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[Opinião] O Sol na Cabeça - Geovani Martins

 


 

Título: O Sol na Cabeça

Série: -

Autor: Geovani Martins

Data de Leitura: 18/06/2018 ⮞ 20/06/2018

Classificação: 


Sinopse

Uma importante nova voz na literatura brasileira.

A vida nas favelas do Rio de Janeiro, retratada desde dentro.


«Fiquei chapado.» Chico Buarque


O sol do Rio de Janeiro aquece a prosa destas histórias que compõem a textura da vida diária nas favelas. Nos morros, cada novo dia é modulado pelo vaivém do narcotráfico, pela ameaça constante da polícia e pelas limitações da pobreza, da violência e da discriminação. Mas estas também são histórias de amizade, amor e alegria: o prazer dos banhos de mar, as brincadeiras de rua, a adrenalina das pinturas murais, os namoros fugazes. Histórias de esperança e desespero, que dão rosto e alma aos invisíveis da Cidade Maravilhosa, que é também uma cidade partida.

Nascido e criado nas favelas cariocas, Geovani Martins estreou-se na literatura com apenas 26 anos, mas já granjeou comparações a grandes nomes da literatura brasileira. O sol na cabeça é um trabalho de grande talento e sensibilidade, uma evocação simultaneamente lírica e realista da vida nas favelas, e anuncia uma auspiciosa voz na literatura.


Minha review no GoodReads



Geovani Martins nasceu em Bangu, uma favela da zona oeste do Rio de Janeiro e aos 13 anos mudou-se para a favela do Vidigal, na zona sul da cidade. Passou a infância e adolescência entre as duas favelas e as diferenças que encontrou entre essas duas realidades - jeito de falar, de brincar na rua, as regras no futebol, os dribles de corpo, as pipas, a música, o ritmo das pessoas, o volume dos gritos - serviram de inspiração este livro de estreia.
Segundo o autor, foi o desespero que o motivou a escrever. Tinha 24 anos, estava desempregado, sem profissão e obrigado a mudar-se da casa onde vivia.

É uma boa estreia mas não me parece que seja “o novo fenómeno literário brasileiro” nem tão pouco que o livro seja “uma obra-prima”. A mega campanha de marketing feita por altura do lançamento só a consigo compreender por ele ser negro, favelado e escritor, ou não fosse a área da literatura aquela que ainda não tinha um “herói” vindo de uma classe desfavorecida.

São 13 contos curtinhos que falam da vida nos morros cariocas, da violência, da guerra de facções, das milícias, do vício e tráfico de drogas e da morte. São 13 contos que me fazem ter saudades de uma cidade maravilhosa não favelizada, onde estas histórias eram a excepção e não a regra.

Há um ou outro conto bom, os restantes são medianos e há três que considero fraquinhos. O que Geovani tem de melhor é o domínio da linguagem, das diferentes oralidades, tanto nos apresenta um conto com o linguajar da favela - com a sua gíria, ausência de regras etc – como logo em seguida outro com um português clean e respeitando as regras. As personagens são bastante realistas mas as histórias são um bocado herméticas, sem espaço para diferentes interpretações.

Rolezim - ★★★★
Espiral – ★★★★
Roleta-russa – ★★
O caso da borboleta – ★
A história do periquito e do macaco – ★★★
Primeiro dia – ★★
O rabisco – ★
A viagem – ★★
Estação Padre Miguel - ★★★★
O cego – ★
O mistério da vila – ★★★
Sextou – ★★★★
Travessia – ★★★★

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Passei na casa do Vitim, depois nós ganhou pra caxanga do Poca Telha, aí partimo pra treta do Tico e do Teco. Até então tava geral na merma meta: duro, sem maconha e querendo curtir uma praia. (...) Chegamo na praia com o sol estalando, várias novinha pegando uma cor com a rabeta pro alto, mó lazer.


As pessoas costumam dizer que morar numa favela de Zona Sul é privilégio (…) entendo esse pensamento (…) o abismo que marca a fronteira entre o morro e o asfalto (…) é muito mais profundo.
É tudo muito próximo e muito distante.

Logo após as refeições, não toma banho nunca, porque faz mal, igual manga com leite. Igual não, pior. Porque disso tem gente que morre.

Já te falei, vou falar de novo: uma semana sem drogas e o Rio de Janeiro para. Não tem médico, não tem motorista de ônibus, não tem advogado, não tem polícia, não tem gari, não tem nada. Vai ficar todo mundo surtando de abstinência. Cocaína, Rivotril, LSD, balinha, crack, maconha, Novalgina, não importa, mano. A droga é o combustível da cidade.

— Meu pai diz que macumba é igual maconha: coisa do diabo! Se fosse bom não começava com “ma”

A família de Thaís é toda testemunha de Jeová, menos o pai, que é alcoólatra.

Queria era ser jogador de futebol, piloto de avião, técnico em informática. Agora, enquanto desce a ladeira pra chegar na saída do morro, só consegue pensar que tudo vai ser muito diferente.