Translate

Pesquisar neste blogue

[Opinião] D. Teresa - Isabel Stilwell

          


        

Título: D. Teresa

Série: -

Autor: Isabel Stilwell

Data de Leitura: 04/09/2024 ⮞ 13/09/2024

Classificação: 


Sinopse

Esta é a história de Teresa, filha de Ximena Moniz do Bierzo, de quem herdou os olhos verdes e a astúcia, e de Afonso VI de Leão e Castela. Isabel Stilwell, a autora de romances históricos mais lida em Portugal, traz-nos um romance emocionante sobre esta personagem fundamental da nossa história. Uma mulher de armas, à frente do seu tempo, que governou num mundo de homens e de conspirações. Viúva aos vinte e cinco anos do Conde D. Henrique de Borgonha regeu com pulso de ferro o que era seu por direito. Em 1116, o Papa Pascoal II reconhecia-a como Rainha. Pelo Condado Portucalense confrontou a meia-irmã e rival Rainha Urraca de Castela, o pai, a igreja Católica, os nobres portucalenses e até mesmo o seu próprio filho D. Afonso Henriques, na lendária Batalha de São Mamede, em 1128. Trinta e três anos depois de ter chegado ao condado, via-se obrigada a fugir, derrotada e traída. Restava-lhe o consolo de ter a seu lado o seu amado, Fernão Peres de Trava, e a certeza de que em Sahagún, Alberto, seu fiel amigo, escreveria, com verdade, a sua história.


Minha review no GoodReads

Isabel Stilwell é conhecida pelas suas biografias romanceadas de figuras femininas importantes da monarquia portuguesa. Neste livro, Stilwell foca-se em D. Teresa de Leão, mãe de D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, e uma mulher com bastante importância na formação do país. O romance retrata o início do século XII, numa Península Ibérica fragmentada e marcada por lutas pelo poder entre diferentes reinos cristãos e mouros.

D. Teresa surge como uma personagem que não é apenas uma figura secundária na ascensão de D. Afonso Henriques, mas como uma líder independente que lutou pela soberania do Condado Portucalense (868–1143).

(…) Estás a ver a senhora D. Teresa a jurar vassalagem à meia-irmã?
(…)
— Não viverei para ver esse dia, suspeito!
(…)
— Nunca lhe prestarei vassalagem — murmurou Teresa, entre dentes.
A história oferece-nos uma visão detalhada da sua vida, desde o seu nascimento como filha ilegítima de Afonso VI de Leão e Castela, até à sua relação amorosa com o galego Fernão Peres de Trava e à sua relação complexa com o filho, culminando na Batalha de São Mamede (aquela que nos deu aquele dito popular: Filho bate na mãe e foge para o Algarve.)

Gostei da forma envolvente como o romance é narrado, com uma linguagem simples e acessível que equilibra a precisão histórica com a ficção.
A história vai alternando entre o contexto político e militar da época e os aspetos mais íntimos da vida de D. Teresa

Dei por mim a pensar sobre o papel subestimado de figuras como D. Teresa, cuja força e inteligência foram a maioria das vezes eclipsadas pelas narrativas centradas nos homens. D. Teresa não foi apenas mulher de D. Henrique ou a mãe de Afonso Henriques , foi uma mulher poderosa num tempo em que as vozes femininas eram consideradas vozes do diabo . A relação tumultuosa entre D. Teresa e D. Afonso Henriques não é apenas um conflito de poder, mas também uma batalha emocional.

Isabel Stilwell também recorre a uma mistura subtil de história e mito. A Ninfa do Lago de Carucedo refere-se a Ximena Moniz, uma personagem histórica completamente desconhecida, mas que é retratada de forma quase sobrenatural, associando-a ao místico Lago de Carucedo, na região de Leão. Ao descrever Ximena como uma "ninfa", Stilwell dá-lhe um ar quase etéreo, como se a sua herança fosse não só de sangue nobre, mas também de algo mais ancestral e mágico.
Desta forma somos quase impelidos a acreditar que a herança de D. Teresa vai além do poder político, tocando em algo quase sobrenatural, é uma figura de cariz mítico, imbuída de uma força ancestral que parece alimentar a sua determinação de lutar pelo seu legado. É uma mulher de poder e visão num tempo de homens, e isso não poderia ter raízes apenas no sangue mas também no mito.

O contexto histórico da Península Ibérica do século XII era um mosaico de reinos cristãos em constante rivalidade, ao mesmo tempo que lutavam contra a presença moura. D. Teresa destacou-se neste cenário como uma figura feminina de poder, desafiando as convenções e assegurando o controlo do Condado Portucalense numa época dominada por homens.

Isabel Stilwell constrói uma narrativa poderosa que reabilita uma figura histórica ofuscada por D. Afonso Henriques, e desafia a visão tradicional mostrando-nos que as mulheres também desempenharam papéis fundamentais na criação do país.