Translate

Pesquisar neste blogue

[Opinião] Esperança: A Autobiografia - Papa Francisco

                      



Título: Esperança: A Autobiografia

Série: -

Autor: Papa Francisco

Data de Leitura: 21/04/2025 ⮞ 29/04/2025

Classificação: 


Sinopse

A primeira autobiografia alguma vez escrita por um papa no ativo.

Um documento excecional, publicado no Jubileu de 2025, o dos «peregrinos de esperança».

Por vontade do Papa Francisco, este documento excecional deveria ter visto a luz apenas após a sua morte. Porém, o novo Jubileu da Esperança e as necessidades do tempo fizeram-no decidir difundir agora este precioso legado.

Esperança é a primeira autobiografia publicada por um papa na história. Uma autobiografia completa, cuja escrita demorou seis anos, que remonta ao início do século XX, com as raízes italianas e a emigração aventureira dos antepassados para a América Latina, desenvolvendo-se através da infância, dos entusiasmos e perturbações da juventude, a escolha vocacional, a maturidade, até ao seu pontificado e ao tempo presente.

Ao narrar as suas memórias com uma profunda força narrativa, Francisco aborda também as questões cruciais do pontificado e desenvolve com coragem, franqueza e profecia os temas mais importantes da guerra e paz (incluindo os conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente), migrações, crise ambiental, política social, condição da mulher, sexualidade, desenvolvimento tecnológico, futuro da Igreja e das religiões.

Rica em revelações e reflexões iluminantes, é uma autobiografia humaníssima, comovente e capaz de fazer humor, que representa um testamento moral e espiritual destinado a fascinar os leitores de todo o mundo.

Um livro enriquecido com fotografias extraordinárias, incluindo algumas privadas e inéditas, provenientes do arquivo pessoal do Papa Francisco.



Minha review no GoodReads


Independentemente das crenças de cada um, a mensagem é poderosa.

Franciscus
1936-2025


(…) mas a esperança é sobretudo a virtude do movimento e o motor da mudança: é a tensão que une memória e utopia para construir realmente os sonhos que nos aguardam. E se um sonho enfraquece, é necessário voltar a sonhá-lo, sob novas formas, consultando com esperança as brasas da memória.


Pensar combater o mal com o mal significa inevitavelmente construir o pior.


Apenas quem constrói pontes poderá avançar: os construtores de muros acabarão aprisionados pelos muros que eles próprios ergueram.


O ódio, a divisão e a vingança apenas servem para envenenar a esperança e tiram-nos tudo aquilo que talvez queiramos defender, que amamos.


A pior mentira, a maior e mais perigosa, é «a verdade menos um», anotava Lanza del Vasto, uma poliédrica figura de escritor, filósofo, pensador cristão e ativista não-violento contra a guerra e os armamentos nucleares. Um artesão da paz. Não a verdade, mas a sua aparência negociada, a sua distorção cómica ou dramática: uma atitude que torna verosímil o falso, aceitável o erro, que torna arrogante o inepto, sapiente o ignorante, poderoso o incapaz. É Judas o mestre do verosímil. Do mexerico. E o mexerico e o verosímil são os mais desleais adversários da verdade das coisas. Há sempre algo de demoníaco no mexerico e na calúnia.


Quando, acabado de ser eleito, tomei posse do apartamento pontifício, senti dentro de mim distintamente erguer-se um «não». O apartamento papal no terceiro andar do Palácio Apostólico não é luxuoso. É antigo, feito com bom gosto, grande, mas não luxuoso. Porém, no final, é como um funil invertido. É espaçoso, mas a entrada é muito estreita. Entra-se a conta-gotas, e eu, é esta a questão, não posso viver sem gente.


(…) desde rapaz, sempre procurei fugir dos linguareiros, de quem falava dos outros: sempre me pareceu uma doença grave, que anestesia o coração. «Mata mais a língua do que a espada», diz o livro do Sirácida (Sir 28,18), pois o mexerico, a maledicência não é de modo algum uma peculiaridade inocente: é mais uma peste que apenas traz divisão e sofrimento.


