Título: Teoria Geral do Esquecimento
Série: -
Autor: José Eduardo Agualusa
Data de Leitura: 08/07/2020 ⮞ 11/07/2020
Classificação: ⭐⭐⭐⭐⭐
Sinopse
Luanda, 1975, véspera da Independência. Uma mulher portuguesa, aterrorizada com a evolução dos acontecimentos, ergue uma parede separando o seu apartamento do restante edifício - do resto do mundo. Durante quase trinta anos sobreviverá a custo, como uma náufraga numa ilha deserta, vendo, em redor, Luanda crescer, exultar, sofrer. Teoria Geral do Esquecimento é um romance sobre o medo do outro, o absurdo do racismo e da xenofobia, sobre o amor e a redenção.
Minha review no GoodReads
O céu de África é muito maior do que o nosso, explicou à irmã. Esmaga-nos.(…)
O nosso céu é o vosso chão.
Sinto medo do que está para além das janelas, do ar que entra às golfadas, e dos ruídos que traz. Receio os mosquitos, a miríade de insetos aos quais não sei dar nome. Sou estrangeira a tudo, como uma ave caída na correnteza de um rio.Não compreendo as línguas que me chegam lá de fora, que o rádio traz para dentro de casa, não compreendo o que dizem, nem sequer quando parecem falar português, porque este português que falam já não é o meu.Até a luz me é estranha.Um excesso de luz.Certas cores que não deveriam ocorrer num céu saudável.Estou mais próxima do meu cão do que das pessoas lá fora.
Todos podemos, ao longo de uma vida, conhecer várias existências.Eventualmente, desistências. Aliás, o mais habitual. Poucos, contudo, têm a possibilidade de vestir uma outra pele.
As pessoas não veem nas nuvens o desenho que elas têm, que não é nenhum, ou que são todos, pois a cada momento se altera. Veem aquilo por que o seu coração anseia.Não vos agrada a palavra coração?Escolham outra: alma, inconsciente, fantasia, a que acharem melhor.Nenhuma será a palavra adequada.
Deus pesa as almas numa balança. Num dos pratos fica a alma, no outro as lágrimas dos que a choraram. Se ninguém a chorou, a alma desce para o inferno. Se as lágrimas forem suficientes, e suficientemente sentidas, ascende para o céu.(…)Vão para o Paraíso as pessoas de quem os outros sentem a falta. O Paraíso é o espaço que ocupamos no coração dos outros. Isto era o que me contava a minha avó. Não acredito. Gostaria de acreditar em tudo o que é simples – mas careço de fé.