Título: Quatro NovelasSérie: -
Autor: Ana de Castro Osório
Data de Leitura: 10/10/2018 ⮞ 20/10/2018
Classificação: ⭐⭐⭐⭐
Sinopse
Chamo-me Raquel. Creio que este nome é hereditário na minha família, porque a minha avó e a mãe da minha avó eram também Raquel. Não sei. De genealogias, como de tudo mais, entendo pouco.
O mais longe que posso recordar na minha existência humana, vejo-me feliz.
Era uma grande casa de aldeia, a nossa. Havia ali de tudo quanto pode desejar uma criança acostumada à simplicidade da vida campestre.
Os pátios eram habitados por uma multidão de animais domésticos, que nos conheciam bem, de tanto milho que às escondidas lhes deitávamos.
Eu era a mais velha, e os meus quatro irmãozitos seguiam-me alegremente pelos campos fora, como um rebanho segue o pastor. Nada nos era defeso, nem parede que não tivéssemos escalado, nem árvore que não conhecêssemos como os nossos dedos. Os frutos eram vigiados desde que as árvores se cobriam de prometedoras flores, e antes, muito antes da família os ver em casa, já nós tínhamos feito a nossa primeira escolha. Quando a nossa pobre burrica descansava do fatigante trabalho da nora, íamos desamarrá-la da manjedoura, saltávamos-lhe para cima, e fazíamo-la trotar pelos caminhos pedregosos da aldeia como um pur-sang trotaria nas avenidas areadas dum luxuoso parque.
Felizes tempos!…
Minha review no GoodReads
A escritora, activista e pedagoga Ana de Castro Osório (Mangualde, 18 de Junho de 1872 – Setúbal, 23 de Março de 1935) publicou, em 1905, Às Mulheres Portuguesas, o primeiro manifesto feminista português. Foi uma das fundadoras do Grupo Português de Estudos Feministas, em 1907, da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, em 1909 e, em 1912, da Associação de Propaganda Feminista, a primeira organização sufragista portuguesa, que, por iniciativa da escritora, integrou a International Women Suffrage Alliance.
Dedicou-se desde muito cedo ao jornalismo, foi membro do Grande Oriente Lusitano, adoptando como nome simbólico o da revolucionária do século XVIII Leonor Fonseca Pimentel. Imediatamente após a instauração da República, trabalhou com o Ministro da Justiça na elaboração da Lei do Divórcio, de 1910. Entre 1911e 1916 viveu no Brasil, acompanhando o marido, que fora nomeado cônsul em S. Paulo. Com o deflagrar da 1ª Guerra Mundial fundou a Comissão de Mulheres Pela Pátria, a partir da qual se formou, em 1916, a Cruzada das Mulheres Portuguesas. Em 1916 exerceu as funções de subinspectora do trabalho da 1ª Circunscrição Industrial do Ministério do Trabalho. Foi condecorada com a Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (1919) e com a Ordem Civil do Mérito Agrícola e Industrial (1931).
É considerada a criadora da literatura infantil em Portugal, tendo realizado uma extensa e intensiva recolha dos contos da tradição oral do país, e publicado inúmeros volumes de histórias para crianças.
Fonte: Sibila Publicações
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Esta obra é composta por quatro novelas.
Gostei muito da escrita de Ana de Castro Osório, da forma como desenha as personagens, os diálogos e como descreve os ambientes.
Já tinha lido a novela A Feiticeira (4 ⭐️) e tinha gostado bastante, porém acabei a gostar mais ainda de Diário de uma Criança e Sacrificada (5 ⭐️).
Numa altura em que os movimentos feministas estão tão activos, não consigo perceber como é que uma Mulher com o percurso de Ana Osório é tão desconhecido – ou serei eu que ando desatenta?!