Série: -
Autor: Socorro Acioli
Data de Leitura: 16/09/2025 ⮞ 16/09/2025
Classificação: ⭐⭐⭐⭐
Sinopse
Desenvolvido na oficina de Gabriel García Márquez, o romance de Socorro Acioli conta a história de um jovem que descobre possuir o fantástico dom de ouvir as preces das mulheres para santo Antônio.
Pouco antes de morrer, a mãe de Samuel lhe faz um último pedido: que ele vá encontrar a avó e o pai que nunca conheceu. Mesmo contrariado, o rapaz cumpre a promessa e faz a pé o caminho de Juazeiro do Norte até a pequena cidade de Candeia, sofrendo todas as agruras do sol impiedoso do sertão do Ceará. Ao chegar àquela cidade quase fantasma, ele encontra abrigo num lugar curioso: a cabeça oca e gigantesca de uma estátua inacabada de santo Antônio, que jazia separada do resto do corpo. Mas as estranhezas não param aí: Samuel começa a escutar uma confusão de vozes femininas apenas quando está dentro da cabeça. Assustado, se dá conta de que aquilo são as preces que as mulheres fazem ao santo falando de amor. Seu primeiro contato na cidade será com Francisco, um rapaz de quem logo fica amigo e que resolve ajudá-lo a explorar comercialmente o seu dom da escuta, promovendo casamentos e outras artimanhas amorosas. Antes parada no tempo, a cidade aos poucos volta à vida, à medida que vai sendo tomada por fiéis de todos os cantos, atraídos pelo poder inaudito de Samuel. Em meio a esse tumulto, ele irá descobrir a verdade sobre o desaparecimento do pai e se apaixonar por uma voz misteriosa que se destaca entre as tantas outras que ecoam na cabeça do santo.
Já consagrada por seus livros infantojuvenis, a escritora Socorro Acioli apresenta este seu primeiro romance dirigido ao público adulto, desenvolvido na oficina Como Contar um Conto, promovida por Gabriel García Márquez em Cuba.
Minha review no GoodReads
Em A Cabeça do Santo, Socorro Acioli constrói uma história envolvente, que mistura o realismo fantástico tupiniquim com as cores e o calor do sertão cearense. A premissa é original, Samuel, depois da morte da mãe, parte em busca da família que nunca conheceu e acaba por se refugiar no interior da cabeça inacabada de uma estátua de Santo António. É aí que descobre ter o dom de ouvir as preces das mulheres da região, vozes carregadas de desejos, frustrações e esperanças.
Gostei muito da forma como a autora cria esse ambiente de religiosidade popular, fé e superstição, mas também de humor e cumplicidade. A relação de Samuel com Francisco, e as várias histórias de amor e de vida que se cruzam através das vozes, dão ao livro um ritmo vivo e uma certa delicadeza poética.
A leitura é rápida, acessível e cheia de imagens interessantes. Ainda assim, o final não me conquistou totalmente — ficou aquém da força que o enredo vinha a construir, mas não retira o mérito de ser um livro marcante, diferente e muito bem escrito.
— Foi a morte que me ensinou. O tempo de sonhar é em cima da terra.
Era tudo tão lindo que nem coube nos seus pequenos sonhos. Ela precisou aprender a sonhar mais.
— Final, final mesmo, Samuel, é só quando eu baixar teu caixão na cova. Ainda dá tempo.
— Tu sonha muito, Chico.
— Foi a morte que me ensinou. O tempo de sonhar é em cima da terra.
E por fim, há aquelas delícias que só mesmo no português brasileiro:
Era bonita, Madeinusa, sempre foi. Seu pai falava que coisa linda como ela haveria de ser importada, como o rádio que ele comprou. Na caixa estava escrito: «Made in usa».
— O nome da minha filha veio do estrangeiro, eu só fiz ajuntar as letras. (…)
Isto relembrou-me que o nome Valdisnei é a forma brasileira de homenagear o Walt Disney.