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[Opinião] Era uma vez... - Júlia Lopes de Almeida

                                


  

Título: Era uma vez...

Série: -

Autor: Júlia Lopes de Almeida

Data de Leitura: 10/09/2025 ⮞ 11/09/2025

Classificação: 


Sinopse

Em Era uma vez…  Julia Lopes de Almeida, leva o leitor para o mundo da fantasia.

Uma bela princesa que perde a mãe ainda bebê é criada pelo pai com muito zero e excesso de mimos. Crescendo neste mundo onde todas as suas vontades são atendidas a princesa torna-se cruel e egoísta. Um dia passeando pelo reino houve três cegos falarem de seu comportamento abusivo. Revoltada, ela cria desafios impossíveis que eles deverão cumprir para salvar suas vidas.

Esta reedição do livro publicado em 1917 teve a ortografia atualizada e conta com notas explicativas, para termos e palavras fora de uso.


Minha review no GoodReads



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Júlia Lopes de Almeida nasceu em 1862, no Rio de Janeiro, filha dos emigrantes portugueses Adelina Pereira Lopes, musicista, e Valentim José da Silveira (Visconde de São Valentim), médico. A família pertencia à classe alta, o que proporcionou uma excelente educação à promissora escritora.

O pai de Júlia descobriu a vocação da filha, e incentivou-a a que escrevesse um artigo para a Gazeta de Campinas. E foi assim que tudo teve início. Júlia foi uma escritora com uma vasta produção literária conseguindo, à época, viver dos rendimentos da sua profissão.

Era uma mulher muito à frente do seu tempo, era republicana, defendia a educação feminina, o divórcio e a abolição da escravatura.



... Os povos mais fortes, mais práticos, mais ativos, e mais felizes são aqueles onde a mulher não figura como mero objeto de ornamento; em que são guiadas para as vicissitudes da vida com uma profissão que as ampare num dia de luta, e uma boa dose de noções e conhecimentos sólidos que lhe aperfeiçoem as qualidades morais. Uma mãe instruída, disciplinada, bem conhecedora dos seus deveres, marcará, funda, indestrutivelmente, no espírito do seu filho, o sentimento da ordem, do estudo e do trabalho, de que tanto carecemos.

- Júlia Lopes de Almeida, em A Mensageira


Júlia Lopes de Almeida teve uma vida intelectual bastante activa, fez parte do grupo de intelectuais que criaram a Academia Brasileira de Letras, mas o seu nome não foi incluído. Era mulher - a ABL era um clube do Bolinha – e em vez dela foi considerado o nome do marido, Filinto de Almeida – Cadeira 3, sem produção literária de destaque.

Após a sua morte, em 1934, Júlia Lopes de Almeida foi caindo no esquecimento, mas o seu regresso aos escaparates das livrarias deveu-se à leitura obrigatória para o vestibular da Unicamp.


Aos mais desatentos (onde me incluo) há em Lisboa um busto da escritora, ali no Jardim Gomes de Amorim.

O monumento, obra de Margarida Lopes de Almeida, composto de busto em bronze sobre pedestal de pedra, foi oferecido pelas mulheres brasileiras às mulheres portuguesas. O busto, executado em 1939, só viria a ser inaugurado, no Jardim Gomes de Amorim, localizado na Praceta da Av. António José de Almeida, em 28 de Março de 1953.



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Era uma vez... é um conto pouco conhecido, escrito pela brasileira Júlia Lopes de Almeida, uma autora que felizmente vem sendo redescoberta nos últimos anos.


O conto tem início como tantas fábulas — com a fórmula mágica do “era uma vez” —, mas o tom ingénuo esconde uma crítica subtil. A história apresenta-nos um rei, uma princesa e um reino que parecem saídos de um livro infantil, mas rapidamente percebemos que Júlia está a brincar com o género. A história mostra como a ambição, a vaidade e a injustiça se instalam até nos lugares onde supostamente deveria reinar a bondade.


A moral é clara: nem sempre os contos de fadas terminam em “felizes para sempre”, e a vida real exige vigilância, consciência e responsabilidade. Mais do que entreter, Júlia Lopes de Almeida quis despertar nos leitores a noção de que os modelos sociais e de poder, tal como nos contos, podem ser questionados e transformados.


Um texto curto, mas cheio de camadas, que confirma a força literária e a atualidade de uma autora que merece cada vez mais espaço nas minhas leituras.