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[Opinião] As Meninas - Lygia Fagundes Telles

                      



Título: As Meninas

Série: -

Autor: Lygia Fagundes Telles

Data de Leitura: 10/04/2025 ⮞ 15/05/2025

Classificação: 


Sinopse

Num pensionato de freiras paulistano, em 1973, três jovens universitárias começam sua vida adulta de maneiras bem diversas. A burguesa Lorena, filha de família quatrocentona, nutre veleidades artísticas e literárias. Namora um homem casado, mas permanece virgem. A drogada Ana Clara, linda como uma modelo, divide-se entre o noivo rico e o amante traficante. Lia, por fim, milita num grupo da esquerda armada e sofre pelo namorado preso.

As meninas colhe essas três criaturas em pleno movimento, num momento de impasse em suas vidas. Transitando com notável desenvoltura da primeira pessoa narrativa para a terceira, assumindo ora o ponto de vista de uma ora de outra das protagonistas, Lygia Fagundes Telles constrói um romance pulsante e polifônico, que capta como poucos o espírito daquela época conturbada e de vertiginosas transformações, sobretudo comportamentais.

Obra de grande coragem na época de seu lançamento (1973), por descrever uma sessão de tortura numa época em que o assunto era rigorosamente proibido, As meninas acabou por se tornar, ao longo do tempo, um dos livros mais aplaudidos pela crítica e também um dos mais populares entre os leitores da autora.



Minha review no GoodReads

Gosto muito da Lygia Fagundes Telles, mas como diz o ditado, “no melhor pano cai a nódoa”.

As Meninas é muitas vezes apontado como um dos grandes romances da literatura brasileira do século XX. Publicado em 1973, em plena ditadura militar, acompanha o dia-a-dia de três meninas que partilham um quarto num pensionato de freiras em São Paulo.

Vêm de mundos muito distintos e isso faz com que o romance se construa como um mosaico de vivências femininas marcadas por várias formas de opressão: a familiar, a social, a política e até a que cada uma impõe a si própria.

Lorena é uma estudante de Direito, a família pertence à alta burguesia paulistana, foi educada num ambiente conservador, vive dividida entre os valores tradicionais que interiorizou e um desejo de liberdade que não consegue realizar. É romântica e fantasiosa, marcada por uma relação doentia com a mãe e por um amor platónico por um médico casado com uma catrefada de filhos, que alimenta com cartas nunca enviadas.

Lia é uma militante política de esquerda, que se envolve em acções clandestinas contra o regime militar. O companheiro desapareceu e a família faz parte da classe operária. 

Ana Clara vem de uma família humilde e vive numa espiral de degradação marcada pela toxicodependência, pela prostituição e por distúrbios do foro emocional. É vítima da violência e da indiferença daqueles que a rodeiam. 

A narrativa alterna constantemente entre os pensamentos das três raparigas e, dessa forma fragmentada e com mudanças bruscas de ponto de vista, Lygia Fagundes Telles constrói um retrato complexo da juventude urbana brasileira nos anos 1970.

O uso do fluxo de consciência exige uma atenção constante e torna-se cansativo, especialmente quando as vozes das personagens se misturam de forma tão subtil. Aqueles saltos repentinos entre presente, memória e devaneio podem mesmo parecer labirínticos.

É um romance sobre intimidade feminina, resistência, alienação e a busca de sentido num tempo de censura, medo e silêncio, mas há algo na forma como está escrito que não me agradou e a mensagem perdeu-se.