Título: Limpa
Série: -
Autor: Alia Trabucco Zerán
Data de Leitura: 22/05/2023 ⮞ 26/05/2023
Classificação: ⭐⭐⭐⭐
Sinopse
Um romance fulgurante sobre os conflitos de classe e a intimidade do trabalho doméstico por uma das vozes mais promissoras da literatura sul-americana.
Vinda do campo para a capital do país, Estela García encontra trabalho junto do abastado casal Jansen como criada de quarto e ama da sua filha recém-nascida, Julia, a mesma que educará e verá crescer. Serão sete anos divididos entre tarefas domésticas invisíveis e repetitivas e a falsa intimidade que estas proporcionam.
Entre solidão, afetos, conflitos e segredos, Estela encontrará o seu lugar no seio da família. Porém, quando a tragédia irrompe na vida dos Jansen e Julia aparece morta, os ódios de classe revelam-se sob a forma de preconceitos sociais enraizados.
Minha review no GoodReads
A menina morre e sabemos disso desde o início, e quem conta é a narradora, a ama Estela Garcia.
E o desfecho desta história é o seguinte… Querem mesmo saber?
A menina morre.
Alô?! Não reagem?
É melhor repetir, não vá uma mosca ter-vos zumbido ao ouvido ou uma ideia mais aguda ou mais estridente do que a minha voz vos ter distraído.
A menina morre, ouviram? A menina morre e continua morta seja qual for o meu início.
O que não sabemos são as circunstâncias que antecederam e provocaram a sua morte, e para chegarmos a esse evento trágico, Estela conta-nos episódios ocorridos naquela casa durante os 7 anos que lá trabalhou. E é isso que é interessante nesta história.
É uma história sobre diferenças de classes, de racismo, discriminação e de semi-escravidão. Uma crítica social mordaz a uma realidade latino-americana.
Não gostei das personagens, mas Estela tem uma voz poderosa na simplicidade, na crueza e na ironia.
Um romance que não nos deixa indiferentes, que nos abala, nos deixa desconfortáveis mas que também é inteligente, autêntico, coerente e ácido. Acima de tudo ácido.
Agora peço-vos, por favor, que se levantem das vossas cadeiras. Sim, estou a falar convosco pela última vez.
Levantem-se, procurem a chave e abram esta porta.
É uma ordem, sim. Uma ordem da empregada.
Eu já acabei de falar. Cheguei ao fim da minha história.
Os senhores, a partir deste momento, não podem dizer que não sabiam. Que não viram. Que não ouviram. Que desconheciam a realidade.
Portanto, levantem-se, vamos. Já esperei o suficiente.
Estou aqui dentro. A porta continua fechada.
Não vos oiço do outro lado. Preciso que abram.
Alô?
Estão a ouvir?
Está aí alguém?