Título: O Teu Rosto Será o Último
Série: -
Autor: João Ricardo Pedro
Data de Leitura: 17/02/2023 ⮞ 21/02/2023
Classificação: ⭐⭐⭐⭐⭐
Sinopse
Tudo começa com um homem saindo de casa, armado, numa madrugada fria. Mas do que o move só saberemos quase no fim, por uma carta escrita de outro continente. Ou talvez nem aí. Parece, afinal, mais importante a história do doutor Augusto Mendes, o médico que o tratou quarenta anos antes, quando lho levaram ao consultório muito ferido. Ou do seu filho António, que fez duas comissões em África e conheceu a madrinha de guerra numa livraria. Ou mesmo do neto, Duarte, que um dia andou de bicicleta todo nu. Através de episódios aparentemente autónomos - e tendo como ponto de partida a Revolução de 1974 -, este romance constrói a história de uma família marcada pelos longos anos de ditadura, pela repressão política, pela guerra colonial. Duarte, cuja infância se desenrola já sob os auspícios de Abril, cresce envolto nessas memórias alheias - muitas vezes traumáticas, muitas vezes obscuras - que formam uma espécie de trama onde um qualquer segredo se esconde. Dotado de enorme talento, pianista precoce e prodigioso, afigura-se como o elemento capaz de suscitar todas as esperanças. Mas terá a sua arte essa capacidade redentora, ou revelar-se-á, ela própria, lugar propício a novos e inesperados conflitos?
Minha review no GoodReads
O romance conta-nos a história de três gerações da família Mendes, e tem como pano de fundo alguns períodos importantes da nossa história.
Tudo tem início (…) no dia vinte e cinco de abril de mil novecentos e setenta e quatro, faltaria ainda um bom bocado para as sete da manhã, Celestino apertou a cartucheira à cintura, enfiou a Browning a tiracolo, verificou o tabaco e as mortalhas, esqueceu-se do relógio pendurado num prego que também segurava um calendário e saiu porta fora.
Celestino não é a personagem principal, mas sim Duarte, neto de Augusto Mendes (médico) e filho de António (ex-combatente da guerra colonial)
É através de fragmentos de histórias, que se cruzam e interligam, que tentamos compor o mosaico.
O Policarpo, que se recusa a ficar num Portugal dominado por Salazar, prefere viajar, e envia cartas todos os anos, no mês de Agosto, para o amigo Augusto a comunicar em que lugar do mundo se encontra.
A amizade de Duarte com Índio, e o fim da mesma.
Duarte um excelente pianista cuja genialidade será bruscamente interrompida por razões misteriosas.
Luísa, a mãe de Duarte, cuja história também é trágica. O pai assassinado pelo regime, e a mãe vitima de um acidente bizarro.
Ser órfão é ficar para sempre à espera numa mesa de café
O episódio do quadro de Bruegel, e todas as suas derivações foi o que mais gostei.
E no fim, quando as personagens e nós leitores estamos quase a colocar a última peça do puzzle, a descobrir uma das últimas relações, a página que iria revelar o segredo não está lá…e o livro não se fecha.