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[Opinião] Raparigas Mortas - Selva Almada

 



Título: Raparigas Mortas

Série: -

Autor: Selva Amada

Data de Leitura: 28/01/2024 ⮞ 01/02/2024

Classificação: 


Sinopse

Três adolescentes brutalmente assassinadas. Três mortes impunes.«Três adolescentes de província assassinadas nos anos oitenta, três mortes impunes ocorridas quando ainda, no nosso país, desconhecíamos o termo femicídio.»Três assassínios entre centenas que não chegam aos títulos de capa nem atraem as câmaras dos canais de TV de Buenos Aires. Três casos que chegam desordenados: são anunciados na rádio, recordados no jornal de uma cidade, alguém fala deles numa conversa. Três crimes ocorridos no interior da Argentina, enquanto este país festejava o regresso da democracia. Três mortes sem culpados. Convertidos em obsessão com o passar dos anos, estes casos dão lugar a uma investigação atípica e infrutífera. A prosa nítida de Selva Almada plasma em negro o invisível, e as formas quotidianas da violência contra meninas e mulheres passam a integrar uma mesma trama intensa e vívida. Inscrevendo-se no género «romance não ficção», inaugurado por Truman Capote, Raparigas Mortas é uma obra singular. Combinando perceções e lembranças pessoais com a investigação de três femicídios no interior da Argentina durante a década de 80, Selva Almada revela, de modo subtil, a ferocidade do machismo e o desamparo das mulheres pobres, ao mesmo tempo que abre novos rumos à narrativa latino-americana.


Minha review no GoodReads

Raparigas Mortas, de Selva Almada, é uma obra chocante que mergulha profundamente na realidade perturbadora dos femicídios na Argentina.


Desde pequenas que nos ensinavam que não devíamos falar com estranhos e que devíamos ter cuidado com o Sátiro.


A escritora emprega uma narrativa precisa e impactante para revelar casos reais de mulheres que foram vítimas de violência de género, evidenciando a impunidade que frequentemente envolve esses crimes.


À memória de Andrea, María Luisa e Sarita


A abordagem de Selva Almada é notável pela sua objectividade, destacando a normalização e a frequência com que esses eventos acontecem na sociedade. A escolha de nomear as vítimas dá um rosto e uma identidade a essas mulheres, tornando a narrativa mais pessoal e emotiva.


Não me lembro de nenhuma conversa pontual sobre a violência de género, nem que a minha mãe alguma vez me tenha avisado especificamente sobre o assunto. Mas o assunto estava sempre presente. Quando falávamos de Marta, a vizinha espancada pelo marido, aquela que por sua vez descarregava os seus próprios punhos sobre os filhos, sobretudo em Ale, um menino que só desenhava aranhas. (…)

Quando falávamos de Bety, a senhora do armazém que se enforcou na casinha de arrumações das traseiras da sua casa. Todo o bairro dizia que o marido lhe batia e que lhe sabia bater bem porque não se lhe viam as marcas. Nunca ninguém o denunciou. (…)

Quando falávamos da mulher do homem do talho, o López. As filhas deles andavam na minha escola. Ela denunciou-o por violação. Havia já algum tempo que, além de lhe bater, abusava dela sexualmente.


No entanto, uma crítica que pode ser feita é a falta de aprofundamento nas causas subjacentes à violência de género e as possíveis soluções. Ao concentrar-se na descrição dos crimes, o livro pode parecer desprovido de uma análise mais profunda das raízes do problema e das formas de enfrentá-lo.


Não sabia que uma mulher podia ser morta pelo simples facto de ser mulher (…)


Apesar desta falha, a importância da obra reside na denúncia destas tragédias e na consciencialização sobre a persistente impunidade que muitas vezes envolve os femicídios. Com uma escrita directa, envolvente e perturbadora, Selva Almada leva os leitores a confrontar a dura realidade enfrentada por muitas mulheres.


Talvez seja essa a tua missão: juntar os ossos das raparigas, montá-las, dar-lhes voz e depois deixá-las correr livremente até onde tiverem de ir.