Título: Claraboia
Série: -
Autor: José Saramago
Data de Leitura: 03/12/2019 ⮞ 09/12/2019
Classificação: ⭐⭐⭐⭐
Sinopse
A acção do romance localiza-se em Lisboa em meados do século XX. Num prédio existente numa zona popular não identificada de Lisboa vivem seis famílias: um sapateiro com a respectiva mulher e um caixeiro-viajante casado com uma galega e o respectivo filho – nos dois apartamentos do rés-do-chão; um empregado da tipografia de um jornal e a respectiva mulher e uma “mulher por conta” no 1º andar; uma família de quatro mulheres (duas irmãs e as duas filhas de uma delas) e, em frente, no 2º andar, um empregado de escritório a mulher e a respectiva filha no início da idade adulta.
O romance começa com uma conversa matinal entre o sapateiro do rés-do-chão, Silvestre, e a mulher, Mariana, sobre se lhes seria conveniente e útil alugar um quarto que têm livre para daí obter algum rendimento. A conversa decorre, o dia vai nascendo, a vida no prédio recomeça e o romance avança revelando ao leitor as vidas daquelas seis famílias da pequena burguesia lisboeta: os seus dramas pessoais e familiares, a estreiteza das suas vidas, as suas frustrações e pequenas misérias, materiais e morais.
O quarto do sapateiro acaba alugado a Abel Nogueira, personagem para o qual Saramago transpõe o seu debate – debate que 30 anos depois viria a ser o tema central do romance O Ano da Morte de Ricardo Reis – com Fernando Pessoa: Podemos manter-nos alheios ao mundo que nos rodeia? Não teremos o dever de intervir no mundo porque somos dele parte integrante?
Minha review no GoodReads
"que, com parábolas portadoras de imaginação, compaixão e ironia torna constantemente compreensível uma realidade fugidia"
José Saramago (1922-2010) nasceu na aldeia de Azinhaga, Ribatejo. Aos dois anos mudou-se com a família para Lisboa, onde estudou e concluiu o curso de serralheiro mecânico. Trabalhou como serralheiro, funcionário público na área da saúde e na previdência social, foi director literário de uma editora, jornalista e tradutor.
Clarabóia foi o segundo livro escrito por José Saramago, mas só viu a luz do dia em 2011, a título póstumo, e por vontade dos seus familiares.
clarabóia
Parte envidraçada de um telhado para entrar claridade.
Passado num prédio de Lisboa onde vivem seis famílias é através da clarabóia que espiamos a vida íntima dos moradores. Praticamente não há vida fora do prédio, tudo se passa neste pequeno mundo.
Há mágoas e ressentimentos entre famílias e entre vizinhos, há comportamentos condenáveis, há tabus sociais, sexuais, há muito moralismo mas também hipocrisia. Enfim, nada que não continue a existir na maioria dos prédios por esse mundo fora.
Há mais Saramago neste romance, principalmente nas conversas filosóficas entre Silvestre e Abel.
Aprendi a ver mais longe que a sola destes sapatos, aprendi que, por detrás desta vida desgraçada que os homens levam, há um grande ideal, uma grande esperança. Aprendi que a vida de cada um de nós deve ser orientada por essa esperança e por esse ideal. E que se há gente que não sente assim, é porque morreu antes de nascer. — Sorriu e acrescentou: — Esta frase não é minha.
Depois de ter lido A Terra do Pecado estava um pouco de pé atrás, mas Clarabóia conquistou-me.