Título: Nossa Senhora de Paris
Série: -
Autor: Victor Hugo
Data de Leitura: 17/04/2019 ⮞ 22/04/2019
Classificação: ⭐⭐⭐⭐⭐
Sinopse
Estamos em Paris, em plena Idade Média. A sombra da catedral, a bela bailarina Esmeralda desperta paixões. Mendigos e vadios, o poeta Gringoire e o capitão dos guardas Phoebus rodeiam-na e admiram-na e o temível arquidiácono Claude Frollo é levado ao crime. Suspeita e votada ao suplício, Esmeralda é salva pelo sineiro de Nossa Senhora de Paris, Quasimodo, que a protegerá e adorará ate que a morte os una.
Minha review no GoodReads
Há momentos que ficam marcados na nossa memória para sempre. No dia 25 de Agosto de 1988 estava em Paris quando o Chiado ardeu. Foi em choque que vi as imagens do coração de Lisboa a arder. Só regressei ao Chiado após a reconstrução. Não tive coragem de ver aquela ferida aberta em plena baixa de Lisboa.
A 15 de Abril de 2019, em Lisboa, assisti, com estupefacção e com o coração partido, às imagens da Catedral de Notre Dame de Paris a arder. A mesma tristeza, o mesmo sentimento de impotência, e a certeza de que também não quero testemunhar aquela chaga aberta no centro da cidade luz.
No meio da comoção resolvi, tal como fez Victor Hugo, homenagear a Catedral, e iniciei esta leitura.
Victor Hugo (1802-1885) nasceu em Besançon, e é considerado um dos grandes nomes da literatura francesa. Aos quinze anos recebeu o “Lírio de Ouro”, prémio da Academia Francesa, por um dos seus poemas. Das suas obras destacam-se Nossa Senhora de Paris e Os Miseráveis.
Tempus edax, homo edacior
Foi com o objectivo de salvar a Catedral que naquela época estava muito degradada, abandonada e a desmoronar-se, que VH escreveu Notre Dame de Paris, 1482 (depois de várias edições 1482 desapareceu do título).
A protagonista deste romance é a Catedral de Notre Dame de Paris, e como co-protagonista a cidade de Paris, com todas as suas ruas, vielas e becos.
Há um vídeo bem interessante de como seria a Paris medieval, e que pode ser visto aqui.
A Catedral de Notre Dame de Paris fica na Île de la Cité, é uma das obras-primas da arquitectura medieval, e é era o monumento mais visitado da Europa com cerca de 14 milhões de visitas por ano. A área construída é de 4.800m2, a sua construção teve início em 1163. Na sua construção foram usadas 1.300 árvores – uma área equivalente a 21 campos de futebol – o que levou a que o tecto da Catedral seja fosse chamado de “A Floresta”.
Na fachada principal há 28 estátuas – Galeria dos Reis – que representam os Reis de Israel, descendentes de Jesus Cristo.
Durante a revolução francesa as estátuas, confundidas com os Reis de França (Victor Hugo também faz essa confusão), foram decapitadas. Por ocasião da restauração da Galeria dos Reis, efectuada por Viollet-le-Duc, as cabeças ainda não tinham sido encontradas, por isso todas as estátuas foram substituídas. Só foram encontradas no final do século XIX quando estavam a iniciar as obras da estação de metro Opéra. Hoje estão expostas no Museu de Cluny, no Quartier Latin. Outro facto curioso é que com esta descoberta descobriu-se que a fachada principal e as laterais da Catedral eram coloridas (os pigmentos usados não resistiram ao passar do tempo).
Durante a Revolução Francesa - 1789–1799, a Catedral ficou muito destruída, foi dessacralizada e passou a ser um armazém de bebidas. Foi no período de Napoleão Bonaparte que ela voltou a ser sacralizada, até porque Napoleão, quando reintroduz o sistema monárquico, quis que fosse o palco da sua auto-coroação. Foi também depois desta cerimónia que se iniciou a tradição dos vestidos de noiva serem brancos.
Três grandes rosáceas (diâmetro 13 metros) com grandes conjuntos de vitrais iluminam o interior da Catedral. Os vitrais foram feitos pelos alquimistas medievais (químicos da altura) e há quem diga que ainda hoje, com toda a tecnologia, não se descobriu a fórmula correcta para reproduzi-los. Durante a Segunda Grande Guerra, todos os vidros foram retirados dos seus lugares e posteriormente enterrados, para não serem danificados nos bombardeamentos efectuados pelos Alemães.
Nas suas relíquias encontram-se a possível Coroa de Espinhos de Cristo, dois dos pregos da paixão e fragmentos da cruz – adquiridas no século XII pelo Reis Luís IX.
As gárgulas são elementos arquitectónicos para o escoamento de água. As quimeras são elementos meramente decorativos.
Notre Dame já teve muitos sinos, mas Emmanuel Bourdon, instalado em 1681, é o maior, o mais antigo e último sobrevivente da revolução francesa – pesa 13 toneladas e o batente 500 kgs. Os outros foram derretidos para fazer canhões! Toca apenas em grandes celebrações religiosas como a visita de papas, funerais presidenciais e comemorações. O Emmanuel Bourdon já tocou mais de 84 vezes.
Pode ser ouvido aqui.
Os telhados de Notre Dame abrigavam uma colmeia que produz mel e que é distribuído pelos funcionários do monumento.
É em frente à Catedral que se encontra o quilómetro zero.
Durante toda a obra VH faz críticas à igreja, ao poder, às desigualdades e aos preconceitos, mas também fala de amor. O amor à Catedral e à cidade de Paris, o amor incondicional de uma Mãe, o amor obsessivo de um padre, o amor ingénuo e romântico de uma adolescente, o amor não correspondido, do amor de um filho para com o seu pai adoptivo etc.
E o fim, bem o fim não podia ser outro. 🖤