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[Opinião] O Barman do Ritz - Philippe Collin

                                  


Título: O Barman do Ritz

Série: -

Autor: Philippe Collin

Data de Leitura: 19/10/2025 ⮞ 31/10/2025

Classificação: 


Sinopse

No coração de uma França invadida, um barman enfrenta segredos, traições e o peso da história.

Junho de 1940. Os alemães entram em Paris. Por toda a parte, o recolher obrigatório é rigoroso - exceto no grandioso hotel Ritz. Ávidos por descobrir a arte de viver à francesa, os ocupantes misturam-se com a elite parisiense, enquanto, por detrás do balcão do bar, trabalha Frank Meier, o maior barman do mundo.

Adaptar-se é uma questão de sobrevivência. Meier revela-se um diplomata habilidoso: conquista a simpatia dos oficiais alemães e compra a sua tranquilidade, juntamente com a de Luciano, o seu aprendiz, um judeu italiano. Dentro das paredes do Ritz, homens e mulheres, ocupantes ou resistentes, heróis ou oportunistas de guerra, vão amar-se, trair-se e também lutar por uma certa ideia de civilização.

Todos conhecem os seus famosos cocktails, desde Ernest Hemingway, a Scott Fitzgerald, Coco Chanel e Jean Cocteau… Mas o que poucos sabem é que Meier, emigrante austríaco, veterano da Primeira Guerra, maestro deste estranho bailado, esconde um segredo: o barman do Ritz é judeu.

Inspirada em factos reais, esta é uma história de coragem, sacrifício e lealdade, em que destinos se entrelaçam no tenso cenário da Segunda Guerra Mundial, e a luta pela sobrevivência se mistura com a busca por dignidade, mesmo nos momentos mais sombrios.


Minha review no GoodReads


Entre o luxo e a sombra da guerra




Em O Barman do Ritz, Philippe Collin transforma o lendário bar do Hotel César Ritz, na Place Vendôme, em Paris, num micro-universo da França ocupada (1940-1944).


“O barman do Ritz vê desaparecer o seu último cliente do mundo de antes. (…) Por isso, fica a ver entrar o primeiro cliente do mundo que há de vir.”


Frank Meier, barman austríaco naturalizado francês, oculta a sua origem judaica enquanto continua a servir, com a maior elegância, os mais sofisticados cocktails à alta sociedade parisiense e aos oficiais nazis que frequentam o espaço.


A escolha do bar como cenário central é um dos grandes trunfos do romance. Em vez de acompanharmos soldados ou combatentes no campo de batalha, observamos a guerra “por dentro”, a partir de um bastidor de luxo onde se cruzam ocupantes e ocupados, vítimas e cúmplices.

O Ritz é um lugar de brilho e de medo, de sedução e de sobrevivência.


Frank Meier é uma figura complexa, moralmente ambígua — e talvez por isso mesmo fascinante. Não é um herói nem um vilão, serve os ocupantes, protege alguns fugitivos, arrisca a vida, oculta a sua identidade e, por vezes, colabora até certo ponto.


“Sou Frank Meier, chefe de bar do Ritz, antigo combatente em Verdun e judeu asquenaze.”




Frank Meier existiu de facto. Nasceu em 1884, trabalhou em Nova Iorque, lutou em Verdun sob as ordens de Pétain e, anos depois, tornou-se o célebre barman do Ritz, a quem se atribuía o título de “melhor barman do mundo”. Durante a ocupação, o hotel foi residência de oficiais da Wehrmacht e ponto de encontro de figuras como Arletty, Gabrielle Chanel, Jean Cocteau, Ernst Jünger ou Sacha Guitry — todos retratados no romance, entre o glamour e a cumplicidade com o poder nazi.


As partes escritas sob a forma de diário fictício dão ritmo e profundidade à história, e permitem um olhar mais íntimo sobre o protagonista e os seus medos.

O amor platónico de Frank Meier por Blanche Auzello, a mulher do director do Ritz, confere à história uma melancolia discreta, um contraste com o horror que se adensa fora das paredes do hotel.


É um romance que, sem perder o ritmo nem o encanto, nos lembra que mesmo nos lugares de luxo mais cintilantes pode esconder-se o medo e que a sobrevivência, nesses tempos, raramente vinha sem compromissos.