Título: Obras Completas de Machado de Assis II: Coletâneas de Contos
Série: -
Autor: Machado de Assis
Data de Leitura: 27/03/2022 ⮞ 01/12/2022
Classificação: ⭐⭐⭐
Sinopse
Todas as coletâneas de contos de Machado de Assis em um só volume, revisadas de acordo com a nova ortografia, organizadas com índice ativo (e NCX).
Inclui histórias como “A Cartomante” (1896), “O Alienista” (1882), “Noite de Almirante” (1884), “Missa do Galo” (1899) e mais 72 contos das coletâneas:
1. Contos Fluminenses (1870)
"Miss Dollar", "Luís Soares", "A mulher de preto", "O segredo de Augusta", "Confissões de uma viúva moça", "Linha reta e linha curva" e "Frei Simão".
2. Histórias da Meia-Noite (1873)
"A parasita azul", "As bodas de Luís Duarte", "Ernesto de Tal", "Aurora sem dia", "O relógio de ouro" e "Ponto de vista".
3. Papéis Avulsos (1882)
"O Alienista", "Teoria do medalhão", "A chinela turca", "Na Arca", "D. Benedita", "O segredo do bonzo", "O Anel de Polícrates", "O empréstimo", "A sereníssima república", "O espelho", "Uma visita de Alcibíades" e "Verba testamentária".
4. Histórias sem data (1884)
"A Igreja do Diabo", "O lapso", "Último capítulo", "Cantiga de esponsais", "Singular ocorrência", "Galeria póstuma", "Capítulo dos chapéus", "Conto Alexandrino", "Rimas de Sapucaia!", "Uma senhora", "Anedota pecuniária", "Fulano", "A segunda vida", "Noite de Almirante", "Manuscrito de um sacristão", "Ex cathedra", "A senhora do Galvão" e "As Academias de Sião".
5. Várias Histórias (1896)
"A Cartomante", "Entre santos", "Uns braços", "Um homem célebre", "A desejada das gentes", "A causa secreta", "Trio em lá menor", "Adão e Eva", "O enfermeiro", "O diplomático", "Mariana", "Conto de escola", "Um apólogo", "D. Paula", "Viver!" e "O cônego ou Metafísica do Estilo".
6. Páginas Recolhidas (1899)
"O caso da vara", "O dicionário", "Um erradio", "Eterno!", "Missa do Galo", "Ideias de canário", "Lágrimas de Xerxes" e "Papéis velhos",
7. Relíquias de Casa Velha (1906)
"Pai contra mãe", "Maria Cora", "Marcha fúnebre", "Um capitão de voluntários", "Suje-se gordo!", "Umas férias", "Evolução", "Pílades e Orestes" e "Anedota do Cabriolet".
Minha review no GoodReads
É uma maravilha ter toda a obra de Machado reunida em 9 tomos. Optei começar pelos contos que estão compilados num único volume – 2 , e ainda por cima organizados por colectânea. Uma das grandes falhas destas edições são as capas, absolutamente horrendas.
Contos Fluminenses 1870 ★★★★
Este é o primeiro livro de contos publicado em 1870 e reúne sete contos já previamente publicados nos jornais e folhetins da época. Embora os temas principais sejam o amor, casamento e traição, Machado já faz críticas à sociedade, ao estilo de vida e aos costumes da época, recorrendo ao seu inconfundível estilo sarcástico, ácido e irónico, usando a particularidade de se dirigir directamente ao leitor.
Todos os contos têm um ambiente romântico, mas não nos enganemos, alguns são puro romanesco, outros comédia e outros tragédias (os meus preferidos). Machado, nestes primeiros contos, revela-nos já uma extrema sensibilidade na avaliação da natureza humana.
Miss Dollar ★★★★
A Miss Dollar do romance não é a menina romântica, nem a mulher robusta, nem a velha literata, nem a brasileira rica. Falha desta vez a proverbial perspicácia dos leitores; Miss Dollar é uma cadelinha galga.
(…) os olhos verdes são de ordinário núncios de boa alma. Além de que, a cor dos olhos não vale nada, a questão é a expressão deles. Podem ser azuis como o céu e pérfidos como o mar.(…)
Se te achas com força de ser o Colombo daquele mundo, lança-te ao mar com a armada; mas toma cuidado com a revolta das paixões, que são os ferozes marujos destas navegações de descoberta.
Luís Soares ★★★★★
Não lia jornais. Achava que um jornal era a coisa mais inútil deste mundo, depois da Câmara dos Deputados, das obras e das missas. Não quer isto dizer que Soares fosse ateu em religião, política e poesia. Não. Soares era apenas indiferente. Olhava para todas as grandes coisas com a mesma cara com que via uma mulher feia.
A mulher de preto ★★★
Um amigo não é coisa que se despreze, acolhe-se como um presente dos deuses.
