Título: Um Gentleman em Moscovo
Série: -
Autor: Amor Towles
Data de Leitura: 28/03/2020 ⮞ 05/04/2020
Classificação: ⭐⭐⭐⭐⭐
Sinopse
Por causa de um poema, um tribunal bolchevique condena o conde Aleksandr Rostov a prisão domiciliária. Ficará retido, por tempo indeterminado, no sumptuoso Hotel Metropol. A prisão pode ser dourada. Mas é uma prisão.
Estamos em Junho de 1922. Despejado da sua luxuosa suíte, o conde é confinado a um quarto no sótão, iluminado por uma janela do tamanho de um tabuleiro de xadrez. É a partir dali que observa a dramática transformação da Rússia. Vê com tristeza os magníficos salões do hotel, antes animados por bailes de gala, serem agora esmagados pelas pesadas botas dos camaradas proletários. E vê-se obrigado a negociar a sua sobrevivência, num ambiente subitamente hostil.
Aos poucos, porém, o aristocrata descobre aliados no hotel, com quem partilha o seu amor pelo belo - e a defesa de valores morais que nenhuma ideologia poderá vergar. Faz-se amigo do chef, dos porteiros, do barbeiro, do encarregado da garrafeira, e com eles conspira para devolver ao Metropol a sua antiga e majestosa glória. Ao mesmo tempo, toma sob a sua proteção uma menina desamparada, a quem provará que a vida não se resume à luta de classes.
Minha review no GoodReads
O cenário é o Hotel Metropol, em Moscovo.
O Metropol foi construído nos finais dos século XIX princípios do século XX, em art nouveau, e foi o maior hotel construído antes da Revolução Russa.
Em 1918 foi nacionalizado pela administração bolchevique, e rebaptizado “Second House of Soviets”. Durante esse período serviu para alojar a crescente burocracia soviética.
Na década de 30 voltou à sua função original. Nos anos 80 passou por uma grande restauração, e hoje tem cerca de 360 quartos, todos eles com decoração diferente.
Em Junho de 1922 o encantador Conde Aleksandr Ilitch Rostov é condenado a prisão perpétua domiciliária no Hotel Metropol em Moscovo. Será abatido se puser o pé fora do Metropol.
O motivo? Um poema.
Lembro-me tão bem
Quando chegava como uma visita a pé
E vivia uns tempos entre nós
Uma melodia semelhante a um puma.
Pois bem, onde está o nosso intento, agora?
Como faço com tantas outras perguntas
Respondo a esta
Sem olhar, como quem descasca uma pera.
Com um aceno de cabeça digo boa-noite
E transponho as portas do terraço
Rumo aos esplendores simples
De mais uma primavera temperada.
Mas isto eu sei:
Não se perde entre as folhas outonais da Praça de São Pedro.
Não se encontra entre as cinzas dos caixotes do lixo do Ateneu.
Não está dentro dos pagodes azuis da tua bela louça chinesa.
Não está nos alforges de Vronski.
Não está na primeira estrofe do Soneto XXX.
Não está no vinte e sete encarnado […]
Onde Está Agora? (versos 1-19)
Conde Aleksandr Ilitch Rostov 1913
É um história lenta, profunda, complexa e subtil, até ao inesperado crescendo final.
Acompanhamos a vida do Conde Rostov durante três décadas. A história da Rússia é apresentada através de pequenos acontecimentos – como aquele em que todos os rótulos das garrafas de vinho são arrancados por ordem do regime, ou os empregados de mesa que são conhecidos por espiar os clientes do hotel.
O Conde Rostov habituado às coisas mais requintadas da vida adapta-se com rapidez à nova realidade. Tem uma visão pragmática da situação, e rege-se por dois princípios:
“O primeiro foi que, se não dominarmos as nossas circunstâncias, são elas que acabam por nos dominar; e o segundo foi a máxima de Montaigne que diz que o sinal mais certo de sabedoria é a alegria constante.”
O Conde enfrenta a sua prisão de forma magnífica. Embora confinado ao Metropol o mundo continua a encontrar-se com ele. As pessoas entram e saem da vida de Rostov e todas elas criam uma teia complexa de ligações
“Aleksandr Rostov não era nem cientista, nem sábio; mas aos sessenta e quatro anos, tinha sabedoria suficiente para saber que a vida não avança aos saltos e solavancos. A vida desenrola-se. Em qualquer momento, é a manifestação de mil transições. As nossas capacidades crescem e diminuem, as experiências acumulam-se e as nossas opiniões evoluem, se não lenta, lentamente, então, pelo menos, gradualmente. De tal maneira, que os acontecimentos de um dia normal têm tantas probabilidades de nos transformar como uma pitada de sal transforma um guisado.”
No fim, ele tem tudo o que precisa para uma vida feliz - algo para fazer, alguém para amar e acima de tudo esperança.
“(…) as nossas vidas se regem por incertezas, muitas das quais são disruptivas ou até assustadoras; mas que, se perseverarmos e nos mantivermos generosos, poderemos ser agraciados com um momento de lucidez suprema: um momento em que, de repente, percebemos que tudo o que nos aconteceu foi necessário, sobretudo quando nos encontramos no limiar de uma vida nova e arrojada que estávamos destinados a viver desde o princípio.”