Título: Pátria
Série: -
Autor: Fernando Aramburu
Data de Leitura: 16/06/2024 ⮞ 30/08/2024
Classificação: ⭐⭐⭐
Sinopse
No dia em que a ETA anuncia o abandono das armas, Bittori dirige-se ao cemitério para, na sepultura do marido, Txato, assassinado pelos terroristas, lhe contar que decidira voltar à casa onde tinham vivido os dois. Mas poderá ela conviver com aqueles que a perseguiram antes e depois do atentado que transtornou a sua vida e a da família? Poderá saber quem foi o encapuzado que num dia chuvoso matou o marido, quando este regressava da sua empresa de transportes?
Por mais que chegue às escondidas, a presença de Bittori alterará a falsa tranquilidade da terra, sobretudo a da vizinha Miren, amiga íntima noutros tempos, e mãe de Joxe Mari, um terrorista encarcerado e suspeito dos piores receios de Bittori. O que aconteceu entre essas duas mulheres? O que envenenou a vida dos filhos e dos respetivos maridos, tão unidos no passado? Com lágrimas escondidas e convicções inabaláveis, com feridas e coragem, a história arrebatadora das suas vidas, antes e depois da tormenta que foi a morte de Txato, fala-nos da impossibilidade de esquecer e da necessidade de perdoar numa comunidade fragmentada pelo fanatismo político.
Minha review no GoodReads
Espanha é o nosso único vizinho e, na maioria das vezes, nem sequer sabemos bem o que por lá se passa.
Entre a sua fundação em 1959, o fim das atividades em 2011 e a sua extinção em 2018, o grupo terrorista Euskadi Ta Askatasuna (ETA), que reivindicava a independência de uma região conhecida como País Basco, cometeu mais de 2.600 atentados, resultando em mais de 850 mortos, milhares de feridos, milhares de pessoas ameaçadas, e muitos sequestrados cujas famílias pagaram mais de 100 milhões de euros em resgates.
Não foi assim há tanto tempo – em Fevereiro de 2010 – que em Óbidos foi desmantelada uma base da ETA, dois etarras foram presos e, na vivenda, foi encontrado material explosivo. Na altura, chegou a haver a desconfiança de que existiam várias bases de grupos de etarras a operar no nosso país.
Eu pertenço à geração que cresceu a ver na televisão os três encapuzados atrás de uma mesa, a fazer exigências ou a reivindicar atrocidades cometidas.

Não consigo esquecer a viagem que fiz pelo País Basco nos anos 80, com os sinais de trânsito todos com as indicações em espanhol pintadas de preto, as paredes dos edifícios grafitadas com frases da organização, a desolação que eram as aldeias mais recônditas daquela região, o medo nos olhos das pessoas, fossem elas abertzales ou não, o ambiente pesado que se vivia, e também não me consigo esquecer do atentado contra mulheres e crianças, cometido num centro comercial em Barcelona, em 1987.
Por tudo isto, esperava uma obra que trouxesse para a actualidade as razões que levaram a este conflito, a complexidade da situação vivida durante aqueles anos, a complexidade da política, da violência e das relações humanas, mas Pátria concentra-se mais nas pequenas tragédias das personagens, no impacto pessoal e emocional do conflito sobre as duas famílias, do que na explicação dos aspectos políticos e históricos mais amplos do País Basco e da ETA, o que, na minha opinião, acaba por negligenciar o quadro mais vasto do conflito basco. O tema da ETA serve apenas como isco.
Embora concorde que Aramburu escreve bem, que o romance tem um bom ritmo, com capítulos curtos e uma tensão constante, houve algumas coisas que me irritaram e que fizeram com que a experiência de leitura não fosse das melhores: As perguntas constantes feitas pelo narrador, a que ele próprio responde; as frases em que barras separam dois adjectivos ou verbos e nos dão a opção de escolha:
Olha para as imagens e diz/pensa: não. Às vezes diz/pensa abanando um pouco a cabeça em sinal de rejeição.
Joxian recuou triste/atónito, amedrontado/pusilânime, (…)
As personagens não me despertaram sentimentos ou qualquer tipo de empatia ou simpatia. Parecem todas ter a mesma voz, a do autor. São muito planas, sem qualquer aprofundamento psicológico e demasiado estereotipadas.
Na RTP Memória estão disponíveis dois episódios, transmitidos em 2001, sobre a ETA