O segredo de Augusta ★★★
Tinha Augusta trinta anos (...) Conservava a mesma frescura dos quinze anos (...) A sua estatura era mediana, mas imponente. (...) Tinha os cabelos castanhos, e os olhos garços. (...) Augusta vestia com suprema elegância.
Confissões de uma viúva moça ★★★
É tempo de contar-te este episódio da minha vida.
Quero fazê-lo por cartas e não por boca. Talvez corasse de ti. Deste modo o coração abre-se melhor e a vergonha não vem tolher a palavra nos lábios. Repara que eu não falo em lágrimas, o que é um sintoma de que a paz voltou ao meu espírito.
Linha reta e linha curva ★★★★
Depois da invenção do fumo não há solidão possível. É a melhor companhia deste mundo. Demais, o charuto é um verdadeiro Memento homo: convertendo-se pouco a pouco em cinzas, vai lembrando ao homem o fim real e infalível de todas as coisas: é aviso filosófico, é sentença fúnebre que nos acompanha em toda a parte.
Frei Simão ★★★★
Frei Simão era um frade da ordem dos Beneditinos.
(...) de caráter taciturno e desconfiado. Passava dias inteiros na sua cela, donde apenas saía na hora do refeitório e dos ofícios divinos. Não contava amizade alguma no convento,(...) quando se aproximava o minuto fatal, sentou-se no leito, fez chamar para mais perto o abade, e disse-lhe (...)
— Morro odiando a humanidade!
Histórias da meia-noite (1873) ★★★
Esta é a segunda colectânea de contos de Machado, publicada em 1873. Os seis contos circularam originalmente no “Jornal das Famílias” e eram destinados ao público feminino, cujo interesse pela leitura estava em crescendo.
Os temas abordados ainda pertencem, maioritariamente, ao romantismo, mas já conseguimos visualizar o realismo a chegar de mansinho.
Mais uma vez, Machado, através da sátira social e da fina ironia mostra-nos como a sociedade da época encarava o casamento.
A Parasita Azul ★★★
— E a quem ama? pergunta vivamente o leitor.
Ama... uma parasita. Uma parasita? É verdade, uma parasita.
Deve ser então uma flor muito linda, — um milagre de frescura e de aroma. Não, senhor, é uma parasita muito feia, um cadáver de flor, seco, mirrado, uma flor que devia ter sido lindíssima há muito tempo, no pé, mas que hoje na cestinha em que ela a traz, nenhum sentimento inspira, a não ser de curiosidade. Sim, porque é realmente curioso que uma moça de vinte anos, em toda a força das paixões, pareça indiferente aos homens que a cercam, e concentre todos os seus afetos nos restos descorados e secos de uma flor.
As bodas de Luís Duarte ★★
Que desilusão este conto do Machado.
Ernesto de Tal ★★★
Rosina e os seus dois amores pretendentes.
Aurora sem dia ★★★
Tinham-lhe pintado Camões e Bocage, que eram os nomes literários que ele conhecia, como dois improvisadores de esquina, expectorando sonetos em troca de algumas moedas, dormindo nos adros das igrejas e comendo nas cocheiras das casas-grandes.
O Relógio de Ouro ★★★★
Meu nhonhô. Sei que amanhã fazes anos; mando-te esta lembrança.
Tua Iaiá.
Ponto de vista ★★★
Se eu não achar marido como imagino, fico solteira toda a minha vida. Antes isso, que ficar presa a um cepo, ainda que esbelto.
***
(...) quando vi a nossa formosa Mariquinhas, com o seu véu e sua grinalda de flores de laranja, derramar um olhar tão celeste em torno de si, feliz por se despedir deste mundo de futilidades como é a vida de uma moça solteira.
***
O coração é um mar, sujeito à influência da lua e dos ventos.
Papeis Avulsos (1882) ★★★★
Foi o terceiro livro de contos publicado por Machado de Assis, e tem aquele que é o meu conto favorito – O Alienista.
O Alienista ★★★★★
Um grande clássico. Como é possível um livro do século XIX ser tão actual?
Segundo os parâmetros do Dr. Simão Bacamarte estaríamos todos internados na Casa Verde.
— Com a definição atual, que é a de todos os tempos, acrescentou, a loucura e a razão estão perfeitamente delimitadas. Sabe-se onde uma acaba e onde a outra começa. Para que transpor a cerca?
É uma história divertida, com muito humor e que nos arranca algumas gargalhadas. Aborda diversos temas como a irracionalidade da ciência e a prepotência dos cientistas, os aspectos morais da sociedade e os desmandos políticos que acabam com um golpe político num livro sobre malucos. A cereja no topo do bolo é quando o alienista se julga alienado e tranca-se na Casa Verde.
