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[Opinião] O Navegador - Clive Cussler

                                 


    

Título: O Navegador

Série: NUMA Files #7

Autor: Clive Cussler

Data de Leitura: 30/11/2025 ⮞ 13/12/2025

Classificação: 


Sinopse

A equipa NUMA está de volta com uma aventura surpreendente através do tempo e do espaço que poderá transformar o mundo para sempre.

Há alguns anos, uma antiga estátua fenícia conhecida como O Navegador foi roubada do Museu de Bagdad, e agora há homens dispostos a tudo para lhe deitarem as mãos. A primeira vítima é um negociante de antiguidades, assassinado a sangue-frio. Não fosse a ajuda atempada de Austin e Zavala, e a segunda vítima, um investigador da ONU, estaria num túmulo aquático.

Austin questiona-se o que tem de tão especial aquela estátua. A busca por respostas vai levar a equipa NUMA numa odisseia surpreendente através do tempo e do espaço, que envolve os tesouros perdidos do rei Salomão, um misterioso pacote de documentos codificado pessoalmente por Thomas Jefferson e um projeto científico secreto que poderá transformar o mundo para sempre. E isso antes de as surpresas começarem…


Minha review no GoodReads


007 meets Indiana Jones in Mission Impossible


Exagero delicioso para uns… e irritante para outros. 


Kurt Austin é o James Bond da história, galã, competente em tudo o que faz, invencível mesmo nas situações mais absurdas.


Carina encontrara dezenas de homens memoráveis ao longo das suas viagens pelo mundo. Mas Austin era verdadeiramente único. (…) Os olhos dela vaguearam pelo seu corpo musculoso e bronzeado. Pela aparência das cicatrizes pálidas, que lhe marcavam a pele, essa não fora a primeira vez que ele se colocara em perigo e pagara um preço por isso.


Joe Zavala é o Indy, charmoso q.b., um aventureiro, e o companheirão do Kurt.


(…) Zavala (…) era um piloto qualificado, com centenas de horas de experiência, sobre o mar e em atividades submarinas, e que era um engenheiro brilhante com experiência na conceção e operação de veículos subaquáticos.


Carina Mechadi é a Bond Girl do tempo do Pierce Brosnan, trabalha na UNESCO, é competente, inteligente, com uma beleza exótica e nunca ofusca o herói.


Carina era uma mulher impressionante. Magra e de pernas esguias, tinha uma presença física que atraía muitos olhares, já para não mencionarmos a sua pele cor de canela e os seus brilhantes olhos azuis, sob sobrancelhas perfeitamente arqueadas. Usava o cabelo preto, pela altura dos ombros, preso e afastado do rosto.


A equipa NUMA funciona mais ou menos como uma equipa Mission Impossible, tem recursos ilimitados, resgates que desafiam a física, tecnologia milagrosa e sempre à disposição.


Os vilões são parecidos com todos os vilões de um qualquer blockbuster americano, megalómanos, previsíveis e sempre exagerados.


Quanto à história:

900 a.C. – os fenícios escondem uma estatueta/estátua numa caverna.

1809 – Thomas Jefferson, terceiro presidente dos EUA, um estudioso e entusiasta da cartografia e do período fenício, cria cifras e mensagens encriptadas relacionadas com o artefacto.

2003 – Durante a invasão do Iraque pelos EUA, o Museu Nacional do Iraque é saqueado, incluindo peças relevantes para a história da estátua.

No presente, Kurt Austin e a NUMA procuram a estátua do Navegador, enquanto o enredo explora delírios históricos americanos típicos, a possibilidade dos fenícios terem chegado à América do Norte, das minas de Salomão estarem naquele território e até da Arca da Aliança ter sido escondida por lá. Demasiados delírios, até para o Canal História!

É um fenómeno curioso, e profundamente americano, esta necessidade de ligar qualquer mistério histórico aos Estados Unidos, mesmo quando a plausibilidade é nula. Há uma tendência para transformar a identidade histórica num épico grandioso, exagerado e quase sempre inverosímil.

