos e solitários. Isso não é mau. A solidão liberta-nos, tal como o isolamento torna a nossa vida mais profunda. Nos meus romances preferidos, as personagens são como ilhas isoladas. Nos que adoro, as personagens costumavam sê-lo, até os seus destinos se interligarem gradualmente. São o tipo de histórias em que se sussurra: ‘Estavas aqui?’ E uma voz responde: ‘Sim, sempre.’ Pensamos para connosco: Estava um pouco só, mas, por causa de ti, sinto-me menos sozinha. É um sentimento maravilhoso e o livro que tem na mão dá-me um gostinho dessa alegria.


Tudo é tão zen que, quando comecei a ouvir música ambiente dentro da cabeça, desisti.


Uma verdadeira prova de resistência.

E eu falhei redondamente.

Também, quem me manda escolher um livro sobre uma livraria coreana?

Eu, que nem sou fã de literatura sul-coreana, achei boa ideia aventurar-me!



Achievement Heart-Warmers


[DNF] O Instituto - Stephen King

                                   


 

Título: O Instituto

Série: -

Autor: Stephen King

Data de Leitura: 07/10/2025 ⮞ 11/10/2025

Classificação: 


Sinopse

A meio da noite, na casa de uma rua tranquila de Minneapolis, intrusos matam silenciosamente os pais de Luke Ellis e levam-no numa carrinha preta. A operação demora menos de dois minutos. Luke vai acordar no Instituto, num quarto parecido com o dele mas sem janela. E há outras portas, que fecham outras crianças com talentos especiais telecineia e telepatia - e que ali chegaram da mesma maneira que Luke: Kalisha, Nick, George, Iris e Avery Dixon de dez anos. Todos eles estão na Metade da Frente. Luke fica a saber que há outros na Metade de Trás, de onde nunca se volta.

Na mais sinistra das instituições, a diretora, a senhora Sigsby, e a sua equipa dedicam-se impiedosamente a extrair dessas crianças a força de seus dons paranormais. Não há escrúpulos aqui. Se se colaborar, recebe-se fichas para as máquinas de venda automática. Se não, a punição é brutal. À medida que cada nova vítima desaparece para a parte de trás, Luke vai ficando cada vez mais desesperado para sair e pedir ajuda. Mas nunca ninguém conseguiu fugir do Instituto.



Minha review no GoodReads


DNF 30%


Saí da minha zona de conforto para ler algo do “mestre” Stephen King… e que decepção.


A história começa com Tim Jamieson, um ex-polícia que cede o seu lugar num avião a um funcionário do governo em troca de dinheiro e resolve seguir viagem à boleia pelas estradas dos Estados Unidos, rumo a Nova Iorque. Está numa fase de transição na vida, depois de ter deixado a carreira nas forças policiais. Tim aceita um trabalho simples como guarda-nocturno na pequena cidade de DuPray — um trabalho que parece tranquilo, com pouco risco e rotina previsível.


Mas, de forma abrupta, depois do capítulo 15, Tim desaparece sem explicações. Cheguei a pensar que me faltavam páginas do livro, mas não: Tim desaparece da face da terra, e a história muda para Luke Ellis.


Luke Ellis é um rapaz prodígio de 12 anos, que foi aceite no MIT e noutra universidade, e que tem capacidades psíquicas (telepatia e telecinese). Um exagero que se torna ridículo. A história recomeça com a tragédia da sua família: os pais de Luke são assassinados e ele é sequestrado por agentes do Instituto, uma organização secreta que captura crianças com poderes especiais.


Toda a cena do assassinato dos pais de Luke é risível. Aliás, os assassinos são tão desastrados que dá logo para perceber que este tal de Instituto é feito de gente a dar para o incompetente.


Luke acorda numa cópia do seu quarto, mas sem janelas. É tão inteligente que demora bastante tempo a perceber o que lhe aconteceu. Lá, encontra outras crianças com habilidades semelhantes, mas a atmosfera é opressiva e controladora. Os funcionários do Instituto usam técnicas de manipulação e punição para manter as crianças subjugadas e tentam explorar os seus poderes para fins obscuros.