Apenas começamos a caminhar se nos dermos conta daquilo que nos falta, porque se pensarmos que não nos falta nada, não progredimos de todo. É esta a proporção a descobrir a cada passo: é necessário caminhar com um pé no âmbito da segurança, em tudo o que adquirimos e assimilámos, mas com o outro a sondar as zonas de risco, que devem ser proporcionadas, e aventurarmo-nos, ir mais além.


Sem risco não se avança. Mas também não se avança muito lançando-nos de uma ravina.


Quando acontecer, não serei sepultado em São Pedro, mas em Santa Maria Maior: o Vaticano é a casa do meu último serviço, não a da eternidade. Irei para o espaço onde agora guardam os candelabros, próximo da Rainha da Paz a quem sempre pedi ajuda e pela qual, no decurso do pontificado, fui abraçado mais de cem vezes.


Os homens e as mulheres não são partes de uma engrenagem mecânica, nem tão-pouco a soma de exigências ou desejos, sem consciência e sem vontade, (…)


Lembra-nos que apagar as diferenças é, no fundo, apagar a humanidade.


É estranho que ninguém se preocupe com a bênção de um empresário que explora as pessoas, e esse é um pecado gravíssimo, ou com quem polui a casa comum, enquanto se escandaliza quando o papa abençoa uma mulher divorciada ou um homossexual.


Ficou agora consagrado que a possibilidade de celebrar segundo o missal pré-conciliar, em latim, deve ser expressamente autorizada pelo Dicastério para o Culto, que apenas a concederá em casos particulares. Pois não é saudável que a liturgia se torne ideologia.


É curioso este fascínio pelo que não se compreende, que parece um tanto oculto e que, por vezes, parece interessar também as gerações mais jovens. Muitas vezes, esta rigidez é acompanhada nas vestes rebuscadas e caras, nos bordados, nas rendas, nos roquetes. Não é gosto pela tradição, mas ostentação de clericalismo, que na verdade não é mais do que a versão eclesiástica do individualismo. Por vezes, estes disfarces escondem desequilíbrios, desvios afetivos, dificuldades comportamentais, um mal-estar pessoal que pode ser instrumentalizado. Durante os meus anos de pontificado, tive de intervir sobre este problema em quatro casos, três em Itália e um no Paraguai: dioceses que aceitavam seminaristas já afastados por outros seminários, e quando isto acontece há habitualmente algo que não corre bem, algo que leva a esconder a própria personalidade em contextos fechados ou sectários.

Um cardeal norte-americano contou-me que um dia se apresentaram a si dois sacerdotes acabados de ordenar, para pedir autorização para celebrar a missa em latim.

«Sabem latim?», perguntou o cardeal.

«Não, mas estudá-lo-emos», responderam os dois jovens padres.

«Então, façam assim», disse o cardeal, «antes de aprenderem latim, observai a vossa diocese e vede quantos migrantes vietnamitas existem: então, estudem em primeiro lugar o vietnamita. Mas quando tiverdes aprendido o vietnamita, considerai também a quantidade de paroquianos de língua hispânica e percebereis que aprender o espanhol vos será muito útil para o vosso serviço. Depois do vietnamita e do espanhol, venham ter comigo e falaremos do latim...»


A migração é sempre um direito duplo: direito a encontrar na pátria as condições para uma existência digna e direito a deslocar-se quando aquelas condições mínimas não existem. No entanto — e não podia deixar de pensar nisso quando regressava de Qaraqosh de automóvel, entre multidões de jovens a quem tinha sido roubado tudo exceto a esperança —, nem diante de infernos como este o mundo tomou consciência desta verdade universal.


A esperança é um valor supremo, e o seu contrário é o inferno já em terra, de tal modo que Dante, significativamente, colocou à porta do inferno a frase «Abandonai toda a esperança, vós que entrais.»


(…) de resto, o cómico não é senão o trágico visto de costas (…)


A educação é sempre um ato de esperança que do presente olha o futuro; e, tal como a esperança, é peregrina, pois não pode existir uma educação estática. É um percurso em dois sentidos, um diálogo, que não significa condescendência nem relativismo, e que revela o seu segredo em três linguagens: a da mente, a do coração e a das mãos. A maturidade exige que se pense aquilo que se sente e se faz, que se sinta aquilo que se pensa e se faz, que se faça aquilo que se sente e se pensa. É um coro, uma harmonia que precisa de ser cultivada, antes de tudo, em nós mesmos.