Exagerado até à medula, mas arrancou-me gargalhadas em certas passagens que são: priceless.

[Opinião] Tempo de Natal - Hermann Hesse

                                   


Título: Tempo de Natal

Série: 

Autor: Hermann Hesse

Data de Leitura: 07/12/2025 ⮞ 13/12/2025

Classificação: 


Sinopse

Para o poeta Hermann Hesse, o Natal está sobretudo associado às memórias da infância. Mas, à medida que foi envelhecendo, Hesse começou, progressivamente, a distanciar-se do sentimentalismo comercial e pagão que passou a dominar a festa do amor.

As reflexões e os poemas sobre esta celebração reunidos neste pequeno livro, na sua maioria organizados pela ordem cronológica do seu surgimento, traduzem uma dicotomia de reverência e distanciamento trocista sobre esta «festa sempre maravilhosa, apesar de toda a vertigem».


Ilustrado com aguarelas do autor.


Minha review no GoodReads


Hermann Hesse foi deixando de acreditar no espírito e na magia do Natal. Se fosse vivo, dava em maluco com esta época.


«Se se quisesse usar um único exemplo para demonstrar como, na era tecnológica, a nossa vida degenerada também corrompe aquilo que é amável e sagrado e o transforma no seu oposto, bastaria pensar na festa natalícia: a lenda comovente da criança deitada na manjedoura em Belém transformou-se neste negócio louco e extenuante a que hoje chamamos Natal.»

[Opinião] Small Things Like These - Claire Keegan

                                      



Série: -

Autor: Claire Keegan

Data de Leitura: 03/12/2025 ⮞ 08/12/2025

Classificação: 


Sinopse

It is 1985, in an Irish town. During the weeks leading up to Christmas, Bill Furlong, a coal and timber merchant, faces into his busiest season. As he does the rounds, he feels the past rising up to meet him - and encounters the complicit silences of a people controlled by the Church.


Minha review no GoodReads


Em 2022 li A Rapariga da Carta, de Emily Gunnis, que me apresentou às Lavandarias da Madalena, onde as mulheres perdidas (prostitutas, mães solteiras ou raparigas sem família) lavavam os seus pecados. Embora não tenha sido uma leitura memorável, esses asilos ficaram na minha memória, até porque o último deles fechou, pasmem-se, em 1996.

small thing like these is anything but small.

É delicado na escrita, mas poderoso no impacto. Mesmo já conhecendo o tema, Claire Keegan encontra uma abordagem profundamente íntima, que nos desarma. A história é narrada com uma simplicidade que torna ainda mais marcante o gesto de Furlong, de num mundo de silêncios e sombras, não virar a cara.


(...) he found himself asking was there any point in being alive without helping one another? Was it possible to carry on along through all the years, the decades, through an entire life, without once being brave enough to go against what was there and yet call yourself a Christian, and face yourself in the mirror?

[Opinião] Histórias de Natal - Enid Blyton

                                      




Título: Histórias de Natal

Série: -

Autor: Enid Blyton

Data de Leitura: 02/12/2025 ⮞ 07/12/2025

Classificação: 


Sinopse

Um fantástico conjunto de contos para ler e partilhar.

Desde o Pai Natal e os seus ajudantes, às preparações de uma família para esta quadra especial, todas as personagens vivem o espírito natalício.

Esta coletânea reúne mistério e magia, júbilos e traquinices, a alegria dos momentos vividos com a família e os amigos e muita comida apetitosa - cozinhada com ingredientes que, há mais de 70 anos, têm feito as delícias dos leitores de Enid Blyton.

Diverte-te com estas histórias e tem um feliz Natal!


Minha review no GoodReads


Está a chegar a época natalícia e, para afastar o Grinch que há em mim, o melhor é dedicar algumas páginas ao espírito de Natal.


Enid Blyton é a autora da minha infância. Li tudo o que havia publicado e é, talvez, a grande responsável por me ter tornado leitora desde muito cedo. Para resgatar esse espírito mais juvenil, esse gosto pelo Natal sem o achar demasiado comercial e consumista, li este Histórias de Natal, que mais não é do que uma novela, Um Natal em Família, dividida em onze partes e intercalada com contos.


