Título: Esta Ferida Cheia de Peixes
Série: -
Autor: Lorena Salazar Masso
Data de Leitura: 08/04/2023 ⮞ 16/04/2023
Classificação: ⭐⭐⭐⭐
Sinopse
Um maravilhoso romance de estreia sobre raízes, medo e maternidade em um contexto de violência.
Este é o livro da subida de um rio. Uma mãe branca, com o seu filho negro, sobe o rio Atrato, na Colômbia. Vai levar o filho que criou à mãe negra biológica. Quererá a mãe negra reclamar agora a criança?
É uma viagem, mas é também uma reflexão sobre a beleza e a dor da maternidade. O que é uma mãe? Uma mãe – diz-nos este romance – é uma coisa que dói. É ferida e cicatriz, é fingir que vences o medo.
Na viagem, surgem os outros protagonistas da história: o rio, que abençoa e afoga; o sentimento profundo de pertença a uma paisagem; as relações de cumplicidade das mulheres; a violência terrível da selva colombiana; a dificuldade de se ser mulher e mãe num mundo cheio de perigos.
Um fulgurante romance de estreia que cheira a verdade. Uma prosa comunicativa e um lirismo que criam uma atmosfera viciante. Esta Ferida Cheia de Peixes oferece-nos um mundo às vezes sonhador, por vezes muito realista, em que a ternura das imagens toca o leitor, abrindo-lhe feridas difíceis de sarar.
Minha review no GoodReads
Esta Ferida Cheia de Peixes é a história de uma viagem feita por uma mãe e o seu filho ao longo do rio Atrato.
Uma mulher que se tornou mãe porque uma outra mulher não podia sustentar mais uma criança para além das três que já tinha, e por isso deixou o seu filho mais novo para ela tomar conta. Assim, nem grávida nem pronta para ser mãe, começou a maternidade de uma mulher branca com uma criança negra.
– Porque é que eu sou preto e tu branca?– perguntou-me. (…)
Talvez lhe tivesse dito que no mundo há pessoas de muitas cores e que, ao misturarem-se, nascem cores novas.
Determinada a cuidar do menino, decidiu fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para lhe dar tudo o que ele precisava.
Uma mulher torna-se mãe quando o seu bebé chora pela primeira vez, quando os documentos de adopção são aprovados, quando alguém deixa um filho em cima da sua cama como se fosse uma florzinha murcha. Acontece. Ser mãe é algo que acontece.
Um dia, recebeu uma mensagem de que a mãe biológica quer ver o seu filho, o que levantou questões sobre o futuro da criança ao seu lado. Contudo, reconhecendo o direito da mãe ver o seu filho, concordou em viajar para que ela o pudesse ver e esperar por futuras decisões.
– (...) Mas, se ias pra Bellavista, por que razão não apanhaste um barco rápido, dos que chegam em sete horas? (…)
– Não quero chegar. Se fosse possível, teria ido a remar. Vou a Bellavista porque a mamã biológica quer ver o meu menino. Quer que ele lhe mostre os seus brinquedos, o dente a abanar, a cicatriz no cotovelo, porque o meu menino partiu a mão há dois anos. Ela não sabe, mas ele vai contar-lhe. Quer olhá-lo nos olhos, tocar-lhe a orelha, beijá-lo na testa, talvez verificar se está bem de saúde, se tenho tratado bem dele.
A viagem pelo rio Atrato torna-se uma aprendizagem, e está cheia de respostas com memórias daquela mãe quando tinha vindo com a sua família branca para uma aldeia de negros que dependiam do rio para comer, para se deslocarem ou para lavarem as suas roupas.
No barco, e à medida que a viagem avança, conhecemos outros passageiros que também têm os seus próprios problemas e em algumas partes da viagem procuram ajuda ou partilham as suas mágoas. A cultura popular está muito presente, as tradições e costumes dos habitantes, a música que os viajantes ouvem quando param para comer ou descansar.
Quando chegam ao destino a realidade da história recente da Colômbia junta-se ao trágico fado do menino.
Ouvem-se os primeiros tiros do dia, parecem mais próximos do que os de ontem. Nas últimas semanas quiseram juntar-se ao canto dos pássaros, como se a invasão fosse qualquer coisa de natural.
É uma história que fala sobre maternidade, medo e violência. É uma história simples, cheia de cores, aromas e sabores da selva amazónica e do rio Atrato, e ao mesmo tempo esmagadora e profundamente triste.