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[Opinião] As primas - Aurora Venturini

 


Título: As Primas

Série: -

Autor: Aurora Venturini

Data de Leitura: 16/05/2023 ⮞ 28/05/2023

Classificação: ⭐⭐


Sinopse

Na cidade argentina de La Plata, nos anos de 1940, conhecemos Yuna e Petra, duas primas que pertencem à mesma família disfuncional, precária e destinada à desgraça. Pela voz de Yuna, vemos um universo tortuoso de mulheres abandonadas à sua sorte, a braços com a pobreza, a deficiência, o delírio fantasmagórico e a pressão social. Para se evadir do cerco das histórias de ameaças, violações e homicídios, Yuna recorre à sua imaginação artística: a cada episódio de violência, pinta uma nova tela. Vendo na arte uma fuga ao estropiamento familiar, Yuna lança sobre o seu mundo um olhar selvático — ora cândido e perspicaz, ora violento e ensimesmado — e protagoniza uma história que desafia todas as convenções literárias.


Aurora Venturini poderia ser uma das peculiares personagens dos seus romances, já que o seu percurso ficou marcado pelo fait-divers de ter vencido um concurso literário para novos talentos quando já tinha escrito dezenas de livros e se aproximava do fim da vida. Entre o romance de formação, a delirante autobiografia, o divertimento literário e a radiografia de uma época, As primas é uma obra que celebra, ao mesmo tempo, as dimensões universal e privada da literatura, revelando a desconcertante originalidade de uma autora que ousa colocar perguntas quase sempre cuidadosamente mantidas em silêncio.


Minha review no GoodReads

Aurora Venturini (1922-2015) tinha oitenta e cinco anos quando venceu o Prémio Nueva Novela organizado pelo jornal Página/12. Na cerimónia de entrega apareceu com uma atitude punk, o corpo magro, o rosto insólito, com uma expressão entre a troça e a candura — além do gume maldito dos olhos pequenos, escuros, perscrutadores —, e disse: «Por fim, um júri honesto.»


As primas é um livro que é simultaneamente tão chocante quanto engraçado. É incómodo, tem humor, tragédia, infortúnio e impudência. Como diria a narradora, Yuna, é uma tragicomédia imunda.


As quatro primas - Carina, Petra, Betina e Yuna - levam uma vida isolada e previsível, rodeadas apenas por mulheres. Todas elas são um Erro da natureza.


Uma família desestruturada em que os homens não estão apenas ausentes, falham.

Uma história de muitos infortúnios em que Yuna faz o possível para sobreviver.


O estilo de escrita é muito especial. Com frases longas e sem vírgulas. Parece que estamos a ser atropelados por um camião, mas afinal é só um prato de sopa de letras.


Tentarei aprender a pôr vírgulas e pontos porque tudo o que escrevi me cai em cima como se se virasse um prato cheio de massa sopa de letras e talvez aconteça o mesmo ao leitor (…)