Cada parte da novela apresenta a origem de uma tradição natalícia. Gostei particularmente da do visco e da do azevinho — não fazia ideia.


No entanto, ler estas histórias, em 2025, escritas entre 1933 e 1956, mostra-nos o quanto algumas tradições mudaram ou até deixaram de existir. Mas fica a nostalgia da época e relembra-me quando, cá em casa, a miudagem ficava maluca a olhar pela janela, a imaginar ver o trenó com as renas e os seus guizos a tilintar, e quando o Pai Natal, de repente, entrava pela porta da frente para fazer as delícias dos meus sobrinhos.



[Opinião] A Mulher do Meio - Ivone Mendes da Silva

                                      


Série: -

Autor: Ivone Mendes da Silva

Data de Leitura: 05/11/2025 ⮞ 03/12/2025

Classificação: 


Sinopse

A MULHER DO MEIO

de Ivone Mendes da Silva


capa a partir de pintura

de Jan Madijn


Minha review no GoodReads


Acho que não é preciso dizer nada sobre Ivone Mendes da Silva.


15.


Ir beber um chocolate com uma amiga já bem ao fim da tarde e conversar sobre livros e sobre a vida. Caminhar pelas ruas com passo apressado e o frio a bater-me na cara. Tomar um duche quente e comer depois uma sopa de tomate já de pernas esticadas no sofá. Às vezes os dias maus acabam bem.


139.


Quem não saiu para Páscoas ao largo move-se ao sol do sábado com vagares de gato. O café tem muito menos gente. Numa das mesas senta-se uma pessoa que trabalha lá onde eu trabalho e dou uma volta escusada por entre as mesas só para não a cumprimentar. Cultivo diligente uma reputação de malcriada. Dantes ainda me acudiam alguns remorsos mas agora não, Fico assim ao abrigo de muito desagrado. (…)


210.


Roubei um figo e comi-o com o prazer tresloucado das coisas ilícitas. (…)


225.


(…)

Eu viveria para sempre assim junto ao silêncio de uma janela alta sobre um jardim de sombra.

(…)


231.


Férias. Já desci todas as persianas e guardei no frigorífico algumas coisas bem frescas. Durante uns dias bons terei a vida que gostaria de ter sempre. Nem horas marcadas nem obrigações nem vozes agrestes. Distância e sossego. Não creio que possa existir alguma coisa melhor.


249.


(…)

Faço um esforço para ser malcriada mas a maioria das pessoas apenas me acha bizarra.

[Opinião] A Catedral do Mar - Ildefonso Falcones

                                   


  

Título: A Catedral do Mar 

Série: La catedral del mar #1

Autor: Ildefonso Falcones

Data de Leitura: 20/11/2025 ⮞ 03/12/2025

Classificação: 


Sinopse

Século XIV. A cidade de Barcelona encontra-se no auge da prosperidade; cresceu até ao humilde bairro dos pescadores, cujos habitantes decidem construir, com o dinheiro de uns e o esforço de outros, o maior templo mariano conhecido: Santa Maria do Mar.

Uma construção paralela à desditosa história de Arnau, um servo da terra que foge dos abusos do seu senhor feudal e que se refugia em Barcelona. Daqui se torna cidadão e, assim, num homem livre. O jovem Arnau trabalha como estivador, palafreneiro, soldado e cambista. Uma vida extenuante, sempre à sombra da Catedral do Mar, que o tirará da condição miserável de fugitivo para lhe dar nobreza e riqueza.

Mas com esta posição privilegiada chega também a inveja dos seus pares, que tramam uma sórdida conspiração que põe a sua vida nas mãos da Inquisição… Lealdade e vingança, traição e amor, guerra e peste, num mundo marcado pela intolerância religiosa, a ambição material e a segregação social. Um romance absorvente, mas também uma fascinante e ambiciosa recreação das luzes e sombras do mundo feudal.


