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[Opinião] A Serpente do Essex - Sarah Perry

  



Título: A Serpente do Essex

Série: -

Autor: Sarah Perry

Data de Leitura: 15/12/2018 ⮞ 21/12/2018

Classificação: ⭐


Sinopse

Londres, 1893. Quando o marido de Cora Seaborne morre, a viúva inicia uma nova vida marcada ao mesmo tempo por alívio e tristeza. Não teve um casamento feliz e ela própria nunca se adequou ao papel de mulher da sociedade. Acompanhada pelo filho, Francis – um rapaz curioso e obsessivo –, troca a cidade pelo campo de Essex, onde espera que o ar fresco e os grandes espaços lhe proporcionem o refúgio de que necessita. Quando se instalam em Colchester, chegam-lhe aos ouvidos rumores de que a Serpente do Essex, conhecida por em tempos ter percorrido os pântanos na sua avidez de colher vidas humanas, regressou à aldeia de Aldwinter. Cora, naturalista amadora sem interesse por superstições ou questões religiosas, fica empolgada com a ideia de que aquilo que as pessoas da região tomam por uma criatura sobrenatural possa, na realidade, ser uma espécie ainda por descobrir. Quando decide iniciar a sua investigação é apresentada ao reverendo de Aldwinter, William Ransome. Tal como Cora, Will sente uma desconfiança profunda em relação aos boatos, que considera um fenómeno de terror de caráter moral e um desvio da verdadeira fé. Enquanto Will procura tranquilizar os paroquianos, inicia-se entre ele e Cora uma relação intensa; apesar de os dois não concordarem a respeito de nada, são atraídos e afastados um do outro inexoravelmente, a ponto de isso modificar a vida de ambos de formas inesperadas. Escrito com uma delicadeza e uma inteligência cheias de requinte, este romance é sobretudo uma celebração do amor e das muitas formas que ele pode assumir.


Minha review no GoodReads

Uma serpente de Essex que está mais para anelídeo*.

Um romance histórico passado na Inglaterra vitoriana – 1893 - um ambiente gótico, uma viúva – Cora Seaborne – que finalmente toma as rédeas do seu destino, um mistério que envolve uma criatura misteriosa e o confronto entre ciência e superstição eram ingredientes de eleição para um bom romance.
A juntar a isto a aclamação da crítica que destacava um trabalho de inteligência e encanto, uma autora tão talentosa que nem Dickens e Bram juntos conseguiriam escrever um romance assim.

Só que não!

Durante toda a leitura tive a impressão de que a acção se passava nos nossos dias. Os assuntos abordados são basicamente aqueles que fazem parte da literatura do século XXI – feminismo, bissexualidade, violência doméstica, perturbações mentais e traições conjugais sem culpa. A autora ao tentar incluir muitos temas no romance acabou por não dar profundidade a nenhum deles.
Fiquei com aquela sensação de “muita parra, pouca uva”.
Nenhuma das personagens conseguiu cativar-me. Pareciam actores com roupas do século XIX, e com uma linguagem demasiado moderna para a época retratada.
Cora, que surge como uma mulher moderna, independente e com uma inteligência masculina!! é demasiado perfeita. Ahh! e ainda tem a questão de que todos se apaixonam por ela, todos!!
Como diria Carlos Drummond de Andrade:

“João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.”

Stella, a esposa de Will - que é um vigário muito pouco religioso – é uma daquelas mulheres cujo objectivo de vida é apenas casar e ter filhos. Após ter alcançado essa graça incentiva e aceita com naturalidade que o marido tenha um caso extraconjugal.
O papel de Martha é algo que ainda não consegui enquadrar. É-nos apresentada como a ama de Francis, o filho "autista" de Cora, mas durante toda a história o seu papel é mais político. Ela é marxista, critica a burguesia vitoriana que constrói a sua fortuna sobre os cadáveres dos pobres e o seu grande projecto é melhorar as condições de vida dos trabalhadores pobres de Londres.
A par de Cora as outras duas personagens principais, o vigário William Ransome e o brilhante cirurgião Luke Garrett não me deixaram grandes lembranças para o futuro.

Quanto à Serpente, ou melhor, ao anelídeo, vão ter que ler.



* Minhoca para pesca