Título: Marrom e Amarelo
Série: -
Autor: Paulo Scott
Data de Leitura: 02/04/2022 ⮞ 10/04/2022
Classificação: ⭐⭐⭐
Sinopse
Um romance impactante, sem paralelos na literatura contemporânea, sobre dois irmãos marcados pela discriminação racial no Brasil. Indicado ao International Booker Prize. Prêmio Jabuti 2023 na categoria Livro brasileiro publicado no exterior.
Os irmãos Federico e Lourenço são muito diferentes. Federico, um ano mais velho, é grande, calado e carrega uma raiva latente. Lourenço é bonito, joga basquete e é "muito gente boa". Federico é claro, "de cabelo lambido". Lourenço é preto. Filhos de pai preto, célebre diretor-geral do instituto de perícia do Rio Grande do Sul, eles crescem sob a pressão da discriminação racial. Lourenço tenta enfrentá-la com naturalidade, e Federico se torna um incansável ativista das questões raciais.Federico, o narrador desta história, foi moldado na violência dos subúrbios de Porto Alegre. Carrega uma dor que vem da incompletude nas relações amorosas e, sobretudo, dos enfrentamentos raciais em que não conseguiu se posicionar como achava que deveria.Agora, com 49 anos, é chamado para uma comissão em Brasília, instituída pelo novo governo, para discutir o preenchimento das cotas raciais nas universidades. Em meio a debates tensos e burocracias absurdas, ele se recorda de eventos traumáticos da infância e da juventude. E as lembranças, agora, voltam para acossá-lo. Marrom e Amarelo é um livro que retrata diferentes aspectos de um Brasil distópico, conflagrado, da inércia do comando político à crônica tensão racial de toda a sociedade. É um romance preciso, que nos faz mergulhar nos abismos expostos do país.
Minha review no GoodReads
Disunited Colours of Brazil
Se há uma coisa que Paulo Scott consegue fazer neste pequeno romance é juntar uma série de temas num assunto ainda maior, e cujo debate é uma constante na sociedade brasileira, A hierarquia racial no Brasil.
É inexplicável como um país com a maior miscigenação do mundo continua sem conseguir assumir o que é, e insiste em olhar-se ao espelho e ver aquilo que não é.
(…) Brasil, país sonâmbulo, gigante ex-colônia da coroa portuguesa na América do Sul, rotulado mundo afora como o lugar da harmonia étnica, da miscigenação que tinha dado certo,(…)
Não! O Brasil não é um lugar de harmonia étnica, e o Sul, por razões históricas, é talvez o lugar onde o racismo é mais vincado, não tivesse sido o Rio Grande do Sul colonizado por alemães, italianos e açorianos (portugueses).
E se hoje em dia ainda é descaradamente visível essa separação social, por pantone, na sociedade gaúcha, resta-nos imaginar como seria nos anos 70 e 80 do século XX.
No início da história acompanhamos as motivações e propostas de cada um dos membros de um grupo de trabalho que tem em mãos a elaboração de software de avaliação e padronização para fins de seleção em primeira instância administrativa dos candidatos pretos, pardos e indígenas a vagas reservadas para cotistas no ensino público federal.
Simultaneamente conta-nos a história de dois irmãos pertencentes a uma família multirracial, em que um [Federico ] de pele bem clara, cabelo liso castanho bem claro puxando pro loiro, era considerado um branco, e ele, o meu irmão, [Lorenzo] de pele marrom escura, cabelo crespo castanho-escuro beirando o preto, embora com o mesmo nariz adunco e médio largo que o meu e a mesma boca de lábio superior fino e lábio inferior grosso que a minha, era considerado um negro,
A narrativa não é linear, o presente e o passado dos irmãos vai-se misturando, e actos do passado vão ter repercussões no presente.
Há na escrita de Scott um sentido de urgência, parágrafos enormes que nos tiram o folego e uma certa oralidade na escrita, que nos empurra constantemente para a próxima página.
Há muitos assuntos abordados (racismo, cotas raciais, militância, humilhação racial, branquitude, colorismo etc) que poderiam ter sido mais explorados, mas que a uma certa altura desaparecem da história.
A mesma coisa acontece com as personagens, tirando o amarelo pouco ou nada ficamos a saber dos outros.
Embora ache que é um bom livro, fiquei com aquela sensação de muita parra pouca uva.