Minha review no GoodReads

Há uns anos li A Rainha Descalça e não gostei da experiência, e muito por conta disso parti para esta leitura com receio de voltar a passar por algo chato e penoso, mas tal não aconteceu.

N’A Catedral do Mar acompanhamos a vida de Arnau Estanyol, filho de um servo fugido, que cresce num ambiente hostil mas profundamente marcado pela devoção popular à construção de Santa Maria del Mar. A catedral funciona como um segundo protagonista, um símbolo de fé, de trabalho comunitário e, ao mesmo tempo, testemunha silenciosa das grandes mudanças da cidade.

É um daqueles romances históricos que conquista sobretudo pela sua capacidade de nos transportar para uma cidade em crescimento e de nos fazer “ver” a Barcelona medieval com os seus bairros, os ofícios, o comércio marítimo, os conflitos entre nobres e povo, e a força da Honra e da Igreja.

A história tem ritmo, é acessível e sabe equilibrar a explicação histórica com episódios de acção e conflito. Por vezes, é verdade que as sucessivas desgraças na vida de Arnau parecem acumular-se de forma quase melodramática, uma espécie de via-sacra que, embora cumpra a função de nos manter presos à narrativa, pode parecer excessiva. Ainda assim, percebo a lógica de Falcones, é através dessas desgraças que evidencia as estruturas sociais rígidas e cruéis da época.

[Opinião] Uma História Simples - Leonardo Sciascia

                                      


Título: Uma História Simples

Série: -

Autor: Leonardo Sciascia

Data de Leitura: 01/12/2025 ⮞ 02/12/2025

Classificação: 


Sinopse

Sicília, década de 1980. O telefone toca na esquadra: ao que parece, um velho diplomata quer falar com a polícia porque encontrou uma coisa estranha em sua casa. A partir daqui, tudo sucede numa espécie de ato contínuo, sem tempo para deduções ou explicações. Embora tempo pareça ser tudo o que a polícia tem a mais e não use convenientemente naquele lugar.

Ao que parece, afinal, houve um suicídio. Seria simples, a história, não fosse o jovem polícia deparar, na sua investigação, com uma enorme parede intransponível, composta pelas intrincadas argamassas que dão pelo nome de máfia, polícia, corrupção e, afinal, toda a Sicília.

Retrato de um sítio onde a verdade não conhece definição e a justiça teima em não chegar, o último livro de Sciascia é um magnífico exercício de economia de escrita, uma pequeníssima janela que abrimos e da qual, tremendamente espantados, vemos tudo.


Minha review no GoodReads


Leonardo Sciascia. Escritor, ensaísta, político italiano. Nasceu em Racalmuto, na Sicília, onde foi homenageado com uma estátua. Foi deputado pelo Partido Comunista Italiano e posteriormente pelo Partido Radical, mas dizem que manteve sempre uma postura crítica e independente.

Tornou-se bastante conhecido por abordar frontalmente a influência da máfia numa altura em que o tema ainda era tabu.


Inspirado num acontecimento real, o roubo de uma pintura de Caravaggio, A Natividade com São Francisco e São Lourenço*, Uma História Simples acompanha a investigação de um caso de aparente suicídio, que desde o início começa por levantar algumas dúvidas. Há muitas pessoas com pressa de dar o caso como encerrado, mas há pequenos detalhes que contradizem o veredicto do comissário encarregado do caso.


O que parecia banal é afinal muito mais profundo. Com uma história cheia de pistas subtis, Sciascia mostra-nos onde a lógica, a ética e a corrupção entram em confronto, e ao longo de todo o conto sentimos o peso silencioso da máfia siciliana.


Se perguntarmos a um siciliano:

E la mafia?

a resposta será, quase sempre:

La mafia non c'è!


* A Natividade com São Francisco e São Lourenço está desaparecida desde 1969, quando foi roubada do Oratório de São Lourenço em Palermo. Os investigadores acreditam que a pintura mudou de mãos entre a Máfia Siciliana nas décadas seguintes ao roubo e pode ainda estar escondida.

Uma réplica está pendurada no altar, desde 2015.


Itália