Título: Belladonna
Série: -
Autor: Daša Drndić
Data de Leitura: 11/01/2025 ⮞ 03/03/2025
Classificação: ⭐⭐⭐⭐
Sinopse
Andreas Ban, psicólogo que já não exerce e escritor que já não escreve, vive sozinho num apartamento austero numa pequena cidade da Croácia. Rodeado por livros, fotografias, resultados de exames médicos, cartas por responder e caixas por abrir, resgata memórias da família, de amigos perdidos, de antigos pacientes, e das suas histórias irremediavelmente entrançadas com a sombra da Segunda Guerra Mundial e do nazismo croata. Vendo-se definhar às mãos da velhice e da doença, apenas o cinismo e a ironia servem de armas a um intelectual marginalizado. Belladonna é uma poderosa parábola sobre o envelhecimento e a enfermidade numa Europa onde as atrocidades cometidas no século passado ainda palpitam. Pois, como defende Andreas Ban, é precisamente sobre coisas de que não se pode falar que devemos falar.
Minha review no GoodReads
Beladona, também conhecida como erva-moura, bagas do diabo, morte bela, erva do diabo, o que parece terrível e ameaçador. Beladona tem também nomes mais inofensivos, uva-de-cão, meimendro, dulcamara, doce-amarga.
(...)
A beladona oculta o seu veneno em bonitas bagas negro-malva, nas folhas e nas raízes. As bagas estão cheias de um sumo como tinta preta, agridoce, do tamanho de cerejas, e são refrescantes como uma bebida vitaminada, por isso tentam quem passa: colhe-me, colhe-me e voa para a terra dos sonhos. Essas bagas venenosas aninham-se em pequenas taças verdes, de cinco pontas, e oscilam calmamente nelas à brisa do verão e do outono. Se as comerem, umas poucas bagas podem matar uma criança, enquanto um adulto precisa de cerca de vinte para começar a relaxar, a partir para paisagens fantásticas, porque a beladona tem um poderoso efeito alucinogénio.
É a história de:
O nome dele é Andreas Ban.
É um psicólogo que já não psicologiza.
Um escritor que já não escreve.
É um guia turístico que já não guia ninguém para lado nenhum.
Um nadador que não nada há muito tempo.
Tem outras ocupações de que ninguém já precisa. E ele, menos que todos.
Andreas Ban vive na Croácia e lida com a velhice, a doença e as memórias de uma vida marcada por tragédias pessoais e colectivas, sobre a luta para dizer as verdades que são encobertas, ignoradas, distorcidas, silenciadas.
As memórias morrem assim que são arrancadas do seu meio, quebram-se, perdem a cor, perdem a elasticidade, entorpecem como cadáveres. Todos esses restos são cascas com extremidades translúcidas. As plaquetas do cérebro meio apagadas são um terreno escorregadio, enganoso. O nosso arquivo mental está cerrado, definha no escuro. O passado está crivado de buracos, as recordações não ajudam. Tudo deve ser deitado fora. Tudo. E talvez também toda a gente.
Belladonna é um livro avassalador, mas não é uma leitura fácil. Drndić tem um estilo denso, experimental e profundamente histórico que me obrigou a fazer muitas pausas durante a leitura.
A forma como mistura ficção, factos históricos e listas intermináveis cria uma sensação de peso quase físico. Não se lê de ânimo leve, mas deixa uma marca profunda.
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