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[Opinião] Faca - Meditações na Sequência de Uma Tentativa de Homicídio - Salman Rushdie

                                    


 

Título: Faca - Meditações na Sequência de Uma Tentativa de Homicídio

Série: -

Autor: Salman Rushdie

Data de Leitura: 22/10/2025 ⮞ 30/10/2025

Classificação: 


Sinopse

«Compreendi que tinha de escrever o livro que o leitor agora lê antes de poder passar a qualquer outra coisa. Escrever seria a minha maneira de possuir o que acontecera, assumir o seu controlo, torná-lo meu, recusar-me a ser uma mera vítima. Responderia à violência com a arte.»

A 12 de agosto de 2022, trinta e três anos depois da fatwa contra ele decretada pelo aiatola Khomeini, assim que subiu ao palco do anfiteatro de Chautauqua, Nova Iorque, para falar sobre a importância de manter os escritores fora de perigo, Salman Rushdie foi atacado, e quase morto, por um jovem com uma faca.

Falando pela primeira vez, e com memorável pormenor, dos traumáticos acontecimentos desse dia, Salman Rushdie responde à violência com a arte e relembra-nos o poder que as palavras possuem de racionalizar o que é impensável. Ao fazê-lo, oferece-nos não só o relato pungente e profundamente pessoal da experiência – e superação – desse atentado, mas também uma revigorante meditação sobre a vida, a perda, o amor e a arte – e sobre a descoberta da força que permite a alguém voltar a erguer-se.


Minha review no GoodReads


Em 1989, o Aiatola Ruhollah Khomeini proclamou a fatwa contra Salman Rushdie — foi assim que muitos de nós fomos apresentados a um autor então praticamente desconhecido (pelo menos para a maioria dos portugueses). Obviamente, na altura comprei a obra maldita, li-a, não gostei (acho que nem sequer percebi) e deixei o autor encostado nas prateleiras do esquecimento.


O ataque que o autor sofreu a 12 de Agosto de 2022, em Nova Iorque, voltou a colocá-lo no meu radar como possível leitura, mas A Feiticeira de Florença foi ficando na lista “para mais tarde”. Ou melhor, voltou a ficar esquecida porque achei mais interessante ler as memórias do ataque e dos meses de convalescença.


Rushdie realiza um excelente trabalho. Relata a história do ataque, das facadas que sofreu por parte de um fundamentalista muçulmano, descreve tudo aquilo de que se recorda até à chegada ao hospital, e a recuperação no hospital — e consegue manter o interesse na leitura mesmo quando descreve as diferentes etapas da sua convalescença.

Ele não se limita a relatar o evento, mas usa-o como lente para examinar a natureza do ódio, o peso do medo e a coragem necessária para dizer a verdade diante da possibilidade de aniquilação.


Achei talvez desnecessário o capítulo da conversa imaginária com o agressor, mas percebo que por vezes verbalizar, imaginar ou escrever sobre certas experiências pode ser tão terapêutico.


*****


(…) não seríamos quem somos hoje sem as calamidades dos nossos ontens.

 

Durante estas vazias noites sem dormir, pensava muito na Faca como ideia. Quando uma faca pratica o primeiro corte num bolo de noiva, isso faz parte do ritual pela qual duas pessoas se unem. Uma faca de cozinha é uma parte essencial do ato criativo da culinária. Um canivete suíço é um auxiliar, capaz de executar muitas pequenas mas necessárias tarefas, tais como abrir uma garrafa de cerveja. A navalha de Occam é uma faca conceptual, uma faca em teoria, que elimina uma porção de disparates incitando-nos a preferir as explicações mais simples possíveis às mais complexas para as coisas. Por outras palavras, uma faca é um utensílio, e adquire significado pelo uso que dela fazemos. É moralmente neutra. O que é imoral é o uso indevido das facas.


A arte não é um luxo. Está na essência da nossa humanidade e não requer proteção especial a não ser o direito de existir.


Aceita a discussão, a crítica, até a rejeição. Não aceita a violência.


Achievement Memorable Memoirs