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[Opinião] A travessia do rio - Caryl Phillips

   


        

Título: A travessia do rio

Série: -

Autor: Caryl Phillips

Data de Leitura: 01/07/2024 ⮞ 19/07/2024

Classificação: 


Sinopse

Finalista do Man Booker Prize em 1993 e vencedor do James Tait Black Memorial Award em 1994, A travessia do Rio é uma ambiciosa e poderosa evocação de 250 anos da diáspora africana. Nascido na ilha caribenha de São Cristóvão e criado na Inglaterra, o premiado escritor Caryl Phillips (que hoje vive nos Estados Unidos), autor de Uma margem distante e Dançando no escuro, constrói uma narrativa singular e equilibra um brilhante leque de vozes para narrar a história de uma família que teve seus laços desfeitos pela escravidão. No ano de 1753, em tempos de colheitas escassas e desespero, três irmãos são vendidos e entregues a um navio negreiro inglês com destino à América. Através da trajetória dos três irmãos, simbolicamente separados no tempo, em suas jornadas distintas, em épocas e continentes diferentes, acompanhamos também a história de todos os filhos da escravidão. Nash é um retornado nos anos 1830. Educado como cristão, hábil na escrita e na leitura, ele é enviado à Libéria por seu ex-senhor. Mas ao chegar àquele território, que supostamente seria sua terra natal, ele tem dificuldade em se adaptar ao clima e de conviver com pessoas, tão diferentes dele. Arrancado quando menino da África, ele não mais a reconhece como sua casa. Martha, no final do mesmo século, vê-se separada da filha e do marido, vendidos para outros territórios. Arriscando-se, já com certa idade, na travessia para o Oeste americano, ela se liberta da escravidão, mas não do peso de tudo que sofreu. Travis é um soldado norte-americano lotado em uma aldeia britânica durante a Segunda Guerra Mundial, que conquista o coração de uma inglesa, branca e casada, com quem tem um filho e sonha em uma vida conjunta longe de julgamentos do passado. Essas três histórias marcantes somam-se aos ocasionais lamentos do pai que teve de vender os próprios filhos e ao diário de viagem de um vendedor de escravos para formar o chamado “coral de muitas vozes”. Passando por diferentes continentes e gerações, Caryl Phillips nos relembra dois séculos e meio de uma história que nunca será esquecida.


Minha review no GoodReads

A Travessia do Rio - finalista do Prémio Booker em 1993 – é um romance do autor Caryl Phillips, nascido em São Cristóvão e Neves, mas que ainda em criança se mudou para Inglaterra.


O livro é composto por quatro histórias diferentes e não relacionadas: a de um evangelista negro na Libéria, a de uma mulher negra a caminho de uma nova vida na Califórnia durante a migração do século XIX, a do capitão de um navio negreiro e a de um soldado afro-americano na Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial. As diferentes histórias são apresentadas através de uma variedade de formas literárias, incluindo cartas, diários e narração na terceira pessoa.


É um livro que fala da diáspora africana, da identidade, da perda e do sofrimento ao longo de um período de mais de 250 anos.


Uma tolice desesperada. A colheita fracassou. Vendi meus filhos.

(…)

Um negócio vergonhoso. Podia sentir os olhos deles sobre mim, me perguntando Por quê?. Eu me virei e fiz a viagem de volta pelos mesmos longos caminhos. Acredito que com isso se encerrem os negócios a que se propõe esta viagem. E, logo depois, o coro de uma memória comum começou a me assombrar.

Há 250 anos ouço esse coral de muitas vozes. E, ocasionalmente, entre aquele monte de vozes incansáveis, escuto as dos meus filhos. Meu Nash. Minha Martha. Meu Travis. Suas vidas partidas. Deitando raízes de esperança num solo difícil. Há 250 anos tento falar com eles: Crianças, eu sou o pai de vocês. Amo vocês. Mas entendam. Não existem caminhos definidos a se trilhar na água. Não existem sinalizações. Não há retorno. Para um país pisoteado pelas botas imundas dos outros. Para um povo incentivado a entrar em guerra contra si mesmo. Para um pai consumido pelo remorso. Vocês estão além disso. Partidos, como os galhos de uma árvore; mas não perdidos, pois seus corpos carregam as sementes de novas árvores. Deitando raízes de esperança num solo difícil. E eu, que rejeitei vocês, só posso me culpar por meu desespero. Há 250 anos, espero pacientemente que o vento se levante na margem mais distante do rio. Para ouvir o rufo dos tambores do outro lado das águas. Para o som do coral crescer em volume. Só então, se eu ouvir com atenção, é que posso reencontrar meus filhos perdidos. Um momento rápido e de dolorosa comunhão. Uma tolice desesperada. A colheita fracassou. Vendi meus filhos.


É um romance poderoso que explora as cicatrizes duradouras da escravatura e do racismo. 


São Cristóvão e Neves