Série: -
Autor: Nuno Duarte
Data de Leitura: 26/06/2025 ⮞ 06/07/2025
Classificação: ⭐⭐⭐
Sinopse
Estamos em 1962, num país orgulhosamente só, e vem aí a construção da primeira ponte suspensa sobre o Tejo, para a qual vão ser precisos cerca de três mil homens. A obra irá mudar para sempre a paisagem da capital, muito especialmente para quem vive em Alcântara, como é agora o caso de Victor Tirapicos, instalado na casa dos tios depois de ter envergonhado o pai com dois anos de cadeia só por ter roubado pão e batatas para fintar a miséria.
É, de resto, pelos olhos deste serralheiro de vinte e dois anos que veremos a ponte erguer-se um pouco mais todos os dias e, ali mesmo ao lado, partirem os navios cheios de rapazes para a guerra do Ultramar, donde muitos acabarão por voltar estropiados, endoidecidos ou mortos.
Porém, apesar de a modernidade parecer estar a matar a vida e os costumes do pátio operário onde convivem (amigavelmente ou nem tanto) uma série de figuras inesquecíveis - entre elas o mestre sapateiro que faz as chuteiras para o Atlético Clube de Portugal e um velho culto que aprende a desler -, Victor Tirapicos encontra o amor de uma rapariga que é muda mas consegue escutar o planeta, pressentindo a derrocada da estação do Cais do Sodré e outra catástrofe ainda maior, que se calhar tem pés de barro e só acontece neste romance, mas bem podia ter acontecido.
Minha review no GoodReads
Um livro sobre a construção da ponte sobre o Tejo, a que então se chamou Ponte Salazar e que hoje conhecemos como Ponte 25 de Abril. Um símbolo incontornável da cidade de Lisboa, um monumento que alterou de forma definitiva a paisagem urbana. Mas não é apenas sobre a construção da ponte — se fosse, seria um livro aborrecido. É também sobre um Portugal mergulhado na ditadura, marcado por uma miséria que não era apenas social e física, mas também intelectual; sobre uma sociedade apática e obediente; sobre uma guerra colonial que, de tempos a tempos, cuspia caixões e estropiados para os lados do Cais da Rocha Conde de Óbidos.
E até cerca de 95% da leitura, Pés de Barro estava a ser uma experiência bastante agradável. Depois, o autor estragou tudo.