Título: Misericórdia
Série: -
Autor: Lídia Jorge
Data de Leitura: 30/06/2023 ⮞ 22/07/2023
Classificação: ⭐⭐⭐⭐⭐
Sinopse
A história que a mãe de Lídia Jorge lhe pediu que escrevesse.
Misericórdia é um dos livros mais audaciosos da literatura portuguesa dos últimos tempos. Como a autora consegue que ele seja ao mesmo tempo brutal e esperançoso, irónico e amável, misto de choro e riso, é uma verdadeira proeza.
Não são necessárias muitas palavras para apresentá-lo – o diário do último ano de vida de uma mulher incorpora no seu relato o fulgor das existências cruzadas num ambiente concentracionário, e transforma-se no testemunho admirável da condição humana.
Isso acontece porque o milagre da literatura está presente. Nos tempos que correm, depois do enfrentamento global de provas tão decisivas para a Humanidade, esperávamos por um livro assim. Lídia Jorge escreveu-o.
Minha review no GoodReads
Um livro que mexe com as nossas emoções, que nos comove, que nos enfurece, que nos provoca e desafia, mas que também nos mostra a amizade, o amor, o respeito e ainda nos arranca algumas gargalhadas.
Que o respeito pelos idosos seja apenas um reflexo do respeito que temos por nós mesmos, uma consciência de que somos parte de uma teia de conexões, onde o reconhecimento da dignidade de cada indivíduo é a base para uma sociedade mais justa e humana.
(...) estou vencida, ó noite, diria eu. Então ela levantar-me-ia da cama, envolvida nos meus cobertores, subiria comigo para além do tecto, para além do terraço, subiria com o meu corpo ao colo até às nuvens e depois deixar-me-ia cair no vazio, e eu diria muito obrigada.
Algumas Citações que fui sublinhando
"(...) pois aqui onde me encontro nenhum canto é meu, nenhum objecto me pertence, até mesmo o meu corpo não é mais um recanto privado da minha alma como antes era. Só os meus pensamentos me pertencem, só esses não são vigiados, e ainda assim, há quem tente adivinhar os motivos por que falo ou por que estou calada."
"Escuta bem a tua mãe. Isto é muito importante, ninguém lê os teus livros porque eles têm um problema. (...) E é por esse defeito que as pessoas não lêem os teus livros, nem aqui nem na Europa, nem na América do Sul nem na América do Norte. Muda, muda os teus finais..."
"A vida é um arco, tem o seu começo e o seu fim, inicia-se num berço, faz o seu voo ascendente, e a partir de certa altura a curva desce até nos entregarmos à terra, de novo dentro de uma caixa de madeira que em nada difere de um berço."
"Até hoje, eu pensava que cada um era um, e cada vida, irrepetível. Mas agora concordo que preciso de pensar mais sério sobre o assunto. Seremos mesmo irrepetíveis? Para mim foi um choque ouvir a minha história na boca de uma outra pessoa."
"Éramos seres ao deus-dará que os cuidados da residência iludiam. Vivíamos uma espécie de hora da verdade. A decrepitude de cada um ampliava-se em face da decadência de todos e resultava em vergonha."
"– Enquanto na vida lá fora concebemos a noite como uma forma de preparar o dia, aqui dentro passamos o dia a preparar a noite. Passar a noite bem é o grande objectivo."