Título: Correio da Roça
Série: -
Autor: Júlia Lopes de Almeida
Data de Leitura: 02/01/2024 ⮞ 05/01/2024
Classificação: ⭐⭐⭐⭐⭐
Sinopse
Correio da Roça é um romance epistolar escrito por Julia Lopes de Almeida. Publicado inicialmente como folhetim, o romance virou livro em 1913 e foi muito bem recebido pelos leitores.
Na história quase singela, mas repleta de significados, Maria, viúva e mãe de quatro filhas mulheres, vê-se diante de uma situação financeira desfavorável após vender a maioria de seus bens para saldar as dividas deixadas pelo falecido marido. Restando-lhes como moradia somente uma fazenda e um pequeno sítio as cinco mulheres, educadas para a vida nas grandes cidades, não veem outra solução se não a mudança para o recanto bucólico que parece a elas, a primeira vista, ser o fim do mundo, até que começam a se corresponder com uma amiga da cidade que, em suas cartas, incentiva-as usar a educação que tiveram na cidade em benefício da vida no campo e passa a enviar sugestões para que busquem, em sua nova vida, estímulos para reerguerem a sua fortuna.
De forma primorosa e delicada a autora mostra ao leitor, a importância da valorização dos trabalhadores do campo, e a importância da educação, saúde e infraestrutura para o desenvolvimento.
Esta edição tem a ortografia atualizada e conta com notas explicativas, para termos e palavras fora de uso.
Minha review no GoodReads
... Os povos mais fortes, mais práticos, mais ativos, e mais felizes são aqueles onde a mulher não figura como mero objeto de ornamento; em que são guiadas para as vicissitudes da vida com uma profissão que as ampare num dia de luta, e uma boa dose de noções e conhecimentos sólidos que lhe aperfeiçoem as qualidades morais. Uma mãe instruída, disciplinada, bem conhecedora dos seus deveres, marcará, funda, indestrutivelmente, no espírito do seu filho, o sentimento da ordem, do estudo e do trabalho, de que tanto carecemos.
- Júlia Lopes de Almeida, em A Mensageira
Não calculas o horror desta solidão e destes povos dos arredores. Às terras do Remanso, que é, como te deves lembrar, o nome da fazenda, está agora adicionado o sítio da Tapera, herança de meu pai, que por sua vez também o tinha de há muito abandonado. Aqui vivemos sem humilhação, é verdade, mas com uma enorme tristeza e curtos haveres. Minhas filhas, coitadas, passam o dia bocejando e desaprendendo o que estudaram no colégio.(…)(…) valeria a pena, para chegar a esse resultado, ter eu gastado tanto dinheiro com a sua educação e ter sofrido uma separação tão longa durante todo o tempo em que estiveram de pensionistas no colégio? Para se plantar batatas e criarem-se aves domésticas não é absolutamente necessário aprender-se francês, inglês, piano e desenho…
As batatas nacionais, sobretudo as que no nosso mercado têm a denominação de batatas rim, são incomparavelmente superiores a quaisquer das outras estrangeiras que importamos de França ou de Portugal, da Nova Zelândia ou do Chile.
Com vagar te relatarei mais tarde as minhas impressões; entretanto, do que vi posso desde já informar-te de que deverás manter em compartimentos separados as galinhas de raças diferentes; que é bom juntar à sua alimentação de milho, a aveia e o triguilho, assim como é útil, para a higiene do galinheiro, revolver de vez em quando a terra do chão, misturando-lhe cal.