Mas, como é óbvio, é preciso arranjar forma de Luke se rebelar — e nada mais, nada menos, do que receber um computador com internet. Com internet!!! E sem qualquer tipo de vigilância. Claro que Luke, com a inteligência que tem, descobre logo uma vulnerabilidade no sistema e consegue aceder ao mundo exterior. Really? Aqui já tinha revirado tanto os olhos que eles estavam alojados na nuca.


Tentei, não gostei, não tenho vontade de continuar. O Instituto é exagerado, previsível e incrivelmente preguiçoso.

Mestre? Só se for da Culinária…






Achievement  Spine Tinglers


[Opinião] A Boa Sorte - Rosa Montero

                                 


  

Título: A Boa Sorte

Série: -

Autor: Rosa Montero

Data de Leitura: 25/09/2025 ⮞ 11/10/2025

Classificação: 


Sinopse

O que leva um homem a descer de um comboio antes do fim da viagem e ir esconder-se numa cidadezinha decadente? Um desejo de recomeço ou a necessidade de acabar de vez com a vida?

Pablo, o protagonista em fuga, é conduzido pelo destino a Pozonegro, um antigo centro de extração de carvão que é hoje uma localidade moribunda.

No entanto, há humor nesta cidade triste e maldita, porque a vida é feita de alegria. E de segredos, claro. Todos os habitantes de Pozonegro possuem o seu. Alguns são apenas ridículos. Outros, sombrios e muito perigosos. Há gente que finge ser quem não é ou que esconde a sua verdadeira motivação, num intrincado jogo de espelhos; e há também a luminosa, imperfeita e um pouco louca Raluca, que pinta quadros e cuja vida se cruza com a de Pablo.

Um romance sobre o bem e o mal, uma radiografia dos anseios humanos – medo e serenidade, culpa e redenção, ódio e desejo –, uma história de um amor terno e febril, A Boa Sorte espelha, sobretudo, um profundo amor à vida. No fim de contas, depois de cada perda, pode haver um recomeço. Porque a sorte só é boa se assim o decidirmos.



Minha review no GoodReads


Estou como a Rosie: terceiro livro de Rosa Montero, terceiro cinco estrelas.


A Boa Sorte é uma história sobre sobrevivência emocional. Fala da linha ténue entre a coragem e a covardia, da necessidade de se reinventar e do frágil equilíbrio entre fugir e viver. Porque, como sugere Montero, a verdadeira sorte talvez seja apenas continuar — apesar de tudo.


(…) A vida é como um mar, e nós somos barquinhos. Subimos e descemos com as ondas, e às vezes há tempestades pavorosas. Tempestades das quais não conseguimos escapar.

[Opinião] O meu nome é Emilia del Valle - Isabel Allende

                                    



Série: -

Autor: Isabel Allende

Data de Leitura: 01/10/2025 ⮞ 11/10/2025

Classificação: 


Sinopse

São Francisco, 1866. Uma freira irlandesa, abandonada após uma tórrida relação com um aristocrata chileno, dá à luz uma menina a que chama Emilia del Valle. Criada com devoção pelo seu carinhoso padrasto, Emilia tornar-se-á uma jovem autónoma e independente, que desafiará as normas sociais do seu tempo para seguir a sua verdadeira paixão: a escrita.

Com apenas 17 anos, publica o seu primeiro romance de cordel, sob pseudónimo masculino. Quando o mundo da ficção se revela incapaz de conter o seu desejo de aventura, Emilia opta pelo jornalismo. No San Francisco Examiner, conhece o talentoso Eric Whelan, com quem partirá para o Chile, para cobrir a iminente guerra civil.

À medida que a guerra se intensifica, Emilia vê-se em perigo de vida e numa encruzilhada, colocando em questão a sua identidade, as suas raízes e o seu destino.


Minha review no GoodReads


Isabel Allende é uma contadora de histórias de mão cheia.

Em O Meu Nome é Emilia del Valle, a autora regressa ao território que domina: o das mulheres que se fazem a si mesmas, num mundo que insiste em dizer-lhes quem devem ser. A protagonista, filha de uma noviça irlandesa e de um aristocrata chileno, cresce entre dois mundos — o da devoção e o da rebeldia — e aprende desde cedo que o destino das mulheres só muda quando elas próprias o escrevem.

