Título: Um defeito de cor
Série: -
Autor: Ana Maria Gonçalves
Data de Leitura: 31/01/2023 ⮞ 27/03/2023
Classificação: ⭐⭐⭐⭐
Sinopse
Fascinante história de uma africana idosa, cega e à beira da morte, que viaja da África para o Brasil em busca do filho perdido há décadas. Ao longo da travessia, ela vai contando sua vida, marcada por mortes, estupros, violência e escravidão. Inserido em um contexto histórico importante na formação do povo brasileiro e narrado de uma maneira original e pungente, na qual os fatos históricos estão imersos no cotidiano e na vida dos personagens, UM DEFEITO DE COR, de Ana Maria Gonçalves, é um belo romance histórico, de leitura voraz, que prende a atenção do leitor da primeira à última página. Uma saga brasileira que poderia ser comparada ao clássico norte-americano sobre a escravidão, Raízes.
Minha review no GoodReads
Uma empreitada! Foram 952 páginas…novecentos e cinquenta e duas páginas, e 2 meses de leitura.
A curiosidade é aguçada logo no prólogo. A autora diz que a narrativa histórica foi construída através de manuscritos encontrados na Ilha de Itaparica, BA. Será verdade?
O defeito de cor era um conceito exigido de liberação racial comum no século XIX. Na época, se configurava a racialidade nas questões positivistas, como se pessoas racializadas, indígenas e negras, pudessem ter na sua constituição biológica algo que fosse um defeito, como pouca inteligência, por exemplo.
O romance é uma longa carta na qual Kehinde conta a sua vida quando, já idosa e cega, refaz a viagem da África para o Brasil, na esperança de reencontrar o filho de quem foi separada há muitos anos.
Mas a história começa lá bem atrás quando Kehinde, ainda criança, perde a mãe e o irmão e é capturada e levada para o Brasil como escrava, junto com a sua avó e a sua irmã gémea Taiwo, a bordo de um navio negreiro, o chamado tumbeiro.
A cerimónia de baptismo dos escravos lembrou-me aquela série, dos anos 80, Raízes, em que Kunta Kinte, tal como Kehinde, se recusa a aceitar o seu nome de escravo.
Ao longo da travessia de regresso ao Brasil, Kehinde conta-nos a sua vida, marcada por mortes, estupros, violência e escravidão, mas também de muito trabalho, resiliência, solidariedade, luta e empreendedorismo. Kehinde é uma personagem forte e determinada, inteligente, generosa e que mesmo diante das dificuldades não desiste dos seus objectivos.
A obra é rica em detalhes históricos e culturais, oferece uma visão aprofundada sobre a escravidão no Brasil do século XIX, bem como sobre a cultura e as crenças religiosas dos africanos escravizados.
A leitura flui muito bem até mais ou menos metade do livro, depois pouco ou nada acontece. Ou melhor, há uma excessiva narração de pequenos eventos históricos, com personagens avulsas, descrições detalhadas e intermináveis sobre religiões afro que nada acrescentam à trama.
É um livro muito bem escrito, com riqueza de detalhes, em que a autora não deixa pontas soltas, e que se tivesse menos páginas – umas 400 - seria um bom candidato a clássico.