Título: Urupês
Série: -
Autor: Monteiro Lobato
Data de Leitura: 05/02/2019 ⮞ 15/02/2019
Classificação: ⭐⭐⭐⭐
Sinopse
Urupês é um livro de contos, escrito por Monteiro Lobato e publicado em 1918.
Urupês é considerado a obra-prima de Monteiro Lobato, e é um clássico da literatura brasileira. O livro é composto por 14 contos, que mostram a vida quotidiana e mundana do caboclo do interior de São Paulo, através de suas crenças, costumes e tradições. Têm, geralmente, um final trágico e inesperado.
Os contos do livro são:
Os faroleiros
O engraçado arrependido
A colcha de retalhos
A vingança da peroba
Um suplício moderno
Meu conto de Maupassant
"Pollice Verso"
Bucólica
O mata-pau
Bocatorta
O comprador de fazendas
O estigma
Velha Praga
Urupês
Minha review no GoodReads
Urupês, publicado em 1918, é a obra que dá início à carreira de Monteiro Lobato e reúne uma colectânea de doze contos e dois artigos-conto.
O artigo “Velha praga”, publicado em 1914, no jornal O Estado de São Paulo – Estadão – e que gerou grande polémica era um protesto contra as queimadas no Vale do Paraíba. Monteiro Lobato, naquela época, dedicava-se à fazenda herdada de seu avô e tinha inúmeros problemas, uns causados pela seca e outros pelas constantes queimadas praticadas pelos caboclos. Devido ao impacto e polémica do artigo Monteiro Lobato publicou, no mesmo jornal, outro conto chamado Urupês.
É neste artigo "Velha praga" e principalmente no conto Urupês que surge uma personagem bastante famosa: o Jeca Tatu.
Jeca Tatu representa a miséria e atraso do país. É um caipira miserável, desleixado, com mau aspecto, imundo e que apenas vive da agricultura de subsistência. Não tem educação, cultura e é preguiçoso.
Originalmente esta colectânea de contos era para ter como título “Dez mortes trágicas”, e até faz bastante sentido, porque quase todos os contos ou contêm ou terminam em tragédia – e não são tragédias pequenas, algumas são devastadoras. Há assassinatos, suicídios, traições e até necrofilia.
Urupês é um marco na história da literatura brasileira. Os contos têm uma temática regionalista, abordam problemas das cidades do interior – sempre chamadas de Itaoca, cujo significado em tupi é caverna - e pela primeira vez um autor faz uma dura crítica à realidade do interior do país que na sua opinião não queria modernizar-se.
O crítico literário Alceu Amoroso Lima definiu-o como: Vibrante, expressivo nas comparações vegetais, independente, cria neologismos, inventa construções inéditas, e para ideias novas aplica termos novos. Pode-se dizer que ele sacode a velha árvore da língua e, ao agitar, da fronde caem os frutos secos, vigorizam-se os novos e repontam outros.
O Jornal, Rio de Janeiro, 23 de junho de 1919. Nota da edição de 2007
Destaco os contos:
A colcha de retalhos – 1915
”(…) costumava dizer: mulher na roça vai à vila três vezes – uma a batizar, outra a casar, terceira a enterrar”
“Pollice verso” – 1916
“A morte é um preconceito. Não há morte. Tudo é vida. Morrer é transitar de um estado para o outro. Quem morre, transforma-se. Continua a viver inorganicamente, transmutado em gases e sais, ou organicamente, feito lucílias, necróforas e uma centena de outras vidinhas esvoaçantes. Que importa para a universal harmonia das coisas esta ou aquela forma? Tudo é vida. A vida nasce da morte.”
Bucólica – 1915
💔
O estigma – 1915
”Minha mulher – não o suspeitaste naquele jantar? – era uma criatura visceralmente má.
O ‘má’ na mulher diz tudo; dispensa maior gasto de expressões. Quando ouvires de uma mulher que é má, não peças mais: foge a sete pés.”
Urupês – 1914
"O caboclo é soturno.
Não canta senão rezas lúgubres.
Não dança senão o cateretê aladainhado.
Não esculpe o cabo da faca, como o cabila.
Não compõe sua canção, como o felá do Egito.
No meio da natureza brasílica, tão rica de formas e cores, onde os ipês floridos derramam feitiços no ambiente e a infolhescência dos cedros, às primeiras chuvas de setembro, abre a dança dos tangarás; onde há abelhas de sol, esmeraldas vivas, cigarras, sabiás, luz, cor, perfume, vida dionisíaca em escachoo permanente, o caboclo é o sombrio urupê de pau podre, a modorrar silencioso no recesso das grotas.
Só ele não fala, não canta, não ri, não ama.
Só ele, no meio de tanta vida, não vive...”
Próximo livro: Cidades Mortas
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A humanidade é sempre a mesma cruel chacinadora de si própria, numerem-se os séculos anterior ou posteriormente a Cristo. Mudam de forma as coisas; a essência nunca muda.
A morte é um preconceito. Não há morte. Tudo é vida. Morrer é transitar de um estado para o outro. Quem morre, transforma-se. Continua a viver inorganicamente, transmutado em gases e sais, ou organicamente, feito lucílias, necróforas e uma centena de outras vidinhas esvoaçantes. Que importa para a universal harmonia das coisas esta ou aquela forma? Tudo é vida. A vida nasce da morte.
Minha mulher – não o suspeitaste naquele jantar? – era uma criatura visceralmente má.
O ‘má’ na mulher diz tudo; dispensa maior gasto de expressões. Quando ouvires de uma mulher que é má, não peças mais: foge a sete pés.