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[Opinião] O arroz de Palma - Francisco Azevedo

     


Título: O arroz de Palma

Série: -

Autor: Francisco Azevedo

Data de Leitura: 27/08/2019 ⮞ 29/08/2019

Classificação: 


Sinopse

A imigração portuguesa no Brasil, no séc. XX, retratada num romance sobre a saga de uma família em busca de um futuro melhor. Ao longo de cem anos acompanhamos as alegrias e tristezas, as discussões e as pazes, as separações e os que são felizes para sempre.

Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema - principalmente no Natal e no Ano Novo. Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir. Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida é azeitona verde no palito - sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares.


Minha review no GoodReads

Francisco Azevedo nasceu em 1951 no Rio de Janeiro. É dramaturgo, roteirista cinematográfico, poeta e ex-diplomata. Começou a dedicar-se à literatura em 1967, quando venceu concurso promovido pela Organização dos Estados Americanos (OEA), tem três livros publicados: O Arroz de Palma – 2008, Doce Gabito – 2012 e Os novos moradores – 2017.

Estamos em 2008, Antônio está com 88 anos, como ele diz "dois infinitos verticais", e enquanto confecciona um grande almoço de comemoração dos 100 anos do casamento dos pais, que vai oferecer aos parentes, perde-se nas suas lembranças e conta-nos a história da sua família. Logo percebemos que é uma família que raramente se reúne, e que ao longo das décadas conheceu seus temperos e destemperos.

“Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema — principalmente no Natal e no Ano-Novo. Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência.”

A história começa em Viana do Castelo, no dia do casamento de José Custódio e Maria Romana, a 11 de Julho de 1908.
Palma, irmã de José Custódio, não tinha condições financeiras para oferecer um presente aos noivos, e quando vê a fartura de arroz espalhado no Adro da Igreja decidiu que esse seria o seu presente. Recolhe 12 quilos, embrulha-os num saco de estopa e oferece-o ao jovem casal com o seguinte cartão:

“Este arroz — plantado na terra, caído do céu como o maná do deserto e colhido da pedra — é símbolo de fertilidade e eterno amor. Esta é a minha bênção.
Palma.
Viana do Castelo, em 11 de julho de 1908.”

Este arroz, dado com tanto amor, é o motivo da primeira discussão do casal. A partir deste momento o arroz vai fazer parte da história de quatro gerações desta família - 100 anos.
Antônio é o centro da história. Através das suas memórias conhecemos os seus pais, a sua infância, os irmãos, a mulher, os filhos, netos e agregados. Antônio brinca durante toda a história com analogias entre o cozinhar e a construção de uma família.

É um livro sobre família, sobre a complexidade dos relacionamentos, raízes, tradições, diferenças, amor, dedicação, escolhas, aceitação, compreensão, perseverança e união. É um livro que nos faz reflectir sobre a forma como se vive essa instituição, muitas vezes dada como quase desaparecida, A Família.

Francisco Azevedo escreve de uma forma muito bonita, simples e delicada, suave e poética. Por diversos momentos, durante a leitura, lembrei-me de Cem Anos de Solidão e d'A Casa dos Espíritos.
Conquistou-me, emocionou-me, e por isso não posso deixar de lhe dar a classificação máxima.


Capela de Nossa Senhora da Ajuda, Viana do Castelo, Portugal


(…) era uma vez um arroz. Arroz plantado na terra, caído do céu e colhido da pedra. Arroz que não se estraga, arroz que veio de longe, lá de Portugal, do outro lado do Atlântico. Veio de navio, com José Custódio, meu pai, Maria Romana, minha mãe, e Palma, minha tia. Ainda eram moços, sim! Moços viçosos e cheios de sonhos…