— Nada tenho que ver com a ciência; mas se tantos homens em quem supomos juízo são reclusos por dementes, quem nos afirma que o alienado não é o alienista?
Teoria do medalhão ★★★
— Somente não deves empregar a ironia, esse movimento ao canto da boca, cheio de mistérios, inventado por algum grego da decadência, contraído por Luciano, transmitido a Swift e Voltaire, feição própria dos céticos e desabusados. Não. Usa antes a chalaça, a nossa boa chalaça amiga, gorducha, redonda, franca, sem biocos, nem véus, que se mete pela cara dos outros, estala como uma palmada, faz pular o sangue nas veias, e arrebentar de riso os suspensórios. Usa a chalaça.
A chinela turca ★★★
— Ninfa, doce amiga, fantasia inquieta e fértil, tu me salvaste de uma ruim peça com um sonho original, substituíste-me o tédio por um pesadelo: foi um bom negócio. Um bom negócio e uma grave lição: provaste-me ainda uma vez que o melhor drama está no espectador e não no palco.
Na arca ★★★
— Ninfa, doce amiga, fantasia inquieta e fértil, tu me salvaste de uma ruim peça com um sonho original, substituíste-me o tédio por um pesadelo: foi um bom negócio. Um bom negócio e uma grave lição: provaste-me ainda uma vez que o melhor drama está no espectador e não no palco.
D. Benedita ★★
A coisa mais árdua do mundo, depois do ofício de governar, seria dizer a idade exata de D. Benedita. Uns davam-lhe quarenta anos, outros quarenta e cinco, alguns trinta e seis. (…)D. Benedita fez quarenta e dois anos no domingo dezenove de setembro de 1869.
O segredo do bonzo ★★
(…)e entendi que, se uma coisa pode existir na opinião, sem existir na realidade, e existir na realidade, sem existir na opinião, a conclusão é que das duas existências paralelas a única necessária é a da opinião, não a da realidade, que é apenas conveniente.
O Anel de Polícrates ★★★★
A — Rico e pródigo, digo-lhe eu. Bebia pérolas diluídas em néctar. Comia línguas de rouxinol. Nunca usou papel mata-borrão, por achá-lo vulgar e mercantil; empregava areia nas cartas, mas uma certa areia feita de pó de diamante. E mulheres! Nem toda a pompa de Salomão pode dar ideia do que era o Xavier nesse particular. Tinha um serralho: a linha grega, a tez romana, a exuberância turca, todas as perfeições de uma raça, todas as prendas de um clima, tudo era admitido no harém do Xavier.
O empréstimo ★★★★
A sereníssima república ★★★★★
Senhores, vou assombrar-vos, como teria assombrado a Aristóteles, se lhe perguntasse: Credes que se possa dar regímen social às aranhas?
A aranha parece-vos inferior, justamente porque não a conheceis. Amais o cão, prezais o gato e a galinha, e não advertis que a aranha não pula nem ladra como o cão, não mia como o gato, não cacareja como a galinha, não zune nem morde como o mosquito, não nos leva o sangue e o sono como a pulga. Todos esses bichos são o modelo acabado da vadiação e do parasitismo. A mesma formiga, tão gabada por certas qualidades boas, dá no nosso açúcar e nas nossas plantações, e funda a sua propriedade roubando a alheia. A aranha, senhores, não nos aflige nem defrauda; apanha as moscas, nossas inimigas, fia, tece, trabalha e morre.
Sim, senhores, descobri uma espécie araneida que dispõe do uso da fala; coligi alguns, depois muitos dos novos articulados, e organizei-os socialmente. O primeiro exemplar dessa aranha maravilhosa apareceu-me no dia 15 de dezembro de 1876.
O Espelho ★★★★
Uma Visita de Alcibíades ★★★★
Verba testamentária ★★★★
Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo, precisa apagar o caso escrito.
Histórias sem data (1884) ★★★★
Em 1884, Machado de Assis publica seu livro de contos Histórias sem data, três anos depois de ter publicado o romance Memórias póstumas de Brás Cubas.
A Igreja do Diabo ★★★★
Há muitos modos de afirmar; há só um de negar tudo.
O lapso ★★★
Um médico que trata assuntos da alma.
Último capítulo ★★★★
Há entre os suicidas um excelente costume, que é não deixar a vida sem dizer o motivo e as circunstâncias que os armam contra ela. Os que se vão calados, raramente é por orgulho; na maior parte dos casos ou não têm tempo, ou não sabem escrever.