Emilia é uma personagem curiosa e com sede de liberdade, uma alma indomável. Começa como romancista escondida atrás de um pseudónimo masculino, mas acaba por encontrar a sua verdadeira voz no jornalismo, ao lado do colega Eric Whelan. Juntos, partem para o Chile em plena guerra civil — e é nesse cenário de destruição e descoberta que Emilia confronta o passado, o amor e o sentido de pertença.

O livro não traz grandes surpresas, mas compensa com a delicadeza dos afectos e com a força das convicções. Há aqui ecos das grandes heroínas de Allende: livres, indóceis, criadas pela força das palavras.

Foi um tempo bem passado. A história é cativante, as personagens têm densidade emocional e o enredo oferece uma boa combinação de romance, aventura e reflexão. Não é a obra mais arrebatadora de Allende, mas é uma leitura sólida, bonita e inspiradora.

Achievement Hispanic Heritage 




[Opinião] As Musas - Alex Michaelides

                                   


 

Título: As Musas

Série: -

Autor: Alex Michaelides

Data de Leitura: 29/09/2025 ⮞ 05/10/2025

Classificação: 


Sinopse

TODOS TEMOS SEGREDOS. E TODOS OS ESCONDEMOS.

ATÉ DE NÓS PRÓPRIOS.

Se Edward Fosca é um assassino? Disso, Mariana tem a certeza. Mas Fosca é intocável. O belo e carismático professor de Tragédia Grega na Universidade de Cambridge é adorado por funcionários e alunos ? principalmente pelas alunas que fazem parte das Musas, uma sociedade secreta.

Mariana é uma terapeuta de grupo extraordinária, mas as suas tragédias pessoais perseguem-na. Quando Tara, membro das Musas, é encontrada esfaqueada e sem vida, Mariana fica obcecada com o caso. Como antiga aluna de Cambridge, suspeita imediatamente de que, por detrás da beleza do edifício medieval que abriga a instituição secular e as suas antigas tradições, se esconde algo sinistro. Apesar de Edward Fosca ter um álibi, para Mariana ele é o responsável por aquela morte. Mas o que faria o professor atacar assim uma das alunas? E por que razão não para de falar dos ritos de Perséfone e da sua viagem ao Submundo?

Quando outro corpo é encontrado, Mariana fica descontrolada. Tem de conseguir provar a culpa de Fosca. Esta obsessão ameaça minar todas as relações que tem, mas ela está determinada e quer deter este assassino, ainda que isso lhe possa custar tudo… inclusive a própria vida.


Minha review no GoodReads


Uma história que começa com ecos de Eurípides e termina com ecos de desilusão.


As Musas, de Alex Michaelides, é um thriller psicológico que combina trauma, terapia e mitologia grega. Mariana Andros, terapeuta ainda marcada pela morte do marido, regressa a Cambridge para apoiar a sobrinha Zoe, mas envolve-se numa investigação sobre o assassinato de uma estudante, convencida de que o carismático professor de tragédias gregas, Edward Fosca, está por trás dos crimes. Rodeado pelas suas devotas alunas, conhecidas como As Musas, Fosca torna-se o centro do mistério e da obsessão de Mariana.


O livro apresenta uma ideia central sedutora: ambiente académico fechado, crimes ligados à mitologia e capítulos curtos que tornam a leitura ágil. No entanto, o enredo revela-se pouco verosímil, cheio de coincidências e falsos indícios, com personagens pouco consistentes — incluindo uma polícia pouco convincente. Mariana, instável e difícil de acompanhar, perde parte da força psicológica que se esperaria da protagonista.


No geral, As Musas tem uma base conceptual interessante, mas fica aquém do seu potencial, com desvios narrativos e inconsistências que prejudicam o impacto da história.


Achievement Community Picks


[Opinião] Escovar a Gata e Outras Histórias - Jane Campbell

                                    



Série: -

Autor: Jane Campbell

Data de Leitura: 22/09/2025 ⮞ 30/09/2025

Classificação: 


Sinopse

Depois de lermos esta estreia provocadora de Jane Campbell acerca do mundo sensual das idosas, daremos realmente razão a quem inventou a expressão «velhos são os trapos». Longe de caírem nos estereótipos da velhice, as protagonistas – tantas vezes atiradas para lares ou casas de família só por terem passado dos setenta – querem continuar a ter a chave de casa e não deixam que a sua vida seja controlada por outros.

