Título: A Cidade e as Serras
Série: -
Autor: Eça de Queirós
Data de Leitura: 26/09/2018 ⮞ 02/10/2018
Classificação: ⭐⭐⭐⭐⭐
Sinopse
José Maria de Eça de Queiroz (Póvoa de Varzim, 25 de novembro de 1845 — Neuilly-sur-Seine, 16 de agosto de 1900), escritor e ensaísta, foi um dos nomes mais importantes da literatura portuguesa. De nome completo José Maria de Eça de Queirós nasceu a Novembro de 1845, numa casa na Praça do Almada, em Póvoa de Varzim. O seu pai, José Maria de Almeida de Teixeira de Queirós, nascido no Brasil e vindo para Portugal com um ano de idade, provinha de uma família de magistrados perseguidos pelos seus ideais liberais que defendiam uma doutrina constitucional. Eça foi internado no Colégio da Lapa, no Porto, de onde saiu em 1861, com dezasseis anos, para a Universidade de Coimbra, onde estudou Direito. Num ambiente boémio da cidade universitária de Coimbra estes jovens reuniam-se para trocar ideias, livros e formas para renovar a vida política e cultural portuguesa, que estava a viver uma autêntica revolução social com a introdução dos novos meios de transportes ferroviários que traziam, todos os dias, novidades do centro da Europa, influenciando esta geração para novas ideologias e valores. Foi nesse grupo que Eça conheceu os futuros escritores e poetas, Teófilo Braga, Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Guilherme de Azevedo, Oliveira Martins, entre outros; mas sobretudo, foi aí que travou amizade com Antero de Quental, um jovem carismático a quem os membros do grupo chamavam de líder e que incentivou os restantes a seguir e a difundir as então recentes correntes ideológicas e literárias europeias: o Positivismo, o Socialismo e o Realismo-Naturalismo. Notabilizou-se pela originalidade e riqueza do seu estilo e linguagem, nomeadamente pelo realismo descritivo e pela crítica social constantes nos seus romances mas, tal como o crítico literário, Jacinto Prado Coelho disse: "foi mais analista social do que psicólogo; ironizou Portugal porque muito o amava e o queria melhor."
Minha review no GoodReads
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Fundação Eça de Queiroz Quinta de Tormes – Baião – Santa Cruz do Douro |
Publicado em 1901, no ano seguinte ao da morte de Eça de Queirós (1845-1900), A Cidade e as Serras foi desenvolvido a partir da ideia central contida no conto Civilização, datado de 1892.
*** Contém Spoilers***
O romance começa com a história de Dom Galeão, que ao andar pelas ruas de Lisboa, escorrega numa casca de laranja e é ajudado por Dom Miguel. Desse dia em diante ele passa a ser simpatizante e defensor do monarca. Com a queda de Dom Miguel e a sua saída de Portugal, Dom Galeão decide que não mais ficará em terras lusas e parte com malas e bagagens para o 202, Campos Elísios, Paris. É aqui que nasce o seu filho, Cintinho, que é uma criança fraca e torna-se um adulto doente. Mesmo assim consegue casar-se e ter um filho, Jacinto.

A cidade e as Serras está dividido em duas partes que nos apresentam dois cenários diferentes: Paris e Tormes.
Paris é símbolo da civilização, da modernidade, da opulência e da arte.
EdQ critica uma sociedade que acredita que a modernidade e a tecnologia são o prenúncio de felicidade e prosperidade, mas que no fundo vive entediada, desinteressada e sem objectivos.
Jacinto, a personagem principal, é um jovem muito rico, saudável, inteligente e cuja máxima filosófica pode ser resumida numa fórmula matemática:
suma ciência x suma potência = suma felicidade
Inicialmente Jacinto é uma personagem cheia de sorte e felicidade, mas cuja vida em Paris acaba por ser desinteressante, levando-o a interessar-se pelas ideias pessimistas de Schopenhauer. É neste estado depressivo que recebe uma carta dando conta de um acidente acontecido numa das suas propriedades, e com o pretexto de trasladar os ossos de seus antepassados, comunica ao seu amigo de sempre, Zé Fernandes, a sua partida para Portugal.
Tormes é símbolo de natureza, fertilidade, vida e felicidade.
Jacinto, o nerd riquinho, chega a Tormes apenas com a roupa do corpo e dá de caras com uma casa destituída de qualquer luxo. É a partir deste momento que se inicia o processo de renovação de Jacinto. Interessa-se pela vida no campo, pela flora, pela pecuária e acaba por promover melhorias nas casas e nos contratos de seus trabalhadores. Jacinto promove uma modernização das serras e estabelece um equilíbrio na sua vida de forma alcançar a suma felicidade. Do casamento com Joaninha, prima de Zé Fernandes, nascem 2 filhos – Jacinto e Teresa.
“- Sua Excelência brotou! (…) Aquele ressequido galho da cidade, plantado na serra, pegara, chupara o húmus do torrão herdado, criara seiva, aprofundara raízes, engrossara o tronco, atirara ramos, rebentara em flores, forte, sereno, ditoso, benéfico, nobre dando frutos, derramando sombra. E abrigados pela grande árvore, e por ela nutridos, cem casais em redor o bendiziam.”
Ler EdQ é sempre enriquecedor - tem uma abundância e variedade de vocabulário impressionantes, tem graça, é irónico sem deixar de ser sério, tem um apurado sentido crítico e uma visão profunda da sociedade, é inovador mas acima de tudo é um génio.