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[Opinião] Quarto de Despejo - Carolina Maria de Jesus

  



Título: Quarto de Despejo

Série: 

Autor: Carolina Maria de Jesus

Data de Leitura: 25/07/2018 ⮞ 05/08/2018

Classificação: 


Sinopse

No livro, Carolina Maria de Jesus, uma favelada, escreve um diário narrando o seu dia a dia nas comunidades pobres da cidade de São Paulo. Em sua narrativa, Carolina descreve a dor, o sofrimento, a fome e as angústias dos favelados. Seu texto é considerado um dos marcos da escrita feminina no Brasil. Quarto de Despejo foi traduzido para mais de treze idiomas. O diário descreve as vivências da autora no período de 1955 a 1960.


Minha review no GoodReads


Carolina – Mulher – Negra – Mãe – Favelada – Catadora de Lixo - Escritora

Depois de ter lido O Sol na Cabeça de Geovani Martins tropecei neste Quarto de Despejo. A temática é a mesma, a vida nas favelas.

Carolina Maria de Jesus nasceu na cidade de Sacramento, Minas Gerais, numa comunidade rural, neta de escravos negros e de pais analfabetos.

Aos sete anos recebeu “uma bolsa” de estudos de uma das freguesas da mãe. Fez os dois primeiros anos do ensino e desistiu. Mesmo assim adquiriu o gosto pela leitura e através deste hábito foi desenvolvendo a escrita.

Em 1937 a mãe de Carolina morre e esta resolve partir para a capital do estado, São Paulo.
Entre empregos informais e trabalhos domésticos consegue ver um poema seu, em louvor de Getúlio Vargas, publicado no jornal “A Folha”.

Em 1947 mudou-se para a extinta favela do Canindé, na zona norte de São Paulo, num momento em que começavam a surgir as primeira favelas – hoje é onde se encontra o Estádio do Canindé cuja propriedade é do clube Associação Portuguesa de Desportos - construiu o seu barraco, utilizando madeira, latas, papelão e qualquer material que encontrava. Saía todas as noites para catar papel, a fim de conseguir dinheiro para sustentar a família. Quando encontrava revistas e cadernos antigos, guardava-os para escrever nas suas folhas.

Neste Quarto de Despejo, que não é mais do que um diário, ela esmiúça o quotidiano dos moradores da favela e, sem rodeios, descreve os factos políticos e sociais que via, detalha as suas dores e os absurdos da vida que levava em condições de extrema marginalização. Ela escreve sobre como a pobreza e o desespero podem levar as pessoas de boa índole a trair os seus princípios simplesmente para conseguirem comida para si e para as suas famílias.

Em Abril de 1958 Audálio Dantas, um jornalista do jornal A Folha da Noite, inicia as pesquisas para fazer uma reportagem sobre a favela do Canindé e quando aborda os moradores daquele lugar todos eles lhe dizem que deveria falar com Carolina. No meio daquela miséria ele lê os textos de Carolina e resolve publicá-los assim mesmo, sem alterações, apenas com algumas correcções para um melhor entendimento por parte dos leitores.

Presentes ao longo destas pouco mais de cento e cinquenta páginas estão a indignação, a pobreza, a marginalização, o racismo, os desgostos, a dor, a descriminação e fome, muita fome.
O sucesso deste livro foi grande mas rapidamente a autora voltou à sua condição de catadora de lixo.

A força deste livro não está na prosa mas na autenticidade com que foi escrito. É um livro triste e profundamente humano.

Como documento histórico tem um grande valor, mas como livro não vale grande coisa.