Série: -
Autor: Jane Campbell
Data de Leitura: 22/09/2025 ⮞ 30/09/2025
Classificação: ⭐⭐⭐⭐
Sinopse
Depois de lermos esta estreia provocadora de Jane Campbell acerca do mundo sensual das idosas, daremos realmente razão a quem inventou a expressão «velhos são os trapos». Longe de caírem nos estereótipos da velhice, as protagonistas – tantas vezes atiradas para lares ou casas de família só por terem passado dos setenta – querem continuar a ter a chave de casa e não deixam que a sua vida seja controlada por outros.
Susan descobre-se sexualmente atraída pela sua cuidadora no hospital; ao enviuvar, Linda resolve procurar o homem com quem teve um relacionamento escaldante durante um congresso; Martha, isolada num apartamento em tempos de pandemia, aceita a proposta do governo para desfrutar da companhia de um robô bem-comportado, que engana descaradamente; a avó que vai de comboio ao encontro da neta decide casar-se com o único passageiro da carruagem para não ter de ficar a tomar conta da irmã inválida e prepotente; a senhora que escova a gata do filho recorda, nos movimentos do animal, as próprias experiências sexuais e pensa que a nora há de acabar por pô-las na rua, a ela e à siamesa…
Escrito de forma desafiante, cheio de uma sabedoria intemporal, eis uma fantástica lição contra o preconceito e os equívocos que rodeiam a vida das mulheres mais velhas.
Minha review no GoodReads
(…) a velhice não é para medricas.
A sociedade continua a olhar para as mulheres idosas com preconceito. Enquanto a velhice nos homens é associada a sabedoria ou autoridade, nelas é vista como perda — de beleza, relevância e voz. Desejo, autonomia ou inconformismo tornam-se suspeitos e alvo de censura. O corpo envelhecido permanece tabu, símbolo de fragilidade e lembrança do que se prefere ignorar. É essa invisibilidade que Jane Campbell desafia em Escovar a Gata e Outras Histórias, dando protagonismo a mulheres que recusam ser reduzidas ao silêncio ou à margem.
A colectânea mergulha nos dilemas, desejos e memórias de personagens femininas idosas. Os contos abordam temas como sexualidade, vergonha, trauma, solidão e a procura de um lar — real ou simbólico — com uma frontalidade rara, sobretudo no que toca ao desejo feminino e ao corpo envelhecido.
Campbell escreve com lucidez e coragem, sem sentimentalismos. Cada conto abre uma janela para vidas marcadas por segredos, feridas e paixões, lembrando-nos que envelhecer não apaga o desejo nem a necessidade de pertencimento. A autora não procura finais felizes nem reconciliações fáceis; prefere expor o lado cru da velhice, confrontando-nos com vergonhas antigas, desejos reprimidos e decisões irrevogáveis.
São treze contos no total, de qualidade desigual, mas os meus favoritos foram:
Escovar a Gata, Lamia, Lacrimae Rerum, Bondade, O Bem-te-Vi, Estar Sozinho e 183 Minutos.