Cantiga de esponsais ★★★
Singular ocorrência ★★★★
Galeria póstuma ★★★★
Capítulo dos chapéus ★★★
— A escolha do chapéu não é uma ação indiferente, como você pode supor; é regida por um princípio metafísico. Não cuide que quem compra um chapéu exerce uma ação voluntária e livre; a verdade é que obedece a um determinismo obscuro. A ilusão da liberdade existe arraigada nos compradores, e é mantida pelos chapeleiros que, ao verem um freguês ensaiar trinta ou quarenta chapéus, e sair sem comprar nenhum, imaginam que ele está procurando livremente uma combinação elegante. O princípio metafísico é este: — o chapéu é a integração do homem, um prolongamento da cabeça, um complemento decretado ab eterno ninguém o pode trocar sem mutilação. É uma questão profunda que ainda não ocorreu a ninguém.
(…)
Ninguém advertiu que há uma metafísica do chapéu. Talvez eu escreva uma memória a este respeito. São nove horas e três quartos; não tenho tempo de dizer mais nada; mas você reflita consigo, e verá... Quem sabe? pode ser até que nem mesmo o chapéu seja complemento do homem, mas o homem do chapéu...
Conto Alexandrino ★
Primas de Sapucaia! ★★★
Uma senhora★★★★
Nunca encontro esta senhora que me não lembre a profecia de uma lagartixa ao poeta Heine, subindo os Apeninos: "Dia virá em que as pedras serão plantas, as plantas animais, os animais homens e os homens deuses." E dá-me vontade de dizer-lhe: — A senhora, D. Camila, amou tanto a mocidade e a beleza, que atrasou o seu relógio, a fim de ver se podia fixar esses dois minutos de cristal.
(…) tudo parecia embebê-la de eternidade, e os quarenta e dois anos em que ia não lhe pesavam mais do que outras tantas folhas de rosa. Olhava para fora, olhava para o espelho. De repente, como se lhe surdisse uma cobra, recuou aterrada. Tinha visto, sobre a fonte esquerda, um cabelinho branco. Ainda cuidou que fosse do marido; mas reconheceu depressa que não, que era dela mesma, um telegrama da velhice, que aí vinha a marchas forçadas. O primeiro sentimento foi de prostração.
Anedota pecuniária ★★★★
Fulano ★★★★
A segunda vida ★★★★
Noite de Almirante ★★★★
Manuscrito de um sacristão ★★★★
Ex cathedra ★★★
- Padrinho, vosmecês assim fica cego.- O quê?
- Vosmecê fica cego; lê que é um desespero. Não, senhor, deê cá o livro.
(…)
Era o seu mal; lia com excesso, lia de manhã, de tarde e de noite, ao almoço e ao jantar, antes de dormir, depois do banho, lia andando, lia parado, lia em casa e na chácara, lia antes de ler e depois de ler, lia toda a casta de livros (…)
A senhora do Galvão ★★★★
As Academias de Sião ★★★★
As estrelas, quando viam subir, através da noite, muitos vaga-lumes cor de leite, costumavam dizer que eram os suspiros do rei de Sião, que se divertia com as suas trezentas concubinas. (…)
Uma noite, fora em tal quantidade os vaga-lumes, que as estrelas, de medrosas, refugiaram-se nas alcovas, e eles tomaram conta de uma parte do espaço, onde se fixaram para sempre com o nome de Via-Láctea.
Várias Histórias (1896) ★★★
É o quinto livro de contos de Machado de Assis e foi publicado em 1896, quando o autor estava no auge de sua carreira literária.
A Cartomante ★★★★
Entre Santos ★★★★
Uns Braços ★
Um homem célebre ★★
A desejada das gentes ★★★
A causa secreta ★★★
Trio em lá menor ★★★
Adão e Eva ★★★★
O Enfermeiro ★★★★
O Diplomático ★★★★
Mariana (I) ★★★
Conto de Escola ★★★
Um Apólogo ★★★
D. Paula ★★★★
Viver! ★★★
O cônego ou metafísica do estilo ★★★
Páginas Recolhidas (1899) ★★★
No ano de 1899, o Brasil já era uma república, a escravidão já havia sido abolida e Machado de Assis já havia fundado a Academia Brasileira de Letras. No fim desse ano, é publicado seu romance de maior sucesso: Dom Casmurro.
O caso da vara ★★★
O Dicionário ★★★
Um Erradio ★★★
Eterno! ★★★★
Missa do galo ★★★★
Ideias de Canário ★★★
Lágrimas de Xerxes ★★★
Papéis Velhos ★★★
Relíquias da Casa Velha (1906) ★★★
É a última coletânea de textos publicada por Machado de Assis, dois anos apenas antes de morrer.
Pai contra mãe ★★★★
Maria Cora ★★★★
Marcha fúnebre ★★★
Um capitão de voluntários ★★★
Suje-se Gordo! ★★
Umas Férias ★★★★
Evolução ★★★
O Brasil é uma criança que engatinha; só começará a andar quando estiver cortado de estradas de ferro…
Pílades e Orestes ★★★
Anedota do cabriolet ★★★