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[Opinião] Diário de um Carbonário - Mário Silva Carvalho

   




Título: Diário de um Carbonário

Série: -

Autor: Mário Silva Carvalho

Data de Leitura: 19/05/2022 ⮞ 04/06/2022

Classificação: 


Sinopse

Testemunho de um dos momentos mais violentos e importantes da História de PortugalEm 1907, o jovem Constantino da Silva chega a Lisboa. Fugira de Coimbra devido a uma zaragata em que atacou um miguelista para proteger um grupo de estudantes republicanos. O deslumbre com a capital, tão maior e mais sofisticada do que o resto do país, logo é substituído pela Lisboa é uma cidade pobre, esfaimada e onde o conflito entre monárquicos e republicanos deixa feridos e mortos nas ruas.Cedo o caminho de Constantino se cruza com a Carbonária, sociedade sinistra e cruel aos olhos dos conservadores, e um juramento secreto atira-o para uma vida de dia é um alfaiate que passeia pelo Rossio e namorisca operárias; de noite participa em assaltos e agressões violentas em nome dos ideais democráticos e republicanos.Quando a tesoura e a pistola permitem, o jovem pega na pena e descreve a sua vida, com simplicidade e honestidade, num diário que é um hino emocionante a uma das épocas mais importantes e turbulentas da História de Portugal.



Minha review no GoodReads

Por mais que me esforce não tenho nenhuma lembrança de nas aulas de história ter falado deste período conturbado da nossa história. Passávamos do mapa cor-de-rosa e do ultimato inglês directamente para a Implantação da República.

Do Rei D. Carlos I só interessava saber que tinha sido assassinado. De D. Manuel II e D.ª Amélia nem uma palavra. Se este período fazia parte do programa eu com certeza ou adormeci ou faltei às aulas.


Nunca tinha ouvido falar na Carbonária e era hora de saber o que era essa tal de sociedade sinistra e cruel para uns. Sonho de liberdade para outros.


Diário de um Carbonário é um romance de época que relata, de uma forma bem interessante, a mudança de regime em Portugal.


Constantino da Silva, nascido em Pampilhosa do Botão, desembarca em Lisboa no dia 6 de Junho de 1907 e logo nos primeiros dias decide que irá manter um diário com a sua rotina na capital. É através destas entradas, escritas com uma linguagem simples, que acompanhamos o seu modo de viver, toda a situação política e social que tem deixado Lisboa em ebulição e também as suas actividades carbonárias.


Embora as personagens sejam ficcionadas os acontecimentos são mesmo reais. O autor captou muito bem o estilo lisboeta de falar, há expressões que já não ouvia há uns bons anos e adorei percorrer as ruas da cidade baixa no início do século XX.


E afinal o que era essa tal de Carbonária?


Bandeira da Carbonária Portuguesa


Sociedade e Floresta Poderosa Venda Jovem Portugal

CARBONÁRIA PORTUGUESA

A Carbonária Portuguesa, sociedade secreta que empunhou a bandeira da liberdade, igualdade e fraternidade, ainda hoje continua a dividir os historiadores e estudiosos deste movimento. Criada antes de 1900, irrompeu do secretismo para ações de rua e movimentações populares sobretudo a partir de 1906, abrigando e organizando milhares de militantes.

Muitos analistas advogam que a Carbonária não passou de uma milícia tenebrosa ao serviço dos interesses mais obscuros do então crescente Partido Republicano Português e da Maçonaria. Definida como fanática, sinistra e cruel. Precursora das atuais organizações terroristas.

Outros defendem que a Sociedade e Floresta, como também se intitulava, o povo em armas, seria uma associação de homens livres, em luta pela emancipação, com ideais democráticos e republicanos. Concedem-lhe o epíteto de patriota e heroica.

Em boa verdade, não se conhecem neste movimento quaisquer projetos de tomada do poder e ou planos de governação.

Perseguiram obsessivamente um objetivo:

O derrube da monarquia e a implantação da República.

Com essa finalidade a Carbonária Portuguesa mostraria ser uma poderosa, temível, disciplinada e enérgica organização secreta. Milhares de portugueses, quase todos de condição humilde, juraram fidelidade à sua causa.

(…)

Facto indesmentível será o papel decisivo no desenrolar dos acontecimentos que culminaram com a Revolução de 5 de Outubro de 1910 e o advento da República.

Depois da implantação republicana, a organização ainda cumpriria tarefas relevantes nos combates às incursões monárquicas de 1911 e 1912.

A fragmentação do Partido Republicano Português em correntes e novas forças partidárias acabaria por causar cisões profundas na Carbonária Portuguesa. Em poucos anos assumiria papéis secundários. Espartilhada, transformar-se-ia em forças pretorianas a soldo dos novos movimentos políticos. Violentas associações, como as apelidadas Formiga Branca e Formiga Preta, serão sucedâneos lamentáveis do poderoso movimento que ajudou a rasgar séculos de poder monárquico em Portugal.

Num balanço breve poderemos concluir que o grande objetivo perseguido com denodo, ousadia, valentia, oferecendo sem titubear, regatear, o sangue fremente, a força de ideais, a rouquidão dos gritos e o suor dos corpos continua nos nossos dias forte e segura:

A República Portuguesa.