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[Opinião] Capitães da Areia - Jorge Amado

        


Título: Capitães da Areia

Série:  -

Autor:  Jorge Amado

Data de Leitura: 1990-1999

Classificação: ⭐⭐

Data de Re-Leitura: 17/09/2020 ⮞ 25/09/2020

Re-Classificação: 


Sinopse

Capitães da Areia é o livro de Jorge Amado mais vendido no mundo inteiro.

Publicado em 1937, teve a sua primeira edição apreendida e queimada em praça pública pelas autoridades do Estado Novo. Em 1944 conheceu nova edição e desde então sucederam-se as edições nacionais e estrangeiras, e as adaptações para a rádio, televisão e cinema.

Jorge Amado descreve, em páginas carregadas de grande beleza, dramatismo e lirismo poucas vezes igualados na literatura universal, a vida dos meninos abandonados nas ruas de São Salvador da Bahia.


Dividido em três partes, o livro atinge um clímax inesquecível no capítulo .Canção da Bahía, Canção da Liberdade., em que é narrada a emocionante despedida de um dos personagens da história, que se afasta dos seus queridos Capitães da Areia .na noite misteriosa das macumbas, enquanto os atabaques ressoam como clarins de guerra.


Minha review no GoodReads


Jorge Amado nasceu a 10 de Agosto de 1912 em Itabuna, no sul do estado da Bahia. Estudou Direito, mas nunca exerceu advocacia. Estreou-se aos 18 anos com a obra O país do carnaval, e em 1937 viu toda a primeira edição de Capitães da Areia ser queimada em praça pública, o que o levou, em 1941, ao exílio na Argentina e no Uruguai.

Em 1945 foi eleito Deputado Federal, mas voltou ao exílio em 1947, desta vez em França e Checoslováquia, quando o Partido Comunista foi ilegalizado. Regressou ao Brasil em 1952, em 1961 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Foi membro correspondente da Academia de Ciências de Lisboa.

Foi agraciado com inúmeros prémios internacionais e recebeu diversos títulos, entre os quais:

Vencedor do Prémio Luís de Camões, em 1995

Grande Oficial da Ordem de Santiago da Espada, em 1990

Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique, em 1986

Jorge Amado faleceu na Bahia em 2001.


Se já tinha gostado deste livro na primeira vez que o li, agora ainda gostei mais. Tornou-se um favorito.

Aquilo que me entristece é olhar para o Brasil e ver que mais de 80 anos depois esta continua a ser a realidade de milhares de pessoas.


Os molecotes atrevidos, o olhar vivo, o gesto rápido, a gíria de malandro, os rostos chapados de fome, vos pedirão esmola. Praticam também pequenos furtos.

Há oito anos escrevi um romance sobre eles, os “Capitães da Areia”.

Os que conheci naquela época são hoje homens feitos, malandros do cais, com cachaça e violão, operários de fábrica, ladrões fichados na polícia, mas os “Capitães da Areia” continuam a existir, enchendo as ruas, dormindo ao léu. Não são um bando surgido ao acaso, coisa passageira na vida da cidade. É um fenômeno permanente, nascido da fome que se abate sobre as classes pobres. Aumenta diariamente o número de crianças abandonadas. Os jornais noticiam constantes malfeitos desses meninos que têm como único corretivo as surras na polícia, os maus tratos sucessivos. Parecem pequenos ratos agressivos, sem medo de coisa alguma, de choro fácil e falso, de inteligência ativíssima, soltos de língua, conhecendo todas as misérias do mundo numa época em que as crianças ricas ainda criam cachos e pensam que os filhos vêm de Paris no bico de uma cegonha. Triste espetáculo das ruas da Bahia, os “Capitães da Areia”. Nada existe que eu ame com tão profundo amor quanto estes pequenos vagabundos, ladrões de onze anos, assaltantes infantis, que os pais tiveram de abandonar por não ter como alimentá-los. Vivem pelo areal do cais, por sob as pontes, nas portas dos casarões, pedem esmolas, fazem recados, agora conduzem americanos ao mangue. São vítimas, um problema que a caridade dos bons de coração não resolve. Que adiantam os orfanatos para quinze ou vinte? Que adiantam as colônias agrícolas para meia dúzia? Os “Capitães da Areia” continuam a existir. Crescem e vão embora mas já muitos outros tomaram os lugares vagos. Só matando a fome dos pais pode-se arrancar à sua desgraçada vida essas crianças sem infância, sem brinquedos, sem carinhos maternais, sem escola, sem lar e sem comida. Os “Capitães da Areia”, esfomeados e intrépidos!