Translate

Pesquisar neste blogue

[Opinião] Os Malaquias - Andréa del Fuego

                                      



Título: Os Malaquias

Série: -

Autor: Andréa del Fuego

Data de Leitura: 16/12/2025 ⮞ 21/12/2025

Classificação: 


Sinopse

"Serra Morena é íngreme, úmida e fértil. Aos pés dela vivem os Malaquias."

Após perderem os pais, os irmãos Nico, Júlia e Antônio veem-se diante de nova realidade. O mais velho, ainda criança, passa a trabalhar na fazenda de um poderoso da região; a menina, por sua beleza, é adotada e levada para outra cidade; o caçula, um garoto que não cresce, é acolhido pelas freiras do orfanato.

Separados ainda na infância, os três vão seguir diferentes caminhos, a um só tempo fantásticos e reais. A escassez de água, de amor e de unidade, que acompanha a família desde o raio que a originou, torna-se abundância à medida que as páginas do livro revelam novas e extraordinárias personagens — freiras francesas, traficantes de bebês, espíritos ancestrais e pessoas que desaparecem no vapor de um bule a ferver —, entremeadas por um vale mágico, despertado pela chegada de uma hidrelétrica à cidade de Serra Morena, onde pouco a pouco os Malaquias tentam se (re)encontrar.

Romance de estreia de Andréa del Fuego, Os Malaquias recebeu em 2011 uma das mais prestigiosas honrarias da literatura, o prêmio José Saramago. Um tributo fascinante à memória, à família, à vida e à humanidade de cada um de nós.


Minha review no GoodReads


A Pediatra, um romance muito apreciado, não me conquistou. Ainda assim, não desisti de Andrea del Fuego e, por isso mesmo, fui atrás do romance que venceu o Prémio Saramago. Talvez desta vez a experiência fosse diferente!


Gostei do início. Uma tragédia marcada por raios.


Todos se recolheram, a noite ia grossa, o vento afrouxava as janelas. As telhas vibravam, num mínimo gesto a tempestade nasceria dentro da casa. Os pais dormiam num quarto. Nico, Júlia e Antônio noutro, na mesma cama, aninhados em forma de embrião.

Um gato esticou as pernas, as paredes retesaram-se. A pressão do ar achatou os corpos contra o colchão, a casa inteira acendeu-se e apagou-se, uma lâmpada no meio do vale. O trovão soou comprido até alcançar o lado oposto da serra. Debaixo da construção, a terra, de carga negativa, recebeu o raio positivo de uma nuvem vertical. As cargas invisíveis encontraram-se na casa dos Malaquias.

O coração do casal fazia a sístole, momento em que a aorta se fecha. Com a via contraída, a descarga não pôde atravessá-los e descarregar-se. Na passagem do raio, pai e mãe inspiraram; o músculo cardíaco recebeu o abalo sem escoamento. O clarão aqueceu o sangue em níveis solares e pôs-se a queimar toda a árvore circulatória. Um incêndio interno que fez o coração, cavalo que corre por si, terminar a corrida em Donana e Adolfo.

Nas crianças, nos três, o coração fazia a diástole: a via expressa estava aberta. O vaso dilatado não perturbou o curso da electricidade e o raio seguiu pelo funil da aorta. Sem afectar o órgão, os três tiveram queimaduras ínfimas, imperceptíveis.


Lembrei-me de imediato de Eu Canto e a Montanha Dança.


No entanto, a autora começou a perder-me quando o realismo mágico entrou em cena, à boleia de frases como:

— Maria? Vem ver, o Nico caiu no bule.


O realismo mágico é como o sal, uma pitada a mais e arruína o prato. Foi, basicamente, o que aconteceu.