Susan descobre-se sexualmente atraída pela sua cuidadora no hospital; ao enviuvar, Linda resolve procurar o homem com quem teve um relacionamento escaldante durante um congresso; Martha, isolada num apartamento em tempos de pandemia, aceita a proposta do governo para desfrutar da companhia de um robô bem-comportado, que engana descaradamente; a avó que vai de comboio ao encontro da neta decide casar-se com o único passageiro da carruagem para não ter de ficar a tomar conta da irmã inválida e prepotente; a senhora que escova a gata do filho recorda, nos movimentos do animal, as próprias experiências sexuais e pensa que a nora há de acabar por pô-las na rua, a ela e à siamesa…

Escrito de forma desafiante, cheio de uma sabedoria intemporal, eis uma fantástica lição contra o preconceito e os equívocos que rodeiam a vida das mulheres mais velhas.



Minha review no GoodReads


(…) a velhice não é para medricas.


A sociedade continua a olhar para as mulheres idosas com preconceito. Enquanto a velhice nos homens é associada a sabedoria ou autoridade, nelas é vista como perda — de beleza, relevância e voz. Desejo, autonomia ou inconformismo tornam-se suspeitos e alvo de censura. O corpo envelhecido permanece tabu, símbolo de fragilidade e lembrança do que se prefere ignorar. É essa invisibilidade que Jane Campbell desafia em Escovar a Gata e Outras Histórias, dando protagonismo a mulheres que recusam ser reduzidas ao silêncio ou à margem.


A colectânea mergulha nos dilemas, desejos e memórias de personagens femininas idosas. Os contos abordam temas como sexualidade, vergonha, trauma, solidão e a procura de um lar — real ou simbólico — com uma frontalidade rara, sobretudo no que toca ao desejo feminino e ao corpo envelhecido.




Campbell escreve com lucidez e coragem, sem sentimentalismos. Cada conto abre uma janela para vidas marcadas por segredos, feridas e paixões, lembrando-nos que envelhecer não apaga o desejo nem a necessidade de pertencimento. A autora não procura finais felizes nem reconciliações fáceis; prefere expor o lado cru da velhice, confrontando-nos com vergonhas antigas, desejos reprimidos e decisões irrevogáveis.


São treze contos no total, de qualidade desigual, mas os meus favoritos foram:

Escovar a Gata, Lamia, Lacrimae Rerum, Bondade, O Bem-te-Vi, Estar Sozinho e 183 Minutos.

[Opinião] A Trilogia de Paris - Colombe Schneck

                                    



Título: A Trilogia de Paris

Série: -

Autor: Colombe Schneck

Data de Leitura: 21/09/2025 ⮞ 30/09/2025

Classificação: 


Sinopse

Escrito em resposta a Annie Ernaux e em conversa com Elena Ferrante, A Trilogia de Paris é composta por três planos semiautobiográficos da vida de uma mulher: Dezassete Anos; Duas Burguesinhas; A Ternura do Crawl. Explorando questões sobre sexualidade, autonomia corporal, feminilidade, amizade e perda, esta é uma comovente meditação sobre a viagem de uma vida para resgatar o corpo feminino, aceitando-o com todas as suas falhas e aprendendo a celebrar a sua força.

Em Dezassete Anos, a romancista descobre que está grávida mal chega à idade dos primeiros amores e do final do secundário. Decide não ficar com a criança, mas o calvário do aborto transforma a rapariga despreocupada que era, obrigando-a a entrar na idade adulta.

Duas Burguesinhas conta o nascimento de uma amizade entre duas meninas de boas famílias que são parecidas, crescem juntas e seguem o mesmo caminho: casam, têm filhos, divorciam-se ao mesmo tempo, vivem histórias de amor semelhantes... até ao dia em que a morte bate à porta de uma delas.

