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[Opinião] Cidades Mortas - Monteiro Lobato

  


Título: Cidades Mortas

Série: -

Autor: Monteiro Lobato

Data de Leitura: 25/02/2019 ⮞ 11/03/2019

Classificação: 


Sinopse

Publicado em 1919, reúne 25 contos, entre escritos de juventude e textos posteriores. Neles, Monteiro Lobato retrata, de forma crítica e bem-humorada, os costumes provincianos dos povoados do interior do Brasil, relegados à decadência após um passado de prosperidade promovido pela cultura do café.


Minha review no GoodReads

Cidades Mortas é composto por 25 contos que retratam a decadência, após o declínio do cultivo do café, das cidades do Vale do Paraíba. Tal como em Negrinha e Urupês a ironia e a crítica social continuam bem presentes e afiadas.

No conto de abertura, Cidades Mortas, e que dá o nome à colectânea, Monteiro Lobato dá o tom e retrata aquele cenário onde:

“Ali tudo foi, nada é. Não se conjugam verbos no presente. Tudo é pretérito.
Umas tantas cidades moribundas arrastam um viver decrépito, gasto em chorar na mesquinhez de hoje as saudosas grandezas de dantes.”

Em A vida em Oblivion mostra como era patética a vida na cidade que se contentava em rodar os únicos três livros pela população.

"Os intelectuais de Oblivion bebiam à farta naquela veneranda fonte. Em Bernardo abeberavam-se de “estilo e boa linguagem”, conforme afirmou um; no Rocambole truncado exercitavam os músculos da imaginativa; e no Paulo de Kock, os eleitos, os Sumos (os que sabiam francês!) fartavam-se da grivoiserie permitida a espíritos superiores.
Essa trindade impressa bastava à educação literária da cidade. Feliz cidade! Se é de temer o homem que só conhece um livro, a cidade que só conhece três é de venerar. Veneração, entretanto, que não virá, porque o mundo desconhece totalmente a pobrezinha da Oblivion..."


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– Sabe como Deus criou as estrelas? Mandou que os anjos cortassem grandes florestas e armassem enorme fogueira da altura do Himalaia. Acendeu-a e, quando tudo estava em brasa, despegou um pedaço do céu e arremessou-o contra ela. Ergueu-se então um repuxo imenso de faíscas, que foram subindo, foram subindo, até se grudarem na abóbada negra do firmamento...


A natureza pôs-lhe na cabeça um tabloide homeopático de inteligência, um grânulo de memória, uma pitada de raciocínio – e plantou a cabeleira por cima. Essa mesquinhez por dentro. Por fora ornou-lhe a asa do nariz com um grão de ervilha, que ela modestamente denomina verruga, arrebitou-lhe as ventas, rasgou-lhe a boca de dimensões comprometedoras e deu-lhe uns pés... Nossa Senhora, que pés!