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[Opinião] Levarei o fogo comigo - Leïla Slimani

                         



Título: Levarei o fogo comigo

Série: In the Country of Others #3

Autor: Leïla Slimani

Data de Leitura: 12/05/2025 ⮞ 25/05/2025

Classificação: 


Sinopse

Mia e Inês formam a terceira geração da família Belhaj, que conhecemos nas páginas de o país dos outros. Nasceram em Marrocos, na década de 1980, num país dividido entre o desejo de modernidade e o medo de perder a alma e as tradições. É todo um novo mundo, e as duas irmãs terão de encontrar nele o seu lugar, cada uma à sua maneira, na solidão ou no exílio, no excesso ou na contenção, enfrentando o preconceito e o desprezo enquanto abraçam todas as promessas.


O fôlego que as move é a ânsia de liberdade, que tem as suas raízes nas mulheres cujo sangue lhes corre nas veias: a avó Mathilde, a mãe Aïcha e a tia Selma. É nessa busca pela liberdade que Mia parte para Paris, levando consigo o fogo e a escrita. Caberá a Mia contar a história do seu povo.


Levarei o Fogo Comigo completa um tríptico magistral, retrato dos heróis e heroínas deste e de outros tempos. Uma saga inspirada na família da escritora, eivada de um impressionante vigor poético, que chega ao fim, mas permanecerá com os milhões de leitores que se apaixonaram por estas vidas..



Minha review no GoodReads


Neste último volume seguimos Mia e Inès, filhas de Aïcha e Mehdi. Educadas à francesa, em escolas elitistas de Casablanca, sentem-se estrangeiras no próprio país. Entre a repressão sexual, os silêncios familiares e a vontade de liberdade, Mia parte para Paris e depois Londres. Inès acaba por seguir a irmã. Aliás, são os pais que incentivam as filhas a sair de Marrocos e não regressar:

«Mia, vai e não voltes.» Falar-lhe-ia de Cortés, o conquistador que, chegado à baía de San Juan, decidiu queimar os barcos para resistir à tentação de dar meia-volta. «Não guardes forças para o regresso e nada o mais longe que puderes. Percebi tudo, sabes, e vi tudo. O que te fizeram sofrer e o que dirão de ti. Deverás pensar como uma mulher a monte, minha filha, porque é a nostalgia, sempre, a perdição dos criminosos em fuga. Um aniversário, um enterro ou simples saudade do país. A nostalgia fá-los regressar e eles arrependem-se. Não devias regressar a Ítaca, mas sim encontrar para ti uma ilha como a dos Lotófagos, uma ilha para esquecer o regresso, para nem sequer sentir vontade disso.» Fora o que ele fizera. Oferecia-lhe o mesmo destino, o destino de um homem sem passado. «Sim, as pessoas tentarão convencer-te. Pensarás que tens alguma coisa para fazer aqui, que podes ser útil. Mas não acredites nisso. Enfia cera nos ouvidos, amarra-te ao mastro, lembra-te do que te disse. Não voltes. Essas histórias de raízes não passam de uma maneira de te pregar ao chão, portanto não importa o passado, a casa, os objetos, as recordações. Ateia um grande incêndio e leva o fogo contigo. Não te digo até um dia, minha querida, digo-te adeus. Empurro-te do cimo da falésia, solto a corda e observo-te a nadar. Meu amor, não cedas no que toca à liberdade, desconfia do calor da tua própria casa.»

E, então, dar-lhe-ia o livro. Ela pousaria o embrulho no colo. «Obrigada, papá.» Lentamente, rasgaria o papel: A Vida Não É Aqui.


Ao escolher centrar o romance na terceira geração dos Belhaj — ou seja, na sua — Leïla Slimani oferece-nos uma história íntima, em torno da questão da identidade, das raízes múltiplas e do desejo de não renegar nem umas nem outras.

«Podemos amar um país que não nos ama? Podemos ser, ao mesmo tempo, daqui e de lá?»