Em A Ternura do Crawl, uma mulher conta a sua doce e dolorosa história de amor com Gabriel, um homem que lhe assegura a sinceridade dos seus sentimentos, mas cujo comportamento incerto faz pairar a dúvida sobre a solidez da relação.



Minha review no GoodReads


Dezassete Anos 


Nem a minha família nem os meus amigos mais íntimos sabem o que me aconteceu na primavera de 1984.


Há livros curtos que, apesar da brevidade, nos deixam suspensos durante muito tempo. Dezessete Anos é um desses livros. Um relato intenso e delicado sobre adolescência, descoberta do corpo e liberdade dos anos 80, confrontada com a gravidez inesperada e a difícil decisão do aborto, tomada às vésperas do exame final do secundário.


Tenho dezassete anos e tenho um amante. Não estou apaixonada, mas tenho um amante.


Com estas palavras simples e directas mergulhamos na vida de uma adolescente criada num meio privilegiado, filha de dentistas de esquerda, onde a liberdade de pensamento era incentivada e os direitos discutidos mais do que os deveres. Uma jovem confiante, que acreditava que bastava sonhar para concretizar, e para quem até a pílula parecia apenas uma formalidade aborrecida.

Essa liberdade, tão típica do início dos anos 80 — quando a SIDA ainda não tinha chegado e tudo parecia possível — choca-a de repente com o impensável. A adolescente que sonhava viajar, estudar e tornar-se enviada especial em Nova Iorque descobre-se grávida a um mês do exame final. A decisão, tomada em segredo entre pais de silêncios diferentes, marca um corte profundo na vida que até então lhe parecia intocável.

O aborto nunca é um acto banal; nenhuma mulher sai ilesa desta decisão, nenhuma mulher esquece completamente esse acontecimento que a tocou na carne e no espírito. A ausência que resulta dessa escolha acompanha-a ao longo dos anos, como uma sombra discreta, mas sempre presente.


Agora posso escrever, a tua ausência acompanha-me há trinta anos.

 

A tua ausência permitiu-me ser a mulher livre que hoje sou.


Este relato é, ao mesmo tempo, íntimo e universal. Não é um texto de vitimização, mas um testemunho sobre escolhas, consequências e liberdade. É também um convite à empatia e à reflexão, tanto para leitoras como para leitores, independentemente da idade.


Duas Burguesinhas


Depois de Dezessete Anos, Schneck continua a explorar relações humanas em Duas Burguesinhas, um livro que nos fala de amizade com uma delicadeza rara. Acompanhamos Esther e Héloïse, duas amigas que se conhecem na adolescência e que, ao longo das décadas, partilham percursos semelhantes: escola privada, ambiente burguês, vidas confortáveis marcadas por estudos, casamentos, filhos e até divórcios. A amizade atravessa as fases da vida, com momentos de proximidade e de afastamento, mas sempre com a presença silenciosa de uma na vida da outra.

O relato ganha maior dimensão quando a doença entra em cena. O cancro de uma das amigas torna-se o ponto de viragem da narrativa, mostrando que, por detrás da normalidade de uma vida burguesa, há sempre um confronto inevitável com a fragilidade humana. Schneck escreve sem dramatismos excessivos, mas com emoção contida, revelando o sofrimento de quem acompanha alguém próximo que vê o relógio da vida acelerar na direcção da hora final. A dor de ver quem amamos sofrer, e de sabermos que podemos perder essa presença, é algo que ultrapassa as palavras.


Como lidar com a morte quando ela está ali, crua, sem artifícios, e não há escapatória possível?


É um relato íntimo, mas também universal. Fala-nos da amizade, da passagem do tempo, do envelhecimento e da morte, mas sem perder de vista a ternura e a verdade dos pequenos gestos. É um testemunho que nos lembra o quão doloroso é assistir ao declínio de quem amamos, mas também o quanto a presença, a memória e a cumplicidade podem dar sentido ao que parece insuportável.


A Ternura do Crawl


Neste breve relato, um amor do passado é revisitado num presente marcado por medos, inseguranças e vulnerabilidades. O tema do amor — sejam reencontros ou despedidas — nunca me conquista totalmente.

Eu estava no paraíso, e sabia. (…) e não tinha dúvidas, o paraíso era ali. (…) Era o paraíso e está perdido.