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[Opinião] Condições nervosas - Tsitsi Dangarembga

 


Título: Condições nervosas

Série: Condições nervosas #1

Autor: Tsitsi Dangarembga

Data de Leitura: 01/05/2023 ⮞ 21/05/2023

Classificação: ⭐⭐


Sinopse

Condições nervosas, da zimbabuense Tsitsi Dangarembga, foi publicado pela primeira vez em 1988, no Reino Unido, com o título de Nervous conditions. É a história da uma família Shona, durante o período pós-colonial, no Zimbábue (Rodésia, antes da independência).

A obra é narrada em primeira pessoa por Tambudzai, ou Tambu, uma menina shona que vive com a família em uma propriedade comunitária nos arredores de Umtali, no Zimbábue. Ela inicia sua narração rememorando a informação chocante de que não se sentira triste quando o irmão morreu, e passa a explicar como o falecimento de Nhamo moldou a mulher em quem ela se tornou, pois possibilitou que ela estudasse e abrisse seus horizontes para o mundo.

– Obra vencedora do prêmio Commonwealth Prize for Africa, de 1989.

– Classificada entre os 12 primeiros livros no ranking dos 100 Melhores Livros Africanos do Século XX.


Minha review no GoodReads

Condições Nervosas de Tsitsi Dangarembga conta a história de Tambudzai, uma rapariga de uma região rural da Rodésia (actual Zimbabué) durante os anos 1960. O irmão de Tambu, Nhamo, morre inesperadamente e, apesar das expectativas culturais de luto, Tambu sente uma mistura de alívio e ambivalência em relação à sua morte.


Não lamentei quando meu irmão morreu. Também não estou me desculpando por minha indiferença, como você poderia descrever, minha falta de sentimento.


Isto acontece porque a morte de Nhamo abre novas possibilidades para Tambu, permitindo-lhe ter uma educação que lhe tinha sido negada por ser mulher.


A história passa-se na época colonial na Rodésia, quando o país ainda era controlado pelos britânicos, e mostra bem as desigualdades sociais e económicas entre os brancos colonizadores que dominam e a maioria negra africana que sofre opressão constante e tem poucas oportunidades de progredir.


– Já é ruim – ela disse, séria – quando um país é colonizado, mas quando as pessoas são colonizadas também! Esse é o fim, é o fim mesmo.


A autora explora também as diferenças sociais dentro da sociedade rodesiana, especialmente entre as comunidades rurais e urbanas. As áreas rurais, como Umtali (atual Mutare) de onde Tambu vem, são caracterizadas pela pobreza, acesso limitado à educação e papéis de género tradicionais. Em contraste, as áreas urbanas, Salisbury (atual Harare), são retratadas como lugares de oportunidade e avanço, mas também como locais de deslocação cultural e influência ocidental.


O papel das mulheres é o assunto principal do romance. A prima de Tambu, Nyasha, é uma personagem complexa que incorpora a luta pelo empoderamento feminino numa sociedade patriarcal. Nyasha rebela-se contra as expectativas tradicionais, aposta na educação como arma e luta pela sua independência. No entanto, a sua desobediência tem um custo, ela enfrenta críticas, desafios de saúde mental e principalmente conflitos com a sua família.


As dinâmicas entre homens e mulheres numa sociedade patriarcal são complexas, e as desigualdades de poder normalmente remetem as mulheres para papéis submissos. As personagens masculinas reforçam essas normas e resistem às mudanças.

Jeremiah, pai de Tambu representa os valores tradicionais da sociedade patriarcal. É resistente às mudanças e é um exemplo de como os homens podem perpetuar as normas sociais opressivas.


Você pode cozinhar livros e dar para seu marido comer? Fique em casa com sua mãe. Aprenda a cozinhar e a limpar. Plante vegetais.


Babamukuru, representa a ascensão social e a influência do sistema colonial. Ele é o tio de Tambu e um dos poucos membros da família a ter acesso à educação. Porém, ele é um defensor das tradições patriarcais.


Ele era um perfeccionista rígido e imponente, com caráter duro o bastante para funcionar da maneira puritana que ele esperava, ou melhor, insistia que o resto do mundo funcionasse. Por sorte, ou, talvez, por azar para ele, durante toda a vida Babamukuru tinha estado – como filho mais velho, como um dos primeiros africanos educados, como diretor, como marido e pai, como provedor para muitos – em posições que o permitiam organizar sua realidade imediata da forma que ele desejasse.


As crenças tradicionais africanas e o cristianismo coexistem, mas o cristianismo é frequentemente usado como meio de manter a ordem social e reforçar valores patriarcais.


Gostei da forma como a autora aborda e explora temas complexos – ainda para mais sendo este um livro publicado anos 80 – com uma escrita simples mas que nos envolve, provoca e desafia.


Pelos vistos a história continua, há mais dois volumes.